Capítulo 18

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Breslin.
Quando Melinda acordou naquele sábado, uma dor absurda tomava conta de sua cabeça. Ela grunhiu em irritação, remexendo-se na cama e só então percebendo que estava acompanhada. Um suspiro soou ao seu lado e um braço a envolveu pela cintura, puxando-a de encontro ao seu corpo. Tom escondeu o rosto contra o pescoço de Melie e resmungou alguma coisa incompreensível. A garota apertou os olhos e após respirar fundo algumas vezes, se virou de frente para Thomas e deu de cara com o rosto dele a milímetros do seu. Ele estava apenas de cueca boxer, visto que não havia voltado para o seu quarto para buscar um pijama ou qualquer peça que usasse para dormir. Já Melinda usava um conjunto de algodão e aquilo os tornava quase um casal de comercial de dia dos namorados. Coisa que eles não eram.
Com o lábio inferior preso por entre seus dentes, a garota levou a mão direita até o rosto de Holland e contornou a mandíbula dele com a ponta dos dedos. Acabou descansando a palma da mão no pescoço do ator e brincou um pouco com os cabelos da nuca dele. Suspirou baixinho e fechou os olhos por alguns instantes, antes de voltar a encarar Tom. Ele era realmente bonito na opinião dela, mesmo que muitas pessoas gostassem de menosprezar a aparência dele. Tom tinha alguma coisa que chamava a atenção, Melinda não sabia definir. Talvez fossem os olhos que sempre transmitiam intensamente tudo o que ele sentia, ou então os lábios finos que tornavam o sorriso dele uma verdadeira gracinha. A linha do queixo, os cabelos revirados... Melie se obrigou a não baixar os olhos para além do pescoço do rapaz, ou então sentia que poderia entrar em combustão. Alguma coisa em Tom sempre despertava aquela vontade insana de transar até as suas pernas ficarem bambas. E ali, com os fios de cabelo de Thomas por entre seus dedos, Melinda percebeu que gostaria de poder dar mais para ele. Ela gostaria muito de poder oferecer-se por inteira àquele garoto, mas ela não conseguia. A única coisa que sentia era tesão e um relacionamento não poderia ser feito apenas daquilo.
Tom era um cara realmente legal, ela sabia daquilo. Havia sido o porto onde Melinda ancorara seu barco na noite anterior, já que uma tempestade havia tomado conta do oceano que era sua mente. Havia ajudado-a como nenhuma outra pessoa, fora Cassy, havia ajudado-a em sua vida. Durante toda a sua vida. E Melinda estava grata demais por aquilo. E por sentir tanta gratidão e um carinho imensurável por Thomas, sentiu que ele merecia uma explicação. Mas também sentiu que aquele era o final para eles e mesmo com a pontada em seu peito, Melie sabia que aquilo era o melhor. Para Tom e para ela. Ele precisava e merecia mais do que um terço de alguém em um relacionamento. Porque Melie não estava oferecendo nem metade de si para ele. E por mais que aquilo soasse terrível e a fizesse sentir-se como um monstro, - afinal de contas, quem não era capaz de se apaixonar por Tom Holland?, Melinda sabia que eles não haviam sido feitos para dar certo. Eram completamente opostos e a única coisa que tinham em comum era a vontade de transar. E tesão nunca seria base para nada realmente sério e duradouro.
Com a cabeça em ordem e o coração em paz, Melinda afastou o braço que Thomas envolvia sua cintura e então levantou da cama, seguindo para o banheiro e tomando uma ducha rápida. Eles tinham algumas horas antes de precisar ir para as gravações daquele dia e Melie ainda esperava tomar um ótimo café da manhã antes de enfrentar as consequências do desastre que fora a noite anterior. Voltou ao quarto enrolada em uma toalha e se vestiu, optando por camiseta e jeans e deixando os cabelos soltos, já que assim que chegasse ao set de filmagens, seria capturada pela equipe de maquiagem e cabelo. Sentou na cama ao lado de Tom e cutucou o rapaz na cintura, recebendo um resmungo descontente que a fez rir baixinho. Melinda se amaldiçoou internamente. Sua vida seria tão mais fácil se ela simplesmente se apaixonasse por Tom. Cutucou o rapaz novamente e finalmente conseguiu acordá-lo. Lançou um sorriso fraco para ele e Tom sentou-se na cama, encarando Melie com os olhos pequenos, o rosto inchado por conta do sono.
- Bom dia. - a loira murmurou, com o tom de voz muito baixo.
- Bom dia. - Tom desejou. - Está melhor? - ele indagou, recebendo um aceno de cabeça como resposta. - Certo. Eu vou para o meu quarto então. - decidiu. Melinda não podia julgar o comportamento estranho do ator. Eles não dormiam juntos. Transavam e então Tom ia para seu quarto ou Melie para o dela. Terem, literalmente, dormido juntos e abraçados era algo que não fazia parte de suas realidades e deixava toda a situação completamente estranha.
- Antes de você ir, - Melie limpou a garganta com um pigarro. - Eu preciso te dar uma explicação.
- Não precisa. - Holland negou, mesmo que um ar de curiosidade estivesse presente em seu olhar. - Está tudo bem.
- Não está. - Melinda suspirou. Jogou-se de costas na cama e encarou o teto, completamente frustrada. - Minha infância foi uma merda. - disse, após alguns segundos em silêncio. Tom se aproximou dela e ofereceu sua perna para a garota deitar a  cabeça. Melinda o encarou por alguns instantes, antes de suspirar baixinho e usar o colo que Thomas lhe oferecia. Logo o ator começou a acariciar os cabelos de Breslin e a garota sentiu uma súbita vontade de chorar. - Meu irmão estudou em internatos a vida inteira, talvez por isso ele tenha encontrado reconforto nas drogas. - respirou fundo. - Eu vivia sozinha ou com babás, já que meus pais eram grandes agentes de modelos e não tinham tempo para criar os filhos. Meu primeiro ano de vida inteiro foi responsabilidade de Lauren, uma vizinha. Meus pais nem a pagavam para cuidar de mim, mas ela o fez. - sorriu triste. - Até meus pais perceberem que eu tinha potencial, ou seja, era muito bonita, e me colocarem no showbiz. Eu ainda era uma criança quando comecei a interpretar Molly. - suspirou, ainda olhando para o teto e evitando encarar Thomas. - Lembro que eu gostei, nas primeiras semanas. Mas logo eu cansei e queria ficar em casa brincando com meus amigos, já que eu vivia para aquela série.
- Melie. - Tom suspirou, puxando-a para seus braços. Estavam parcialmente deitados e Tom usou o ombro de Melinda para apoiar seu queixo, apertando o abraço na cintura dela. Era bom, Melinda havia percebido. Estar daquela forma com Thomas era realmente bom. Mas ainda parecia completamente errado.
- Meus primeiros trabalhos foram todos escolhidos pelos meus pais. - ela continuou. - Em 15 anos, que foi o tempo em que eles me agenciaram, eu nunca tirei férias. Nunca fui para a Disney ou viajei para os parques de Harry Potter, como qualquer outra atriz mirim. Eles escolhiam trabalhos que eu não queria fazer, me colocavam em entrevistas e ensaios fotográficos nos quais eu me sentia desconfortável. Quando nos mudamos para os Estados Unidos, eu passava a maior parte do meu tempo sozinha, já que eles nunca estavam em casa. Era terrível, sabe? Eu não tive uma vida normal. E estaria tudo bem, se eu tivesse apoio da minha família. - suspirou, limpando as lágrimas com a ponta dos dedos. - Em nosso primeiro ano morando nos Estados Unidos, o meu irmão teve a primeira overdose. - soltou um suspiro alto e dolorido e Tom apenas a abraçou com mais força, mostrando que estava ali para ela. - Edward havia ficado na Irlanda, já que era maior de idade e meus pais não fizeram questão de trazê-lo. Eles não davam a mínima para os filhos e só me acompanhavam porque eram responsáveis pela minha carreira. Meus pais me culparam pela overdose de Ed. Na época eu tinha um contrato para um filme adolescente muito ridículo e abandonei as gravações pela metade. Segundo meus pais, eles haviam deixado meu irmão sozinho na Irlanda para estarem comigo e eu estava sendo ingrata e mimada abandonando os projetos que eles haviam escolhido para mim.
- Isso é terrível. - Tom murmurou.
- Eu pensei que meu irmão iria morrer. Voltei para as gravações, mas entrei em depressão. - ela respirou fundo. - Após as gravações meus pais me mandaram para uma clínica, para que eu tratasse a doença. Quando sai da clínica, pedi minha emancipação. Eu já tinha 16 anos e todo o tempo em que passei em tratamento apenas deixou claro que o meu problema eram os meus pais e não a mim mesma. Tivemos a pior briga do mundo. Mas eu acabei ficando sozinha nos Estados Unidos e sem vê-los por 4 anos. Nosso último encontro foi há dois anos, durante a premiação do Oscars. Eu convidei meu irmão para a cerimônia e eles apareceram de surpresa. A briga foi bem maior. - riu sem humor. - Eu pensei que eles finalmente haviam esquecido da minha existência. - deu de ombros. - Mas devem estar atrás de dinheiro para terem vindo até a Itália atrás de mim, depois de dois anos.
- Eu nem consigo imaginar como deve ter sido terrível para você viver tudo isso. - Tom suspirou.
- Isso parece história de garotas brancas privilegiadas e ingratas. - riu fraco novamente. - Mas muito se fala de saúde mental e relacionamentos amorosos tóxicos e as pessoas esquecem que uma das relações mais tóxicas é a familiar.
- Eles deveriam ser teu apoio. - Holland comentou.
- Cassy é meu apoio e minha família. - Eu não sei o que seria de mim sem ela.
- Você tem a mim também. - Tom suspirou. - Pode contar comigo para o que precisar.
Melinda se colocou sentada na cama, de frente para Tom. Segurou as mãos do inglês e olhou diretamente em seus olhos, tomando fôlego antes de finalmente tirar o band-aid daquela ferida.
- Tom, nós precisamos conversar. - murmurou, de forma cuidadosa. Tom franziu o cenho para ela em confusão.
- Tudo bem. - concordou. - Sobre o que?
- Nós. - a garota suspirou. Tom retirou suas mãos das dela e retesou o corpo. - Eu sinto que não estamos na mesma sintonia. Talvez você queira mais do que eu estou disposta a dar e eu não quero que você saia machucado. - mordeu o lábio inferior e encarou o rapaz com aflição.
- Fique tranquila. - Tom sorriu para ela e por mais desconfiada que estivesse, ela acreditou nas palavras de Tom. Afinal, para que ele mentiria r arriscaria seu próprio bem-estar? - Estamos na mesma sintonia desde que estabelecemos nossas regras.
- Você tem certeza? - insistiu e Tom assentiu com a cabeça, sem desviar o olhar do dela.
- Absoluta. - garantiu e Melie suspirou em alívio.
- Certo. - desviou o olhar do rosto dele. - Mas por favor, me avise caso as coisas mudem. Eu realmente não quero te magoar.
- Pode deixar. - Tom concluiu. - Eu preciso ir tomar banho. Temos que gravar em algumas horas. - lembrou e Melinda assentiu com a cabeça.
- Nós vemos mais tarde. - pontuou e quando Tom selou seus lábios, ela novamente sentiu aquela dorzinha no coração por não conseguir sentir mais do que tesão pelo rapaz. Holland se afastou e vestindo suas roupas, saiu do quarto sem olhar para trás. E Melinda jogou-se na cama, suspirando em puro alívio. Ela e Tom estavam seguros. Ela não tinha com o que se preocupar. Por ora.

Never be the Same [Tom Holland]Onde histórias criam vida. Descubra agora