Capítulo um

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O rapaz estava parado diante de mim, balançando ao som da música animada que tocava, um sorriso brincalhão nos lábios como se não soubesse o que estava fazendo e provavelmente não sabia. Observei-o desconcertado, eu não sabia quem ele era, tão pouco isso me importava, estava satisfeito em só observar seu movimento.

Ele olha em minha direção, percebendo meus olhares - não só nos seus movimentos, mas sim em todo o seu corpo -, e ele sorri.

Mordo o lábio inferior ao vê-lo dar um passo em minha direção, parando defronte a mim, com seu corpo quase colado ao meu. Ele sussurrou alguma coisa que não consegui entender, mas mesmo assim assenti como resposta, e continuou a dançar, requebrando seu belo corpo em busca de me provocar, segurou minha mão para que eu o fizesse também.

Em questão de segundos, estávamos no meio da balada; pessoas dirigindo olhares curiosos para mim e para o belo desconhecido. Começamos a nos mover no ritmo da música, sua mão ainda na minha, nossos corpos na mesma sincronia.

Não me importei com os olhares maldosos que nos direcionavam, estava submerso nas sensações que se instalaram em meu peito com seu pequeno toque. O rodopiei uma vez e o puxei para mim, fazendo-o se bater contra meu peito. Nós encaramos com intensidade vendo quem daria o próximo passo, desviei o olhar para seus lábios pequenos e rosados.

O desconhecido segue meu olhar, sua mão estava em minha nunca e a outra em meus cabelos, me puxando para mais perto. Nossos corpos estavam colados, sua respiração contra meu ouvido, me fazendo estremecer.

- Você é bonito. - Não consigo evitar dizer, ponho a mão em sua cintura e ele me encarou, pensei que fosse se afastar, mas não, apenas abriu um sorriso tímido.

- Bobo.

O garoto acariciou meu rosto com os dedos, seu toque frio provocando um arrepio em minha espinha. Abaixei um pouco o rosto, unindo meus lábios aos dele.

Abro meus olhos. Meu despertador tocava loucamente, ergui meu braço e tentei desligar o mesmo, uma, duas vezes errando e logo na terceira o maldito som para.

- Merda. Se passaram tantos dias, mas... - Resmungo e me sento na cama, colocando meus dedos em meus lábios, os pressionando levemente no local, se fechasse os olhos eu ainda conseguia sentir sua boca pressionada com aquilo. - Enlouqueço só de lembrar.

Eu me viro em direção ao despertador - aquele que interrompeu minha lembrança na melhor parte. Já é tão tarde?! Penso angustiado e me levanto em um pulo.

Me levanto da cama e corro para o banheiro. Droga, faltam só quinze minutos! Tenho que me apressar! Tomo um banho rápido, escovo meus dentes e ponho meu uniforme. Alcancei minha mochila e carteira que estavam na cabeceira da cama e as levo comigo, corro para a cozinha, onde pego a primeira fruta que encontro - uma maçã verde - e a guardo em um dos bolsos.

A cafeteria não era longe, uns cinco minutos a pé se fosse rápido. Acelero meu passo e olho o relógio: nove e vinte e cinco.

Chego lá três minutos depois de ter saído de casa, respirando pesado por conta da pequena corrida que fiz. Meu horário de expediente começa em dois minutos.

Ana, a dona do local, vem até mim assim que entro pela porta. Ela é uma velha simpática e tem sempre um sorriso no rosto, como agora.

- Lance! Eu estava preocupada! Pensei que não viria... - Falou sem abandonar a simpatia.

Coço a nuca nervoso.

- Desculpa, dona Ana, acabei dormindo tarde por isso não ouvi o despertador tocar. - Respondo, abaixando a cabeça.

- Não, tudo bem, querido! Os outros estão arrumando as coisas, vá ajudá-los. Daqui a pouco abrimos a loja! - Ela disse, sorriu e foi em outra direção.

Suspirei aliviado, mas um sentimento de desgosto me entalava. Eu merecia ao menos um carão, um aviso para que eu prestasse atenção. No entanto, não questionaria a gentileza de Dona Ana, não em voz alta.

Virei-me na direção oposta a que ela foi, indo para os fundos da loja em busca de colocar o avental.

O

café em que eu trabalhava não era tão movimentado durante as manhãs, mas tínhamos nossos clientes fixos e o título de um dos melhores da cidade, por isso sempre aparecia alguém querendo prová-lo. Por ser bem no centro da Avenida das Universidades, era comum ver estudantes adentrando pela porta do estabelecimento, acompanhados ou sozinhos iam ao menos uma vez na vida ali.

O rapaz forte, mas esbelto, parou na entrada, olhando em volta com a expressão indiferente. Usava uma jaqueta vermelha, um gorro cinza - que cobria parte de seu escuro cabelo - e possuía a capa de um violão presa as costas. Fiquei encarando-o com um sorriso, como eram as ordens do café, enquanto se aproximava devagar. Havia algo nele que me chamava atenção, mas eu não sabia o quê, parecia tão familiar... Talvez eu já o houvesse visto na faculdade.

- Bom dia! Como posso ajudá-lo? - Pergunto, assim que o mesmo estava de frente para mim.

Seus olhos passam por mim, indo em direção ao menu. "Um capuchino, por favor." Sua voz era rouca, mas, ao mesmo tempo potente.

Olhei-o de cima a baixo da forma mais discreta que pude. Tentando me lembrar de onde o conhecia, balancei a cabeça negativamente, tentando afastar tais pensamentos e me concentrar no trabalho.

- Sente-se ali, por favor. - Falei apontando para uma mesa próxima a entrada, ele apenas assentiu sem dizer mais nada - o que foi uma decepção já que eu queria ouvir sua voz -, pagando antes de rumar para ela.

Eu começo a preparar o cappuccino, a receita é simples; uma parte de café expresso, outra de leite e a última de crema. Eu pego o copo com o conteúdo dentro e uma caneta, era uma regra da loja: tínhamos que saber os nomes de nossos clientes.

Elevei uma sobrancelha, encarando o copo um tanto que perdido, antes de olhar na direção do rapaz e ver que este não me olhava de volta, que havia se sentado ao lado do seu violão e que parecia relaxado, os fones nos ouvidos e a mão no celular, digitava algo que parecia de extrema atenção. Um tilintar veio a minha mente e eu tinha certeza de que não veio da porta.
Sabia que estava esquecendo de uma coisa, como pude ser tão desatento?

Balancei a cabeça, um sorrisinho brotando em meu rosto, em meio a nossa curta conversa, eu esquecera de perguntar seu nome.

- Ei, cara. - Chamo, mas o mesmo não me escuta, teve 'tá em um volume muito alto. - Ei! -repetido mais alto, finamente recebendo sua atenção.

- Esqueci de te perguntar seu nome, então...

Ele retira um dos lados do fone, encarando-mtrabalho o, os olhos brilharam um pouco - provavelmente devido à claridade da loja - e o rapaz ajeitou a postura, inclinando a cabeça para o lado. Os lábios pequenos se abrem devagar como se falasse sem vontade, uma única palavra saindo audível por seus lábios.

- Keith.

- Okay, Keith! Aqui está seu cappuccino e espero que você volte. - Assenti, sorrindo largo e voltando para detrás do balcão, seu olhar queimando minhas costas enquanto eu me afastava.

Outro cliente chegou logo depois e eu o atendo, não tirando meus olhos nem meus pensamentos de Keith, que algumas vezes acabavam me pegando no flagra o olhando e simplesmente ignorava. Não vou admiti que cometi alguns deslizes por não estar prestando atenção no que fazia, da mesma forma que não diria a ele o quão o achava familiar mesmo sem saber da onde.

Estranho. Ri baixinho, balançando a cabeça negativamente, enquanto tentava voltar a prestar atenção no meu trabalho. O que eu estava fazendo?

𝘉𝘦𝘤𝘢𝘶𝘴𝘦 𝘐 𝘩𝘢𝘥 𝘶 - 𝘒𝘭𝘢𝘯𝘤𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora