A proposta

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Eu acordei mal conseguindo abrir meus olhos de tão inchados.

Fui até o banheiro e, quando abri a torneira, nenhuma água saiu da mesma.

Estávamos sem água.

Gemi frustrado e desci as escadas batendo o pé. Meus pais estavam na cozinha e minha mãe tentava preparar o café da manhã com a água que tinha na geladeira.

- Como eu vou tomar banho? - perguntei chegando sem nem dar bom dia e ignorei o olhar de reprovação do meu pai.

- Querido, tome na escola, ok? Parece que um cano estourou na rua e vamos ficar sem água até o meio da tarde.

- Mas eu preciso, pelo menos, escovar os dentes!

Eu odiava bafo. E o de quando se acaba de acordar era ainda pior.

- Aqui - minha mãe me entregou uma garrafa de água - Não gaste tudo e deixe pra você beber antes de sair.

Bufei e subi novamente.

Escovei meus dentes e passei lenço umedecido no pescoço, axilas e virilha. Estava odiando aquele banho de gato, mas não tinha escolha. Coloquei uma cueca limpa na mochila junto com uma toalha, sabonete, desodorante e perfume e vesti o uniforme.

Desci novamente e só peguei uma maçã antes de dar tchau pros meus pais e correr pro ponto. Tentaria chegar mais cedo pra tomar banho antes da aula.

Mas, claro que meu carma não me permitiu.

Devido ao cano estourado e o carro da companhia de água praticamente interditando a rua, o trânsito que se formou fez meu ônibus demorar séculos pra chegar.

O resultado: cheguei na escola assim que o sinal bateu pra primeira aula.

Eu corri pra sala e não parei de choramingar internamente um segundo sequer.

A hora nunca demorou tanto pra passar. Eu fiquei inquieto na minha mesa durante os três tempos antes do intervalo. Era perturbador. Eu odiava ficar sem banho, ainda mais no calor que estava fazendo. Sentia como se meu cheiro exalasse por toda a sala e todos estivessem me olhando e sentindo nojo.

No fundo, eu sabia que era exagero e eu sequer deveria estar realmente fedendo, mas o incômodo continuava lá.

Quando o sinal para o intervalo bateu, eu praticamente voei pro vestiário.

Estava cheio e eu percebi que era o time de futebol da escola se preparando pra treinar. Ignorei os olhares questionadores na minha direção, deixei minha mochila em um canto perto dos armários e segui direto pro box mais próximo. Esperei que todos saíssem pra treinar e me despi lá dentro, pendurando o uniforme na parede baixa que dividia os chuveiros e deixei a toalha ali também. Eu era extremamente tímido quando se tratava de me despir na frente de outros caras, mais até que na frente de meninas. Talvez isso se devesse ao fato de que eu me atraía sexualmente por eles.

Senti um alívio absurdo quando a ducha fresca tocou meus cabelos, mas logo me xinguei porque eu não havia trazido shampoo. Me virei com o sabonete mesmo, ensaboando bastante todo o resto do meu corpo e curtindo aquele banho mais do que devia. Suspirei um pouco triste quando desliguei o chuveiro - meus dedos já começavam a enrugar - e puxei a toalha, me secando.

Eu terminava de secar minha perna quando ouvi a porta do vestiário abrindo e me encolhi automaticamente, com medo de que alguém me visse nu em toda a minha glória.

- Hyukjae, isso não é brincadeira - ouvi a voz grave, que parecia de um adulto, falar.

- Treinador, eu não acho que você esteja brincando, mas eu não posso fazer nada! - a voz característica e irritadiça de Hyukjae falou.

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