Capítulo 27

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No dia seguinte, ainda era feriado. Acordei antes do meio dia, o que era um milagre para mim quando não havia aula. Meus pais não estavam em casa e Maria me alimentou até melhor do que minha mãe – eu só não podia falar isso em voz alta para dona Silvia.

Assim que terminei o café, tomei um banho e fui assistir televisão na sala, mas não me concentrei. Só conseguia ficar vendo o álbum de fotos que eu não via a hora de dar para Alice. Maria, enquanto limpava o apartamento, disse que eu estava mudado e parecia mais feliz.

Eu estava mais feliz e o motivo era Alice. Alice estava mais feliz e o motivo era eu. O que nos impedia de ficar juntos? Eu precisava vê-la urgente, pois precisava contar para ela o que estava sentindo.

No momento em que eu ia me levantando para ir ao apartamento dela, minha mãe entrou em casa. Nem dei muita atenção e ia sair assim mesmo, mas ela me puxou pelo ombro, impedindo minha passagem pela porta.

– Epa – disse ela, repreensiva. – Aonde você acha que vai?

– Eu... – hesitei, sem saber o que dizer.

Minha mãe sorriu e estendeu para mim um jornal que eu nem havia percebido que ela estava carregando.

– Mãe, estou sem tempo para...

– Raphael! – ela gritou, desaprovando completamente meu comportamento. – Deixe de ser apressadinho e dê uma olhada em quem está na capa – Ela estendeu mais uma vez o jornal para eu pegar.

A foto que aquele fotógrafo havia tirado de mim e de Alice no bloco estava na primeira página com a manchete: "Carnaval inspira casais no Bloco da Maisena". Havia fotos de vários casais, mas a minha e de Alice se destacava sendo a maior.

– Não acredito! – gritei, olhando assustado para o jornal. – Preciso mostrar para Alice agora!

– Você já vai sair de novo? – perguntou ela, decepcionada.

Dei um beijo na bochecha da minha mãe.

– Volto já.

E só deu tempo de ouvir ela resmungar para Maria:

– Viu? Eu disse que ele não para mais em casa.

...

Alice estava usando uma calça e uma blusa de dormir, o cabelo preso em seu coque habitual e com uma cara de sono. Ela se assustou ao me ouvir gritar estendendo o jornal:

– Nós estamos na capa!

Ela estreitou os olhos para enxergar o que estava escrito e, arregalando-os ao máximo, gritou:

– O que? – E tomou o jornal da minha mão.

Entrei no apartamento dela e fechei a porta atrás de mim. As flores ainda estavam em cima da mesa.

– Que legal! – disse ela, olhando atentamente para o jornal com um sorriso nos lábios. Depois sentou-se no sofá e eu a acompanhei.

– Parece que somos um casal regional.

Alice deixou os olhos semicerrados para me encarar com deboche.

– Nem aqui e nem em lugar nenhum.

Eu ri.

– Não foi isso que aquele beijo pareceu.

Ela não se conteve e também riu, deixando-me confuso. Espera aí, ela não me bateu ou me repreendeu?

Depois, ela deixou o jornal no sofá e foi até a cozinha. Eu estava escondendo o álbum de fotos embaixo da perna por falta de coragem de dar para ela.

Deixe-me entrar, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora