Capítulo 09

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Mal dava para entender o que ele falava, pois, além de enrolar muito a língua, ele não parava de rir. Não sei quanto tempo se passou até que eu virasse e olhasse para a porta. Todos pararam o que estavam fazendo e começaram a rir da figura parada lá. Se Leandro não tivesse me dito que Carol e Juliana resolveram brincar com Alice, eu jamais a teria reconhecido.

Alice estava parada na porta com uma roupa estilo de rock, igual aquelas que a Cindy Lauper usava. Um vestido de várias camadas, tipo tutu, vários acessórios coloridos fluorescentes, botas até a altura das canelas, meia-calça rosa e uma peruca – também rosa – bagunçada.

Não sei se fiquei mais impressionado com a fantasia ou com o fato de Alice ter marcado presença, mas devo ter ficado vários minutos de boca aberta olhando para ela. Enquanto todos gargalhavam, Alice olhava para os lados, parecendo não acreditar no que estava acontecendo e, antes de sair dali correndo, cravou os olhos em mim e Carol no sofá. Não foi uma cena agradável de se ver, pois Carol estava com as pernas em cima de mim e o rosto grudado no meu, caindo na gargalhada. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Alice retirou-se do local.

– Eu não acredito no que acabei de ver! – berrou Carol, limpando uma lágrima que descia dos olhos.

Eu não tinha achado graça nenhuma naquela brincadeira. Aparentemente, eu era o único que não havia sorrido.

– Foi você que armou isso, não foi? – Soltei-me de Carol, levantando-me do sofá e chegando o mais longe dela possível por conta da raiva que percorria meu corpo.

Sua expressão ficou em choque.

– Foi só uma brincadeira, Raphael! E eu nem sabia que ela viria!

Fiz que não com a cabeça, olhando para ela com desdém, e caminhei em direção à porta. Só deu tempo de ouvir:

– Qual é, Raphael! Aonde você vai?

...

A busca por Alice não foi fácil. Do lado de fora da casa, ainda havia pessoas rindo e bebendo. Até passei por um casal dando uns amassos encostados em um carro. Perguntei a uns adolescentes desconhecidos se haviam visto Alice e um disse:

– Uma esquisitona que veio fantasiada? Foi para lá – Ele apontou para o lado esquerdo da rua.

– Ela não deve ter ido longe. Obrigado.

Corri tanto que me cansei. Queria me desculpar com Alice, pois ela não merecia aquilo, mesmo sendo estúpida e mal-educada. Sem vontade de voltar para a festa, sentei-me em uma calçada a dois quarteirões da casa de Leandro. Sem sinal de Alice. Eu havia corrido em vão.

Um soluço abafado vindo detrás de um carro na outra calçada renovou minhas esperanças. Levantei-me de uma vez e andei em direção ao choro. Ao chegar lá, encontrei Alice sentada no chão com a cabeça entre as pernas e a peruca deixada de lado na rua. Chorava baixinho.

Ela levantou o rosto e sua expressão mudou repentinamente para raiva. Seus olhos estavam vermelhos e inchados e uma tinta preta percorria pela sua bochecha até o pescoço. Os cabelos loiros, amarrados, estavam suados e bagunçados.

– Você... Você e aquela garota... Parabéns! Estão felizes? Além de ser a estranha da escola, ninguém vai me deixar em paz de agora em diante – Ela praticamente cuspiu as palavras, com a voz ainda de choro. Levantou-se do chão e veio em minha direção com os punhos cerrados, na intenção de acertar meu peito, mas eu a contive.

– Ei! – Segurei seus braços, mas ela botou uma força tão grande que perdi até o equilíbrio. – Ei! – falei mais alto, enquanto ela tentava me dar murros. – Eu não tive nada a ver com isso!

Deixe-me entrar, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora