✦ 27 | se eu não tivesse saído por aquela porta.

3.2K 289 40
                                    

Agora eu me lembrava como era a sensação de ter que cuidar de alguém bêbado.

Spoiler: Não era nada legal.

Mas, como o carma era uma definitivamente uma vadia, eu estava sem blusa porque, bem, Nicki havia vomitado em mim.

Sim, vomitado.

Após arrasta-lá da festa, a mesma se encontrava bastante empenhada em continuar dançando no caminho até o carro. Esses movimentos não fizeram bem para o seu estômago lotado de álcool, já que, minutos antes de posiciona-lá dentro do veículo, Rivera expeliu tudo em minha direção. 

Agora, estávamos a caminho da sua casa. Eu, fedendo. Ela, gargalhando.

A vida não era justa. Nem fodendo.

— Não é a primeira vez que isso acontece, Samuel. — Disse entre risadas.

Pois mais nojenta que fosse, a memória fez tudo dentro de mim se revirar. Era nostálgico demais. Eu não poderia pensar nessas coisas desde que decidi definitivamente deixar tudo para trás.

Era algo difícil de digerir, mas teria que acontecer. Eu a ajudaria com Miles, porém, após isso, uma amizade teria que ser construída. De qualquer modo, Nicki me via apenas como alguém do seu passado que voltou para assombrar seu presente.

Eu não queria ser visto desta forma. Não voltei para ser o fantasma de ninguém.

Sinceramente, também não sei porquê voltei. Só estava com saudades de algo para chamar de lar. E, o que me assustava, era saber lá no fundo que este algo estava mais perto de ser alguém.

— Não, não é.

— Oh, não seja tão rabugento. Eu elogiei seu pau hoje. Isso não sobe o ego ou algo do tipo?

Sim, querida, sobe, mas não exatamente o ego.

— Nicki, você está muito bêbada. Pare de falar coisas que vai se arrepender.

Após isso, um silêncio se instalou. Foi cômodo, mas serviu para meus pensamentos ficaram mais altos. E eram pensamentos do tipo que me deixavam com enxaqueca.

— Eu me arrependo de muitas coisas, Wilk. Não é como se fosse uma novidade.

Felizmente ela estava praticamente jogada no banco de trás, assim não poderia ver minhas expressões. Elas denunciavam muitas coisas das quais Rivera não precisava saber e provavelmente perguntaria.

— Do que está falando?

Isso é papo de bêbado, Samuel. Não dê ouvidos.

Mas quando você estava bêbado, não mentiu uma vez sequer para ela.

Eu discutia comigo mesmo por pensamentos como um maldito louco.

— Já pensou como seria se eu não tivesse saído por aquela porta? Naquele dia?

Apertei o volante com mais força.

— Venho pensando nisso quase todos os dias desde a minha partida.

— E em quais conclusões chegou?

— Que chegamos. — Estacionei em frente à sua casa, tirando o cinto e esperando que o assunto morresse ali. Dei a volta no veículo, abrindo a porta e esticando os braços para ela. — Venha.

— Eu não respondi a sua pergunta na escola. — Ela murmurou, perto o suficiente para eu poder visualizar seu rosto sonolento. — Eu quero superar, Samuel. Quero muito.

Engoli em seco, sentindo como se meu coração fosse sair pela boca.

A vontade de pegar um avião e voltar correndo para Nova York gritava dentro de mim.

— E o que te impede?

Mesmo sabendo que ela estava bêbada e provavelmente não raciocinando, tive que perguntar.

— Você. Aqui. Me lembrando a cada momento de todos os malditos motivos de eu ter te amado e me fazendo sentir uma fodida trouxa. Mas eu quero superar esta coisa, Wilk, de verdade. E eu vou superar. Céus...

Eu ia responder, ou tentar, mas Nicki caiu no meu colo, apagada. Procurei por suas chaves na bolsa, tomando cuidado para que ela não fosse de encontro ao chão. Quando já estávamos em seu quarto, a posicionei na cama, me limitando a retirar apenas os sapatos. Fui até seu banheiro e achei uma caixinha de remédios, colocando um para os sintomas de ressaca ao lado da cama junto com um copo de água para quando a garota acordasse.

Sentei na beirada da cama, analisando seu peito descendo e subindo em um ritmo calmo. Era falta de respeito ser tão linda assim, caralho.

Seus traços, sua pele, seu cabelo... Tudo. Absolutamente tudo nela me fazia desistir da ideia de ir embora novamente.

Não era justo, porra.

Precisávamos seguir nossas vidas.

Acariciei sua bochecha, e ela, provavelmente involuntariamente, se remexeu, colocando uma das mãos sob a minha.

Após alguns minutos, lhe dei um beijo na testa, finalmente me levantando.

As coisas eram complicadas como o inferno e eu desejava saber como deixá-las mais fáceis.

back to you | sammy wilk Onde histórias criam vida. Descubra agora