14. Um Dia Com Os G's

43 5 1
                                    

Dedos tocavam meu rosto. Era o Bill.
Ele estava sentado na cama — encostado na cabeceira —, e me olhava como se eu fosse um tipo de surpresa. Nunca haviam me olhado daquele jeito.
— Bom dia! — Sussurrou ao ver que eu havia aberto os olhos.
— Bom dia! — Respondi. — Para de me olhar assim!
Suas mãos deixaram meu rosto.
— Assim como? — Hesitou.
— Não sei... é estranho! — Eu ri.
— Está bem, mas não sei se vou conseguir. — Argumentou. — Então, dormiu bem?
— Muito bem.
Ele se esticou e deitou ao meu lado.
— Eu quero te fazer uma pergunta... — Disse ele.
— Pode perguntar o que quiser! — Afirmei.
— Onde você tem vontade de ir? — Perguntou, por fim.
— Em qualquer lugar, onde eu pudesse estar com você. — Eu disse, para agradá-lo.
— Você já pensou em ir ao Canadá, à Tóquio? — Sugeriu.
— Não! — Confessei.
— E voltar para o Brasil? — Hesitou.
— Vou voltar muito, ainda. — Eu disse. — E você vai comigo.
Ele se aproximou e me abraçou.
— Estou com medo. — Arfou.
— Medo? — Indaguei.
— Medo de que você não volte da Inglaterra. De que não possamos ficar juntos. — Ele parecia tenso. — Medo de te perder para sempre. — Sua voz estava abafada.
— Bill, eu vou voltar para rirmos disso um dia. — Prometi.
— Está tão perto, os dias estão correndo... — ele respirou fundo — logo, você terá de ir.
— Meu bobinho. — Olhei profundamente em seus olhos. — A única força capaz de nos separar, nesse mundo, é à força de Deus. E se estamos juntos, ainda... — suspirei —, é porque temos que ficar juntos.
— Eu sei! — Murmurou.
— Então esqueça isso... — pedi — e me beije.
Ele se aproximou e me beijou. Suas lágrimas caíram sobre meu rosto, chegando até o travesseiro; eu o abracei com força, tentando dar a garantia de que voltaria. Eu tinha certeza de que era amor... amor de verdade.
Ele recuou.
— O que foi? — Perguntei.
— Impulso masculino... — Respondeu. — Senti que estava na hora de parar. Não é seguro você estar aqui, na minha cama. Eu posso me aproveitar e esses cordões podem nos queimar novamente.
— Hmmm... — Murmurei. — Eu não me incomodaria se você tentasse. — Provoquei, com uma pontada de brincadeira em minha voz.
Ele colocou a mão em meu pescoço, deslizando-a até meu umbigo. Eu me arrepiei.
— Ok, você conseguiu. — Admiti.
Ele me beijou no rosto.
— Tenho que ir. Preciso tomar um bom banho e comer algo. Estou faminta.
— Sim, amor. Pode ir. — Disse ele.
Levantei-me, peguei meu salto e fui descalça até o quarto. A Anna já tinha acordado.
Peguei um jeans e uma camiseta — bem grande — para vestir. Tomei um banho rápido, escovei os dentes e demorei um pouco para tirar a maquiagem. Depois prendi meu cabelo.
Enfim, calcei um tênis.
Fui até a cozinha e tomei um copo de leite com biscoitos. A Simone já estava preparando o almoço e a Anna estava ajudando.
— Posso ajudar? — Perguntei sorrindo.
— Claro! — Disse a Simone.
— Você pode cortar essas cebolas! — Mandou a Anna.
— Sim, Senhora! — Brinquei.
Peguei uma faca e comecei a cortar em pequenas fatias.
— Como foi o jantar? — Perguntou a Anna.
— Foi ótimo! — Respondi. — O Bill é incrível.
— Você o ama muito, né!? — Objetou a Simone.
Eu demorei um pouco para responder e a Anna respondeu por mim:
— Com certeza, ela o ama!
— Sim. Eu o amo... — respondi rindo, por fim — mais do que à minha vida.
Ela sorriu.
— Ele também deve te amar muito. Eu nunca o vi tão feliz. — Disse a Simone.
Ficamos em silêncio por um tempo; enquanto me desliguei do mundo real para pensar apenas no Bill. Foram apenas alguns segundos, que me levaram a fazer uma bobagem.
— Seu dedo está sangrando. — Gritou a Anna.
Eu percebi que realmente — me distraí —, e acabei me cortando com a faca.
Imediatamente, a Simone pegou um pano e enrolou em minha mão.
— Você está bem? — Perguntou a Simone.
— Sim. — Respondi.
— Lá no banheiro de cima, tem um remédio que vai fazer com que o sangramento pare. — Explicou a Simone.
Fui até o banheiro e passei pelo Bill no corredor. Ele me seguiu, ao ver o sangue no pano.
— O que aconteceu? Você se machucou? — Sua voz gritava de preocupação, ele estava assustado.
Coloquei a mão na pia do banheiro e lavei todo o sangue.
— Estou bem, foi só um corte. — Contei.
— Corte? — Arfou arregalando os olhos.
Percebi que o corte havia sumido. Estava tudo normal, como se nada houvesse acontecido.
— Caramba. — Indaguei assustada.
— O que foi? — Perguntou.
— O corte sumiu... — afirmei — e não estou sentido nada.
— Você se cortou, mesmo? — Ele estava duvidando de mim.
— Sim. — Exaltei minha voz. — Eu vi, sua mãe viu e, a Anna também.
— Mas isso não é possível. — Hesitou.
— Não! — Concordei — Será que isso tem haver com o fato de eu ser uma Bruxa?
— Talvez. — Murmurou.
Seus olhos fuzilavam minha mão.
— Não importa... — concluí — eu não posso descer sem o corte. Por favor, me ajude a fazer um curativo.
— Claro.
O Bill me ajudou a enfaixar minha mão. Aquilo era estranho.
Voltei até a cozinha, o Bill me acompanhou.
— Está melhor? — Perguntou a Simone.
— Sim, já nem sinto mais. — Hesitei.
O Bill me fitou como se quisesse rir da situação.
— Vou voltar a cortar as cebolas. — Eu disse.
— Acho que não é uma boa ideia! — Cutucou a Anna.
— A Anna tem razão. É melhor você ir cuidar desse corte, nós terminamos. — Disse a Simone. — Bill, por que você não a leva ao "Pronto Socorro", para darem uma olhada nesse corte?
— Acho que não será preciso. — Expliquei.
— Amor, se você quiser... — Eu o olhei e franzi o cenho. — Eu havia esquecido que precisamos voltar ao estúdio. — Continuou ao perceber minha bronca.
— Verdade! — Confirmei.
— Tomem cuidado. — Disse a Simone.
— Pode deixar, mãe! — Disse o Bill.
O Bill pegou o carro e saímos.
— Isso é muito esquisito. — Ofeguei, olhando para minha mão.
— Concordo. — Disse ele.
— Isso nunca aconteceu... — murmurei.
— Pense pelo lado positivo... não vai haver uma cicatriz. — Brincou.
— Claro! — Arfei. — Mas eu já tenho muitas e isso nunca vai mudar!
Ele colocou a mão em meu ombro.
— Eu te amo do jeito que você é... e ninguém vai mudar isso.
— Eu também te amo! — Sorri ridiculamente.
Continuamos em silêncio até o estúdio. As pessoas nos olhavam — sem curiosidade — eu não deveria estar surpresa, talvez todos já soubessem.
— Você está pronta? — Perguntou o Bill, enquanto entravamos no elevador.
— Fisicamente... sim, mas emocionalmente não... — Respondi.
— Tudo bem, se você quiser desistir. — Disse ele, sua voz estava quase falhando.
— Não. — Eu fui curta.
— Tudo bem! — Sorriu.
Ele segurou minha mão com força e o elevador subiu.
Aproximei-me dele e toquei seu rosto; ele sorriu novamente.
— Seu sorriso é lindo! — Eu disse ao tocar seus lábios com meu polegar direito.
— Imaginação sua! — Interferiu e se arcou para beijar minha testa.
O elevador parou.
— Hmmm... — Deixei escapar um suspiro.
Ele me olhou e tornou a sorrir.
Entramos na sala do David.
— Bom dia, para vocês! — Gritou o David, feliz.
— Bom dia! — O Bill e eu falamos juntos, sem querer.
Ele segurou nossas mãos.
— Feliz Ano Novo, casal! — O David nos disse.
— Obrigado David, e para você também. — Disse o Bill.
— Obrigada! — Indaguei feliz. — E um Feliz Ano Novo para você também.
Contente, ele sorriu.
— Sentem-se, por favor. — Disse o David.
Sentamos.
— Então, vocês estão prontos para cantar?
— Sim! — Respondi, sem hesitar.
— Então... vamos lá! — Disse o Bill.
O David nos mandou entrar na sala de som. Ele ligou os microfones e saiu.
O Bill cantaria a música, sozinho — para eu pegar a melodia —, depois cantaríamos juntos.
Virei na direção do Bill, fitando seus lábios que se moviam suavemente. O jeito calmo e intrigante de movimentá-los.
Sua voz era linda e delicadamente aguda. Ele olhava para a folha rasurada — com a letra da música — e olhava para mim; uma folha branca com rabiscos de caneta preta.
Seus olhos se fixaram em mim — talvez ele tivesse percebido que eu estava surpresa — ele estava cantando para mim.
Enfim, gravei a música em minha cabeça e, principalmente, em meu coração. Eu deveria cantar, fiquei com medo... mas deixei rolar.
Ensaiamos 4 vezes; era tudo tão perfeito que podia ser um sonho.
Depois da gravação, tivemos que esperar à parte instrumental. O resultado foi surpreendente.
Eu fiquei tão feliz que pulei nos braços do Bill e o beijei.
— Parabéns! — Disse o Bill.
— Parabéns a você! — Conjecturei.
— Parabéns aos dois. — Interrompeu o David. — Fizemos um ótimo trabalho aqui. Se tudo der certo, dia 5 a música será liberada para as rádios.
Foi aí que cai na realidade; tudo isso não se tratava de uma coisa romântica, era algo mais sério.
— Ótimo! — Disse o Bill entusiasmado.
Calei-me subitamente.
O Bill me olhou curioso.
Nos despedimos do David e saímos.
Eu não sabia a minha expressão, porque eu estava preocupada e feliz.
Enquanto estávamos no elevador, comecei a refletir sobre o que estava acontecendo. Eu pensei em muitas coisas; se as Bruxas existiam, poderia existir qualquer tipo de criatura. — Lobisomens, Vampiros...
Era tudo tão real que chegava a queimar minha pele.
Olhei para minhas mãos, primeiro para a mão — desnecessariamente — enfaixada e depois para a mão com o anel.
O Bill me puxou pela cintura.
— Por que você está tão quieta? — Perguntou.
— Não é nada... só estou tentando acordar desse sonho. — Hesitei.
— Não é um sonho. — Ele me beijou.
Seu cheiro estava em todo lugar. O sabor do seu beijo quente e macio... Com certeza não era um sonho.
— Confie em você, no que você sente! — Disse ele, vagarosamente.
Afinal, ele estava certo... eu precisava ser confiante, sem ter medo do que estava por vir.
— Você pode tentar ser confiante? — Questionou ele.
— Sim!
E ele me abraçou.
O Elevador parou e saímos.
No caminho de volta, me senti insuportável. Porque eu não queria fazê-lo sofrer, jamais. No entanto, era impossível mudar o que estava acontecendo.
— Amor, vou passar no MCdonald's — contou. — Você quer alguma coisa?
Pensei rápido em algo.
— Um suco de manga! — Pedi.
— Ok!
Ele parou o carro e fez os pedidos. Para ele, pediu batatas fritas e uma coca. Paramos no estacionamento para ele comer.
Coloquei meus pés sobre o banco e fiquei observando-o, enquanto eu tomava meu suco.
— Assim você me deixa constrangido! — Confessou.
— Desculpe-me, eu só estava te admirando. — Murmurei.
Ele sorriu e me acertou com uma batatinha.
— Por que você fez isso? — Exaltei minha voz, rindo.
Peguei a batatinha e a joguei de volta.
Ele colocou a coca e as batatas na porta do carro e foi para cima de mim; começou a me fazer cócegas. Só parou quando eu o belisquei no abdômen.
— Seu bobo! — Brinquei e o beijei.
Ele terminou o lanche e voltamos para a casa da Simone.
Entramos juntos e rindo.
Haviam mais dois homens na sala, junto com o Tom. Eles se levantaram e o Bill foi falar com eles.
— E aí, cara!? — Disse o homem de cabelo comprido.
Eles deviam fazer parte da banda.
— Georg, você continua o mesmo. — Disse o Bill. — E você Gustav? — Disse ao outro de cabelo curto.
Georg era o de cabelo comprido e Gustav o de cabelo curto, que usava óculos.
— E você, enfim, arrumou uma namorada? — Brincou o Georg.
— E bonita... — Completou o Gustav.
— Sim. — Admitiu o Bill, sorrindo.
— Já estava na hora mesmo, né!? — Disse o Tom, com um pequeno sarcasmo na voz.
Todos me olharam; eu corei e sorri.
— Vem aqui! — Ordenou o Bill, apaixonadamente.
Eu me aproximei.
— Georg Listing e Gustav Schäfer, essa é a Kathy. — Disse o Bill.
— Oi! — Eu disse.
Eles me cumprimentaram.
Sentamos — todos — no sofá e ficamos conversando por um tempo. Eles eram tão unidos e engraçados, falaram algumas coisas em alemão — que o Bill não quis me dizer o que significava — e contaram alguns micos do Bill.
Por um momento, eu esqueci tudo e comecei a me divertir de verdade, mas de repente, senti um arrepio. Meu estômago fervia, corri para o banheiro e vomitei. Eu não estava doente; era uma dor diferente, que eu nunca havia sentido. Só consegui pensar que devia ser algo da minha parte Bruxa.
Fui até o quarto e me sentei na cama, a dor veio com mais força. Minhas mãos estavam geladas, meu corpo tremia; cai sobre a cama e acabei desmaiando.
Alguns minutos depois eu abri os olhos. Durante o momento em que fiquei desmaiada, tive outro sonho; uma visão:
Uma luz forte surgiu e se apagou no mesmo instante; eu estava em um campo, haviam muitos corpos e muito sangue pelo chão. Eu estava machucada, mas em pouco tempo os cortes sumiram.
Continuei andando, até que encontrei a Libby. Ela estava muito ferida, mas seus cortes estavam sumindo, assim como os meus.
"Ajude-me a encontrar o Lion!", ela pediu. Concordei e continuamos a andar entre aqueles corpos. Eu não sabia se tínhamos ganhado a luta, mas eu estava viva, ainda.
Entramos na floresta e fomos até um rio, nos limpar. Depois de tanto tempo procurando, não conseguimos encontrar o Lion.
Olhei para a água e vi que estava sem o pentáculo.
"Cuidado!", gritou a Libby, com uma aflição tão grande que, por um instante, me deu medo; mas já era tarde.
A lâmina atravessou meu abdômen, e eu senti toda a dor. Enquanto a Libby tentou pará-lo, cai de joelhos na beira do rio, vi o sangue que se espalhava pelo chão, escorrendo até a água.
Eu não pude fazer nada; o sangue saiu pela minha boca, me afogando. Não consegui ouvir mais nada.
Cai de lado, sem forças para continuar. — Pude ver seu rosto, o rosto do homem que me acertou com a lâmina. Era o mesmo homem de antes, o de cabelo escuro, com mechas brancas. — A Libby me segurou, e nos levou para outro lugar.
Era uma casa antiga; ela me deitou em uma mesa de madeira, tirou a espada de mim e colocou um pano sobre o corte. Eu estava fraca, não tinha mais força para me regenerar. Havia tanto sangue e eu mal conseguia abrir os olhos.
"Ficará tudo bem!", dizia a Libby enquanto fazia pressão sobre o corte.
Eu sabia que não ficaria tudo bem.
"Bill!", chamei antes de fechar os olhos. A imagem dele sorrindo — que eu havia buscado das lembranças —, foi a última coisa que vi, antes de tudo escurecer e eu abrir os olhos.
Enfim, quando consegui me distanciar desse sonho, percebi que estava suando e a dor havia passado.
Então é assim que tudo vai acabar? Eu vou morrer, e nunca mais verei o Bill outra vez? Tudo, realmente, teria valido a pena? — As perguntas me dominaram. — O que direi ao Bill? Como dizer a ele que eu nunca mais voltarei?
Não havia nada pior, do que saber que não ficaríamos juntos. Aquela conclusão acabou comigo. Então, comecei a chorar pelo fim de tudo; minhas lágrimas eram violentas, e queimavam meu coração. Eu estava só e, era assim que eu acabaria.
Era difícil de acreditar que depois de tanto sozinha, eu perderia o único motivo da minha felicidade. Poderia ser egoísmo, ou apenas amor; era uma coisa que eu queria para toda a minha vida, ficar com ele.
Eu me encolhi — tentando anestesiar minha dor — e fechei minhas mãos com tanta força que chegou a doer.
A porta do quarto estava aberta; o Tom passou pelo corredor e me viu, eu o olhei, assustada e — sem querer dei um motivo idiota para o Bill se preocupar comigo — o Tom voltou e chamou o Bill.
Tentei enxugar minhas lágrimas, mas elas não paravam de cair.
Em poucos segundos — ligeiramente — o Bill apareceu na porta.
— Feche a porta! — Eu pedi.
Ele fechou e se sentou ao meu lado, na cama.
— O que está acontecendo? — Perguntou ele, um pouco preocupado.
Eu o abracei com força.
— Desculpe-me... — implorei — eu sinto muito. Perdoe-me.
— Te perdoar? — Murmurou. — Pelo quê?
— Apenas diga que me perdoa. — Insisti.
Ele me olhou triste e passou a mão em meu rosto, secando minhas lágrimas. Seus dedos recolhendo cada pedaço — insignificante — de mim.
— Pelo quê, amor? — Tornou a perguntar.
— Por favor, não torne isso mais doloroso. — Implorei.
Segurei a mão dele em meu rosto, mantendo aquela segurança que me fazia tão bem.
— Você vai me deixar? — Supôs ele, espantado.
— Não, eu te amo! — Minha voz estava exaltada e grave.
— Então por que eu devo te perdoar? — Arfou. — Você ficou, ou está com outra pessoa? — Perguntou revirando os olhos.
— Não, nunca. Eu só vivo por você, jamais faria algo assim. — Eu garanti.
— Então me diga, me dê um motivo. — Conjecturou.
Eu não podia dizer a ele; seria muito egoísta de minha parte.
— Eu quero ter certeza, de que você estará pronto para me perdoar. — Menti. — E que você sempre será o mesmo. Eu quero que você sempre seja feliz, mesmo sem mim.
— Te perdoar, eu sempre te perdoarei. Mas por um bom motivo e não por essa loucura que você está dizendo. — Indagou. — Eu jamais serei feliz sem você. E você sabe muito bem disso.
Calei-me e olhei para o chão — por um tempo.
— Você ainda me ama? — Hesitou.
— Mas do que tudo. — Respondi olhando em seus olhos.
Ele sorriu e, ainda, com as mãos em meu rosto me beijou. Eu estava me sentindo um monstro por ter que deixá-lo, sem ele saber que eu jamais voltaria.
Afastei-me com cuidado e ele me olhou confuso, mas logo sorriu novamente.
— "Ich Liebe Dich!" — Sussurrou ele.
Era alemão, eu não fazia ideia do que significava.
— O quê? — Murmurei.
— Eu te amo, em alemão! — Explicou devagar.
— Também te amo! — Afirmei.
Deitei-me na cama.
— Vem cá! — Pedi. — Eu quero ficar perto de você.
Ele se deitou ao meu lado colocando o braço ao redor do meu ombro, me abraçando. Deitei meu rosto — quente — em seu peito e o abracei; ficamos em silêncio, por alguns minutos.
— Daqui 20 anos... eu só queria estar assim com você. — Sussurrei, enquanto minha voz falhava.
— Mas vai estar! — Prometeu-me.
— Não sabemos nada sobre o amanhã, tudo pode acabar. — Eu disse, olhando em seus olhos.
— Você sempre tenta tornar as coisas mais difíceis, ou mais fáceis. — Afirmou ele.
— Desculpe-me, só estou sendo realista. — Grunhi.
Ele me fitou decepcionado.
— Daqui 20 anos, vamos estar com nossos filhos. — Brincou. — Daqui 20 anos, vamos estar casados e morando aqui, na Alemanha, ou em qualquer outro país. E se você quiser, viveremos aqui para sempre. — Terminou.
— Sim. — Concordei, sorrindo. — É isso que estaremos fazendo daqui 20 anos.
Ele acariciou meu braço e, eu segurei o tecido macio de sua camisa.
— Seria tão bom, se nada estivesse me impedindo de... — parei —, de ficar, de verdade, com você.
Ele me olhou — vi a malícia em seus olhos — e sorriu.
— Seria... — concordou. — E pode ser, porque eu não sei o que te impede de ser minha.
— Hmmm... muita coisa. — Eu ri.
— Você é incrível! — Disse ele, com uma voz de anjo.
Eu não entendi, mas considerei o fato de eu ser uma idiota.
— Não... só sou sortuda! — Murmurei. — Milhares de garotas no mundo, gostariam de ser amadas por você... mas você me escolheu por um motivo idiota e irresponsável.
— Você considera o amor e o destino, como motivos idiotas e irresponsáveis? — Indagou.
— Sim, pois se eles não fossem assim você não teria que sofrer. — Murmurei.
— Pois eu acho que você está enganada — discordou. — Você é melhor coisa que podia ter me acontecido e... eu não sei se eu seria tão feliz, assim, sem você.
Ele levantou meu rosto com sua mão e beijou minha testa.
Depois, descemos para almoçar. O Georg e o Gustav — os G's — ficaram para o almoço. Eu achei ótimo, porque eles nos fizeram rir muito.
Após o almoço, a Anna e eu, cuidamos da louça.
Acabamos combinando de ir jogar boliche à noite. O Georg e o Gustav, foram buscar suas namoradas, porque haveria uma disputa entre garotas e garotos.
— Está animada para perder, amor? — Perguntou o Bill.
— Bom, na verdade... — eu ri — sou muito boa no boliche. — Afirmei. — Então, não vai ser tão fácil me vencer.
— Será? — Insistiu.
— Depende, talvez o Tom seja bom... — brinquei — porque você não é.
Ele me olhou — irritado.
— Não vou dizer mais nada! — Garantiu.
— Que bom! — Sorri.
Ele se virou, me ignorando.
— Vamos! — Gritou o Tom. — Eles vão nos encontrar lá!
Levantei do sofá e fiquei parada na frente do Bill. Eu estava com uma calça jeans e uma blusa de moletom — verde.
— Tem certeza de que vai ficar bravo? — Indaguei.
— Tenho! — Ele me respondeu.
— Então, tá...
Sai em direção à porta; quando eu a abri, ele me grudou pela cintura e beijou meu rosto.
— Eu não acredito que você pensou que eu seria capaz de ficar bravo com você! — Disse ele, me apertando.
— Eu sabia que era brincadeira. — Concluí.
Saímos da casa da Simone — que ficou com o Gordon — e fomos para a "casa de boliche".
Quando chegamos lá, os garotos estavam com suas namoradas nos esperando. Ao lado do Gustav, havia uma garota ruiva e alta; ela era bonita, mas parecia um pouco calada, seus olhos eram verdes — como duas pequenas esmeraldas. — E ao lado do Georg, estava uma garota magra — não muito alta — de cabelo preto — um preto meio azulado — e curto. Seus olhos eram castanhos — um tom meio verde.
— Essa é a Carolina Between! — Disse o Georg.
Ele a apresentou para a Anna e eu, acho que o Bill e o Tom já a conheciam.
— Carol — corrigiu. — Oi!
— Oi! — Respondi.
— Olá! — Disse a Anna, empolgada.
— E eu sou a Nicolly Stacy, mas podem me chamar de Nick! — Disse a namorada do Gustav, ao se aproximar.
Depois de nos conhecermos bem, nos separamos para jogar. O garotos contra nós.
Eu fiquei mais amiga da Carol, ela era divertida, animada, extrovertida e empolgante. Já a Anna e a Nicolly não se desgrudavam.
— Vamos começar o jogo! — Disse o Bill, segurando uma bola de boliche.
— Primeiro as damas! — Continuou o Tom.
— Vai lá, amor! — Sugeriu o Bill.
Eu não queria ser a primeira, mas pensei em decepcionar o Bill, mais cedo.
Peguei a bola de boliche e andei até a pista — a bola era um pouco pesada — encaixei meus dedos na bola e a joguei; ela não foi direto aos pinos, mas derrubou todos.
— Parabéns! — Disseram as garotas.
Batemos nossas mãos em grupo.
O Bill me olhou surpreso.
— Minha vez! — Informou.
Eu sorri — ironicamente — para ele.
Ele jogou a bola e também derrubou todos os pinos. Sua expressão foi de satisfação.
Depois a Carol jogou — marcando muitos pontos — e em seguida o Tom. E continuamos naquele ritmo. O Gustav não conseguiu marcar — em nenhuma das partidas — mais pontos do que a Nicolly — ou Nick — já o Tom, ele era muito bom, e a Anna... era péssima.
Tivemos uma pausa para beber um refrigerante; levamos a sério o lance de rivalidade, não chegamos perto dos garotos enquanto estávamos jogando.
— Nossa, eu estava precisando beber algo! — Disse a Carol recuperando o fôlego.
— Acha que podemos ganhar? — Perguntou a Anna.
— Eu tenho certeza disso! — Garanti.
Rimos um pouco e voltamos ao boliche.
O mais legal foi o tombo que o Tom levou, quando foi jogar a bola. A Anna riu tanto que ficou sem ar.
A noite estava perfeita. Eu estava precisando de diversão, e não havia um jeito melhor de se divertir do que estar com o homem que eu amava e com pessoas tão legais.
Tive que admitir, o Bill era — realmente — bom. Todos eram muito bons, mas vencemos — as garotas venceram.
— Belo jogo! — Disse o Bill.
Ele segurou minha mão.
— Somos ótimas, né!? — Eu disse, olhando para as garotas.
— Na próxima, vamos ganhar. — Afirmou o Georg, puxando a Carol para mais perto dele.
— Revanche! — Gritou o Tom.
— Acho que não é uma boa hora, já está tarde... — hesitou o Gustav — e eu quero levar a Nick em casa. Preciso ter um tempo com ela, se é que vocês me entendem...
— Seu sem vergonha! — Brincou o Tom.
Todos riram.
— Vamos sair amanhã, para conversar um pouco? — Perguntou-me a Carol.
— Por mim, tudo bem. — Respondi, sorrindo.
O Bill me fitou por uns segundos.
— Eu te empresto ela... — Disse ele, para a Carol.
— A gente combina alguma coisa também, cara! — Disse o Georg.
Resolvemos tudo e fomos embora. O Gustav foi curtir com a Nick, o Georg levou a Carol para jantar. E nós fomos para casa.
Os garotos não ficaram muito chateados com a perda, e mesmo que tivessem ficado, não mudaria em nada. Eu estava feliz por ter vencido o Bill.
Ao chegarmos na casa da Simone, o Tom e a Anna ficaram se agarrando na sala. Eu estava tão cansada que só queria dormir, então o Bill insistiu que iria me acompanhar até o quarto.
Eu o deixei esperando por alguns minutos, enquanto tomava um banho.
— Gostou da noite? — Perguntou ele, enquanto eu secava meu rosto com a toalha.
— Foi perfeita! — Respondi.
Eu até consegui esquecer o que estava me acontecendo.
— Temos que ter mais noites assim! — Sugeriu ele.
— Claro, mas eu gosto mais das noites em que ficamos sozinhos. — Hesitei indiferente.
Ele se aproximou tirando a toalha de minha mão — eu já estava de pijama — e a jogando na cama.
— Quer tomar outro banho? — Sussurrou em meu ouvido.
— Acho que não. — Murmurei envergonhada. — Você acha que devo?
— Na verdade, é porque eu vou tomar um banho agora... — ele riu — e seria bom não ter que tomar sozinho.
— Safado! — Eu disse, minha voz estava aguda.
Ele beijou meu pescoço.
— É melhor eu sair daqui, antes que eu perca o controle! — Concluiu.
Eu ri dele, e o empurrei para longe.
— Também acho! — Ignorei. — Nos vemos amanhã?
— Claro!
Eu o abracei.
— Boa noite!
— Boa noite! — Respondeu-me. — E só para você não esquecer... eu te amo!
— Eu também te amo. — Garanti sem hesitar.
Nos beijamos e ele beijou minha testa.
Arrumei minhas coisas, me deitei na cama e adormeci.

Leb' Die Sekunde & Escreva Você Mesmo Seu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora