Bosque

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Eu ainda estava meio desnorteado quando cheguei em casa.

Minha mãe me perguntou como foi enquanto colocava o jantar pra gente e eu respondi apenas o básico, como sempre, dizendo que havíamos almoçado e feito o trabalho durante a tarde inteira, o que não era mentira. Ela não questionou se os pais de Hyukjae estavam em casa ou quem ele era.

Desconfio que seria diferente se fosse uma garota.

Às vezes, eu me perguntava se, no fundo, meus pais sabiam ou desconfiavam da minha sexualidade. Mas, também, não havia muito o que questionar, já que eu nunca levei absolutamente ninguém pra eles conhecerem. Primeiro porque nunca ficávamos tempo suficiente pra isso e, quando ficamos, eles já estavam acostumados em não saber com quem eu andava.

Contanto que minhas notas permanecessem boas e eu estivesse em casa no horário, eles não se preocupavam. Pra mim isso era até uma vantagem. Não precisar explicar quando eu ia pra casa do Kibum no meio das férias era um alívio, se quer saber.

Terminamos de jantar e eu lavei a louça antes de subir pro meu quarto.

Como se pressentisse, assim que sentei na cama após o banho - a água já tinha voltado, obviamente - meu celular tocou.

Por um segundo, achei que fosse Hyukjae, mas seria impossível já que não trocamos número.

Era Ryeowook.

- Oi, Wook - atendi me aconchegando no travesseiro.

- Donghae! Como foi hoje?

- Foi um estresse só! Acordei sem água, me atrasei pro colégio, tive que tomar banho no vestiário, o que causou em eu perder todo o intervalo e acabar ficando sem comer!

- Muito triste mesmo. Mas eu perguntei pra saber como foi com Hyukjae.

Meus olhos arregalaram na mesma hora.

- Ah... f-foi normal. Fomos pra casa dele, almoçamos e fizemos o trabalho.

- Só isso?

- Só...

- Donghae.

- Não... - suspirei. Não adiantaria tentar esconder nada de Ryeowook - Ele me propôs que, em troca de eu ser o tutor dele em história, ele fingiria ser meu namorado pra manter o Kibum longe.

- MENTIRA - berrou e eu afastei o telefone pra evitar uma possível surdez - CARALHO, DONGHAE - gargalhou e eu revirei os olhos, colocando o celular no ouvido de novo.

- Pois é. Mas eu não aceitei.

- O QUÊ?!

- Eu disse que ia pensar. Eu não sei se é uma boa ideia, Wook.

- Por que não?! É a única forma de manter o Kibum longe!

- Sim, mas também implica em eu assumir um relacionamento na escola, com o cara mais popular. Vale citar que ele é capitão do time de futebol da escola.

- E qual é o problema?

- Um casal gay, Ryeowook. Na escola. Ensino médio. Você acha mesmo que vai ser às mil maravilhas? Vamos ser deixados em paz? Ele talvez, mas eu vou ser o novato que transformou o maior partido da escola em viado.

- Acho que você está exagerando.

- Ryeowook. Você sabe que não estou.

- Tá, pode até ser que vocês sofram algum tipo de retaliação, mas é melhor do que você ficar à mercê do Kibum.

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