Intro

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Eu amo ter novas experiências.

Sou o tipo de pessoa que não tem problema em iniciar algo novo, assim como não tenho dificuldade de fazer novos amigos, me mudar pra outra escola ou mesmo outra cidade. Não que eu não fosse apegado ao que já tinha, mas não tinha dificuldade de desapegar, mudar de cenário de vez em quando. Eu ficava entediado muito fácil, então, pra mim, era bom o fato de o meu pai ter um emprego que o obrigava a estar mudando sempre. O máximo que eu já permaneci em uma mesma escola foram três anos - coincidentemente os três últimos - e eu achei que conseguiria concluir na mesma, já que só faltava um ano para eu me formar, mas coisas aconteceram.

Desta vez, eu precisei mudar de escola. Não pelo emprego do meu pai e sim porque eu não estava mais aguentando frequentar o mesmo lugar que Kim Kibum.

Eu estava no meu segundo ano naquele colégio quando resolvi que era seguro começar a criar laços reais com alguns amigos que eu já havia feito. Com isso, acabei dando espaço para algo a mais do que amizade pela primeira vez, aceitando o convite de Kibum para sairmos. Os primeiros meses foram ótimos. Ele era divertido e nós nos dávamos bem, sem contar que os beijos eram até que bons - pra minha pouca experiência, já que eu quase nunca me deixava passar de um encontro com ninguém e, sendo gay, não se sabia em quem você podia confiar; consequentemente, eu havia beijado poucos caras.

Mas então as coisas começaram a andar e eu percebi que não queria aquilo.

Eu gostava de Kibum. E sair com ele, dar uns beijos, era legal, mas eu não queria que aquilo fosse além. Simplesmente eu não queria que fosse com ele. Evitei o máximo que eu pude, até pra tentar ver se eu conseguiria desenvolver aquele tipo de sentimento por ele, mas não consegui.

Um dia, voltando da escola, eu o peguei com a cara de um de nossos amigos enfiada no meio das pernas dele. O mais estranho foi que eu não senti nada ao ver aquilo. Talvez um pouco de nojo, mas nenhum coração quebrado, vontade de chorar, arrependimento. Nada.

Terminei com ele ali mesmo, enquanto ele puxava as calças e tentava argumentar e implorar pra que eu o escutasse. E eu só sabia dizer pra que ele ficasse longe de mim. Não estava chateado e percebi que, no final das contas, eu não gostava mesmo dele. Mas, ainda assim, foi uma traição e eu não aceitaria aquilo.

O deixei chorando naquele beco atrás da escola e fui pra casa.

Os dias que se sucederam é que foram um real inferno pra mim.

Kibum simplesmente não aceitava que eu tivesse terminado com ele e não me deixava em paz um minuto sequer. Eu o evitava na escola, mas ele sempre me encontrava. Eu ignorava suas ligações, mas ele continuava ligando e mandando mensagens. Eu fugia dele na saída e na entrada. Chegou a um ponto no qual eu me enfiei dentro de um táxi e pedi pra que o motorista me levasse pra longe dali porque eu estava prestes a ter um ataque de pânico com toda aquela perseguição.

Eu não queria que ele me pedisse desculpas, que ele me prometesse o mundo, que ele fizesse castração química por mim. Eu só queria não ver mais a cara dele. Simples assim.

Naquele dia, o taxista me deixou em um pequeno parque, um pouco afastado do lado da cidade em que eu morava e eu passei a tarde toda ali. Sentado em um balanço e pensando no que eu faria da minha vida agora que se tornou insuportável frequentar aquela escola.

Ouvi um barulho de sinal ao longe e vi que, do outro lado da rua, havia um colégio e aquela era a hora da saída. Observei alguns alunos saindo e se dispersando, outros até atravessaram e vieram para o parque, e todos pareciam ser da minha idade.

Anotei o nome da escola e fui pra casa decidido.

Ainda precisei aturar mais alguns meses até o fim daquele semestre porque meu pai se recusava a me trocar de escola assim no meio do ano letivo sem um motivo plausível. Pensei em inventar que estava sofrendo bullying, já que não podia falar o motivo real pelo qual eu queria sair dali, mas achei melhor não. Nunca gostei de mentir, ainda mais com um assunto sério como esse. Minha cota de mentira já era gasta em fingir que não gosto de meninos e os meses que fingi estar gostando quando Kibum passava a mão em mim. Não era que eu odiasse, mas, também, não me causava absolutamente nada. Já cheguei a cogitar se eu era realmente gay, já que eu nunca realmente me excitei muito quando ficava com caras assim do nada. Eram sempre eles que, em uma ficada, já estavam apaixonados por mim, enquanto que eu não poderia me importar menos. Mas, quando sentava para assistir algum filme no qual os principais eram gays e ficavam de amorzinho, aquilo me fazia corar e meu coração batia tão forte que, sim, eu só podia ser gay mesmo. Talvez eu só não tivesse achado o cara que fosse meu tipo ideal ainda. Aquele que faria meu coração acelerar, meu rosto corar e meu corpo esquentar com apenas o toque de suas mãos nas minhas.

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