Família

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A vida é feita de escolhas.

Às vezes, uma escolha que parece ideal, ao mesmo tempo, te deixa com um pouco de medo do resultado que ela pode ter.

Eu queria, mais do que tudo, poder ver a minha mãe, voltar pra minha casa e ter minha família novamente. Mas, ao mesmo tempo, eu tinha medo do que aquilo poderia implicar.

E se ela não me quer de volta e sim só está preocupada, mas, quando eu chegar lá, vai me trancar e me proibir de ver Hyukjae? Ou me bater?

E meu pai? O que ele faria se me visse na sua frente de novo? O que o impediria de me dar outro tapa? Ou outros tapas.

Cada passo que eu dava em direção à casa de Heechul, uma nova enxurrada de dúvidas e medos me consumia. Ao ponto de eu cogitar, realmente, não voltar pra casa.

Quando entramos, Hyukjae foi comigo até o nosso quarto e fechou a porta, me abraçando assim que ficamos à sós.

Eu envolvi sua cintura com força e afundei o rosto no seu peito até não conseguir respirar.

- Quer conversar? - ele perguntou quando virei a cabeça pra inspirar um pouco de oxigênio e eu apenas neguei, a chacoalhando - Você não quer mais ir pra casa? - neguei novamente - Quer deitar um pouco? - então eu afirmei.

Hyukjae pegou meus pulsos e os subiu até meus braços estarem envolvendo seu pescoço, então segurou na parte de trás das minhas coxas e me pegou no colo. Eu envolvi sua cintura com as minhas pernas e afundei o rosto no seu pescoço, inalando seu cheiro que sempre me acalmava. Ele me deitou na cama, afrouxou minha gravata, desabotoou o primeiro botão da minha blusa e deu um beijo na minha testa antes de se afastar pra afrouxar suas roupas também. Então deitou do meu lado e me puxou pela cintura até minhas costas grudarem no seu peito e eu sentir um arrepio. Me encolhi, sentindo um frio quase anormal, e ele puxou o lençol até nos cobrir por completo; até a cabeça.

E ficamos ali dentro daquele casulo sem dizer nada enquanto, na minha cabeça, eu me afundava nas minhas paranoias.

Eu ouvia os sons que vinham de fora do quarto; eventualmente, uma risada alta de Heechul, ou passos, ou alguma panela batendo, sons normais de uma casa habitada; e me peguei pensando em como era igual à minha.

Não tinha a gargalhada de Heechul, mas tinham os barulhos dos passos dos meus pais - eu reconhecia a forma dos dois de pisar antes mesmo de ouvir suas vozes no corredor. Minha mãe sempre batia panela ou prato enquanto preparava alguma refeição. Às vezes, até me acordava do meu sono da tarde e eu passava o resto do dia de mau humor. Então meu pai chegava, nós jantávamos e eu podia ouvir a TV da sala ligada enquanto fazia lição no meu quarto antes de dormir. Não éramos uma família perfeita, acho que meu relacionamento com eles nunca foi o mais saudável, justamente pela falta de comunicação que sempre tivemos. E as mudanças constantes desde a infância, com certeza me afetaram de maneira negativa - mais do que eu gostaria de admitir - mas éramos uma família. E eu amava eles.

Ainda amo.

Meu pai não era o mais presente, muito menos o mais amoroso, mas fazia questão de estar à par das minhas notas e sempre se lembrava de me parabenizar pelas minhas conquistas. Minha mãe, apesar de não ser muito carinhosa, sempre se preocupou e zelou pelo meu bem estar e segurança.

Me peguei lembrando de quando desmaiei e minha mãe cuidou de mim. Do jeito dela, apenas com a sua presença e uma sopa, mas cuidou. Eu ficava doente muito fácil, então, não foram poucas as noites em claro que ela passou, checando minha temperatura e me medicando.

Meus pais não eram ruins, tem muitos piores por aí e era por isso que doía tanto ser rejeitado por eles, simplesmente, por amar outra pessoa.

Só percebi que estava chorando quando solucei e Hyukjae apertou os braços em volta de mim.

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