Capítulo 10

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Voltamos para o prédio sem conversar sobre nada, a não ser por cantarmos todas as músicas que conhecíamos de Lambchop. Ríamos quando eu errava a letra e ela me corrigia, ou então quando eu errava no inglês e ela também me corrigia. O trajeto, que a princípio era longo, tornou-se rápido simplesmente por que nos divertimos.

Eu havia visto Alice rir mais de uma vez naquela noite, o que aumentou minhas especulações sobre ela não ser um bicho de sete cabeças. Muito pelo contrário: ela se mostrou muito divertida. Houve um momento em que ela tropeçou e, se não fosse por mim, teria caído no chão. O decote do vestido dela ficou visível sob mim quando a segurei firme. Seus seios rígidos estavam espremidos na roupa e ela tratou de cobri-los o mais rápido possível.

Alice ficou vermelha e virou para o lado. A situação também me constrangeu e eu não soube o que dizer. Mais uma vez, ela não me agradeceu por minha boa ação. Apesar de tudo isso, eu torcia para ter alegrado sua noite, que, a princípio, tinha sido péssima. Finalmente chegamos ao nosso prédio.

Olhei para o relógio na parede da portaria e vi que ainda não era nem meia-noite. Tinha ficado pouco tempo na festa. Fiquei impressionado comigo mesmo, pois nunca tinha voltado tão cedo de uma festa. Minha mãe iria ficar muito feliz, porém meus amigos certamente me encheriam de perguntas. Na sociedade em que eu vivia – incluído no grupo de mais ricos e populares da escola –, se eu faltasse a uma festa sequer estava excluído de tudo. Faltar a esse conjunto de bebida, sexo e mulher na casa de Leandro era uma ofensa. Ainda mais quando o maior organizador de festas adolescentes era seu melhor amigo.

Alice e eu pegamos o elevador e este parou primeiro no 8° andar. Estava tudo bem, até a porta não abrir. Olhei para Alice e sua expressão era a mesma que a minha: apavorada. Estávamos presos.

– O que foi isso? – berrou ela, os olhinhos azuis cintilantes virando de um lado para o outro. – Por que a porta não abre?

O elevador estava parado. Senti um pânico percorrer todo o meu corpo porque eu não sabia o que fazer.

– Faça algo! – grunhiu Alice para mim. Há um minuto atrás, ela estava com a expressão alegre e divertida; agora, com raiva e pavor.

– O que você quer que eu faça? – devolvi, com o mesmo tom zangado.

Ela revirou os olhou e me fitou como se eu fosse inútil. Que garota de humor oscilante. A vontade que eu tive foi de jogá-la na parede e dar-lhe um beijo para ela parar de agir de uma forma tão autoritária, mas a vontade passou quando as luzes começaram a piscar até apagarem de vez. Eu e Alice gritamos na mesma hora e ela, automaticamente, começou a esmurrar a porta do elevador e a gritar com toda força: "Socorro!".

Eu também estava com medo – e se o elevador despencasse? Comecei a bater na porta e a gritar várias coisas como: "Socorro!", "Estamos presos!", "Alguém ajuda, por favor!". Não havia resultado algum – era meia-noite e a maioria das pessoas devia estar dormindo. O meu celular estava sem serviço.

– Essa foi a pior noite da minha vida! – resmungou Alice, ainda batendo com força na porta.

Ao ouvir isso, senti-me péssimo, pois, apesar de tudo, havia me divertido ao lado dela. Gotas de suor já começavam a descer pelo meu corpo. Não sabia mais quanto tempo aguentaria aquilo.

Após alguns minutos, eu já tinha desistido de pedir ajuda e sentei-me no chão, ouvindo Alice me xingar, dizer que eu não servia para nada e perguntar se eu realmente iria ficar parado. Mas não havia nada mais para fazer.

O calor estava começando a ficar insuportável ali dentro, então tirei minha camiseta, já encharcada de suor.

– O que você está fazendo? – perguntou ela, olhando para meu corpo nu.

Deixe-me entrar, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora