19. Lobisomem

34 4 0
                                    

Corri até a sala, mas não havia nada lá embaixo.
"Bill" — pensei.
Subi à escada correndo; sem prestar atenção nos degraus, quase cai. Quando me aproximei do quarto — onde o Bill estava — vi que a porta estava semiaberta. Cheguei mais perto, sem fazer barulho e empurrei a porta.
O Bill estava encostado na parede — sua expressão podia deixar qualquer um com o coração na mão — ele se segurava no armário. O medo e a agonia em sua face, me fizeram sentir a vontade de morrer; o silêncio insuportável ali, fez com que eu pudesse ouvir cada gota se suor que caia de seu rosto. E em sua frente — a poucos passos de distância — havia uma criatura horrível; era grande demais para ser um lobo e não parecia com tal. Era magro — mas forte ao mesmo tempo — seus pelos falhados que cobriam todo o seu corpo, eram escuros. As orelhas rasgadas e pontudas — como as de um cão de rua que acabara de brigar com outro cão — se mexiam tentando ouvir o que se passava ali. As garras enormes e afiadas, presas ao chão, enquanto ele estava arcado. Mas o pior de tudo era o cheiro de cachorro molhado, misturado com sangue. — Um ser surreal, o Lobo Mal das histórias, o herdeiro das sombras, a maldição da Ásia, uma lenda folclórica; aquele animal podia ser tudo isso, coisas que eu simplesmente não acreditava que pudessem existir.
Meu coração — assustado — parecia o ensaio de uma banda de rock, as batidas fortes e angustiadas se equilibravam a cada suspiro.
Eu não sabia do que eu era capaz, mas eu não podia ficar ali sem fazer nada. Olhei para o Bill e coloquei o dedo na boca, pedindo para ele não dizer nada. Ele me olhou apavorado e balançou a cabeça com um "não".
— Ei! — Gritei.
A criatura me olhou — seus olhos de predador, brilhavam como a Lua — seus dentes pontudos e grandes rangeram. Eu nunca havia imaginado com seria um Lobisomem, mas eu estava convicta de que era a criatura mais feia que eu já havia visto. Não havia nada humano naquilo, só a semelhança em nossos corpos.
Esperei para ter certeza de que ele viria atrás de mim, e então aquele uivo agonizante — que podia ser ouvido a quilômetros de distância — surgiu. Ele estava preparado para me pegar, então me virei — quando percebi o movimento brusco do Bill — e corri pela escada.
A criatura se atirou atrás de mim, sem pensar duas vezes.
— Feche a porta! — Gritei para o Bill, enquanto corria pela escada.
Eu não podia deixar que algo acontecesse ao Bill, eu tinha que correr o máximo que pudesse. Antes de mim, o Lobisomem, saltou no meio da sala. Eu me vi sem escolhas, então abri a porta e corri para fora do apartamento.
Haviam muitas escadas para eu descer — não imaginei que eu seria tão veloz —, enquanto eu corria pelo corredor, torci para que nenhum dos meus vizinhos saísse do seu apartamento. Quando me aproximei da porta dos fundos — que me levaria até um beco — senti as garras em minhas costas, aquilo doeu tanto que pensei que morreria, mas eu não parei de correr; abri a porta e sai do prédio.
Eu tinha sorte por me regenerar, porque aquele ferimento havia sido profundo. O suor escorria por meu corpo e ardia em minhas costas, enquanto eu avistava o fim do beco — o lugar onde eu, certamente, morreria — era só nisso que eu conseguia pensar. Mas valeria a pena morrer pelo que eu mais amava, era o único jeito de tudo acabar.
Desisti de lutar e parei de frente com ele. — Eu estava, praticamente, me arrastando. — Seus olhos — agora vermelhos —, estavam arregalados e atentos. Abaixei a cabeça e peguei um cano de metal que estava perto do latão de lixo, ao meu lado. Ele rangeu os dentes — como um cão raivoso — eu só via a morte em seus olhos.
Preparei-me para atacá-lo — eu não morreria sem lutar —, e ele fez o mesmo. Em segundos se jogou em cima de mim, me fazendo bater na parede — acabei batendo minha cabeça — e eu o machuquei com o cano, que atravessou em sua perna.
Eu estava esgotada, não havia mais nada a ser feito, fechei os olhos enquanto ele me arrastava pelo chão. Os arranhões que iam se formando em minha pele eram dolorosos, mas suportáveis.
— Vamos Lion, eles estão ali. — Era a voz da Libby, que estava a poucos metros de distância.
Tentei resistir e segurei na tampa do bueiro, sob mim.
Logo pude ver a Libby e o Lion, a velocidade deles era sobrenatural.
O Lion me tirou com facilidade das garras do Lobisomem, me pegando no colo como se eu não pesasse 55 quilos, ele nem fez tanta força.
— Agora vai ficar tudo bem! — Disse ele, correndo para fora do beco.
A última coisa que vi, foi a Libby com um cabo de prata nas mãos, antes de minhas pálpebras se fecharem.

Leb' Die Sekunde & Escreva Você Mesmo Seu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora