7. De Volta Ao Lar

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Uma luz forte esquentava meus olhos, com um efeito avermelhado sobre eles. Já era tarde, eu precisava correr, ou perderia o voo para New York. O Bill estava ao meu lado, com os braços ao meu redor. Eu podia ouvir o sangue pulsando nas veias dele, mas não sei como isso era possível; talvez fosse apenas impressão.
Levantei-me com cuidado, para não acordá-lo. Já que eu estava de partida, pensei em fazer algo para ele.
Fui lavar meu rosto e escovar os dentes, depois desci até a cozinha para preparar um café — diferente — da manhã. Arrisquei e fiz uma coisa mais brasileira. Pão com margarina, esquentados na chapa. — Eu fiquei com medo de ele não gostar. — Fiz um café bem forte e coloquei alguns pedacinhos de canela nele.
Arrumei tudo em uma bandeja e levei até o quarto. — Ele dormia como um anjo. — Coloquei a bandeja ao seu lado — na cama — me aproximei e me sentei do outro lado. Arquei-me e sussurrei em seu ouvido:
— Bill? — Com certeza ele tinha me ouvido. — Amor, está na hora de acordar!
Ele abriu os olhos, sorrindo.
— Bom dia, amor! — Disse após bocejar.
— Bom dia, dorminhoco. — Brinquei.
Ainda, meio desacordado, ele olhou para os lados e viu o que eu havia preparado.
— O que é isso? — Hesitou assustado.
— Seu café da manhã.
— Não acredito. Era eu quem devia ter feito isso. — Resmungou com os olhos arregalados.
— Sinto muito, mas fica para a próxima. — Eu disse.
— Obrigado.
— Por nada. — Minha voz sempre estável.
Eu sai do quarto e fui acordar a Anna. Quando entrei no quarto dela, ele já estava arrumado — ela já estava tomando banho — então eu desci até a sala e me sentei no sofá, eu estava um pouco triste.
O Tom desceu e se sentou ao meu lado.
— Bom dia, cunhadinha. — Disse ele sem expressões.
— Bom dia. — Retribui.
Ele me olhou como se quisesse dizer algo. Mas não disse.
Seus olhos — confusos — percorreram a sala; sua expressão começou a se mostrar. Eu podia julgar que era de decepção, ou de dúvida.
— Fala. Eu sei que você quer falar alguma coisa. — Objetei.
— Ok. — Confessou.
Aquela sensação de incerteza em sua expressão era tão forte, que chegava a ser muito clara.
— Vocês precisam mesmo ir? — Continuou.
— Sim. — Eu esperava outra coisa.
— Não tem como conseguir mais alguns dias de folga? — Perguntou.
— Creio que não. — Eu não estava o entendendo. — Por quê?
— É difícil de explicar.
— Conte-me, talvez eu possa te ajudar.
No fundo eu sabia que era algo improvável.
— É complicado. Eu não pensei que me sentiria assim. Eu não sou assim! — Foi ai que comecei a entender.
— Você está apaixonado? — Supus.
No entanto eu já tinha certeza de que ele estava sentindo algo pela Anna.
— Não sei se "apaixonado" é a palavra certa, talvez seja "confuso". — Explicou envergonhado.
— É a Anna, certo!? — Concluí.
— Sim. — Respondeu num jato.
— E por que você não fala com ela? — Sugeri carismática.
— Você não entende. Eu nunca estive assim, eu amo as mulheres por uma só noite, sempre foi assim e eu nem dormi com ela, ainda. Estou me sentindo doente. — Disse ele.
— Eu sei o que você está sentindo, porque eu senti com seu irmão, e isso não é uma doença. — Comparei. — Agora estamos felizes, e juntos. Você precisa contar a ela.
— Não posso! — Insistiu.
— Por quê? — Exigi que ele me explicasse.
— Eu... — ele parou. — Eu não quero me sentir preso.
— Não é isso. Você tem medo de amar só ela, tem medo de não querer outras garotas depois dela, tem medo de que seja ela, para sempre. — Hesitei, com raiva. — Desculpe-me, mas isso é idiotice. Quando amamos, nos sentimos completos em tempo integral.
— Eu sei, mas eu quero aproveitar a vida. Curtir minha vida, enquanto posso. — Retrucou.
— E talvez seja tarde demais, depois. — Lembrei-o.
— Tarde demais? — Hesitou.
— Sim. A Anna é uma garota bonita, divertida, inteligente, educada e uma ótima amiga. — Eu estava sendo sincera. — Quantos caras por aí, não estão procurando por garotas assim? A resposta é "muitos". E se você acha que pode ter ela quando quiser, está muito enganado.
— E se eu pedir a ela que me espere? — Essa pergunta foi, totalmente, idiota.
— Talvez ela te espere, mas até quando? — Hesitei um tanto temperamental. — Ela não vai passar a melhor fase de sua vida esperando por você, enquanto você dorme com outras garotas.
— Mas eu sou assim, por isso não quero ficar com ela agora. Tenho medo de magoá-la. E se eu não resistir aos meus desejos? — Nunca pensei que "o irmão" do Bill pudesse ser tão idiota e cego.
— Você já é bem grandinho para "não resistir". Você só faz se quiser.
— Não sei. — Ele continuava a bater na mesma tecla.
— Tom, se você quer ser um idiota, seja. Eu só quero te pedir uma coisa. Se você não decidir isso, agora, não vá atrás dela daqui uns 5 anos. E se você decidir ficar com ela, não a magoe. Ela é minha melhor amiga, e se você fizer algo com ela, jamais te perdoarei.
— É disso que tenho medo. — Agora sua voz parecia oprimida.
— Você já tem 28 anos, se não é velho o suficiente para saber o que quer, saiba que nunca será. — Afirmei.
Acho que ele estava começando a entender; pelo menos eu achava que sim.
Levantei-me. Pensei em deixá-lo sozinho para pensar um pouco, então me levantei e andei até a escada.
— Kathy! — Era o Bill, me chamando.
Eu subi para saber o que ele queria.
— O que foi? — Perguntei com a voz exaltada, sem querer.
— O café da manhã estava perfeito. — Ele percebeu que eu estava estressada. — O que aconteceu?
Eu não podia dizer que estava triste pela conversa que tive com o Tom. Então usei outro motivo que me incomodava.
— Está quase na hora de ir. — Murmurei tão baixo que ele mal conseguiu ouvir.
Ele veio até mim e me abraçou o mais forte possível.
— Os dias vão passar muito rápido. Eu prometo que em um piscar de olhos, vamos estar juntos novamente. Você sabe que eu te amo mais do que tudo.
— Eu sei, porque eu também te amo. — Eu disse.
Uma gota de lágrima caiu dos meus olhos.
— Bill, com licença. Eu preciso me arrumar. — Rosnei para disfarçar a lágrima.
— Claro. Vou tomar um banho, também.
Ele me deu um selinho e saiu.
Entrei no chuveiro e tomei um banho. Já era 08h30min. Não sei se minhas contas estavam certas, mas em New York já devia ser 11h30min.
Eu me arrumei, peguei as malas e desci. Com isso já era 9h30min — eu ia pegar o voo das 10h — eu tinha que me apressar.
— Anna, temos que ir! — Gritei, enquanto me arrastava com a mala pela escada.
— Já estou pronta. — Gritou ela, do quarto.
Esbarrei no Tom.
— Falou com ela? — Perguntei.
— Não. — O tom de sua voz era ermo.
— Vai falar? — Insisti.
— Não. — Arfou.
Eu o ignorei e sai.
— Bill! — Chamei.
Ele nos levaria até o aeroporto.
— Já estou indo. — Avisou ele.
A Anna desceu, despediu-se do Tom e entrou no carro. Certamente, ela esperava que ele tomasse alguma atitude — eu também esperava isso — mas ele não fez nada.
Despedi-me dele, também. Entrei no carro — juntamente com o Bill — e saímos.
O caminho até o aeroporto foi curto, mas eu queria que tivesse sido longo.
O Bill nos deixou em frente ao aeroporto e foi estacionar o carro. Quando ele voltou, eu o abracei e procurei ficar o mais perto possível.
— Não acredito que estamos nos despedindo de novo. — Briguei com minhas próprias palavras, em um sussurro agonizante.
— Eu também não acredito. — Hesitou assentindo.
A Anna se afastou de nós, sentando-se em uma cadeira mais distante. O Bill percebeu isso.
— Amor, o que a Anna tem? — Perguntou o Bill.
— Não sei, mas acho que ela esperava algo do Tom. Uma atitude, pelo menos. — Expliquei.
— O Tom é um babaca. — Eu concordava com isso. — Ele gosta dela, eu sei, mas não quer mostrar que tem um "ponto fraco".
— Eu sei. Seu irmão é muito complexo e difícil de entender. — Admiti.
— Eu queria que ele se entregasse, como eu. Mas ele não tem noção do que é amar. — Admitiu.
— Você tem razão, mas, talvez, ele tenha medo de se sentir como eu. — Supus. — E talvez ele precise de alguém para mostrar a ele como "sentir".
— Como? Como você se sente? — Perguntou.
— Com medo de perder você. De ver que você está apaixonado por outra garota. — Confessei.
— Isso é impossível. Você é minha única mulher, a única que fui capaz de amar em toda minha vida. — Garantiu-me em tom de alívio.
Nos beijamos como se precisássemos apenas daquele beijo.
Enquanto nos beijávamos, chamaram o voo.
— Bill, eu te amo. — Afirmei rapidamente. — Adeus!
— Eu te amo muito mais, e até logo. — Corrigiu-me.
Abraçamo-nos e eu sai.
Entrei no avião com meu coração na mão. Eu não queria deixá-lo mais uma vez.
A Anna ficou em silêncio a viagem toda, eu tentei dormir, mas não consegui.
Ao chegarmos à New York, fomos direto ao ponto de táxi. Conseguimos um táxi de imediato — foi muita sorte — eu não esperava por isso.
Quando chegamos ao apartamento ela subiu para o quarto. — Era tão bom estar de volta ao lar. — Eu, no entanto, guardei minhas coisas, peguei a correspondência e subi para descansar.
Ao me deitar na cama, senti falta de algo que me completava. — Talvez fosse a ausência dos braços que sempre me davam segurança. — Senti falta do calor que me aquecia e me fazia suspirar. Do cheiro doce e suave que fluía sobre sua pele; ou o som do seu riso — o som que acalmava tudo — relacionado ao mundo em que vivemos.
Comecei a pensar nos bons momentos e me esforcei para — tentar — sentir a presença dele; à qual, eu busquei construir.
Depois de tanto esforço, sua imagem veio sobre meus pensamentos. Ele me protegia, mesmo não estando ao meu lado, e isso eu jamais esqueceria. Adormeci, profundamente.

Leb' Die Sekunde & Escreva Você Mesmo Seu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora