16. Natalie Franz

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Meu dia não foi muito bom, no entanto percebi que existia muito "ciúme" dentro de mim.
Acordei assustada — eu estava suando — tive um sonho, mas eu não conseguia lembrar o que havia sonhado.
Pulei da cama, e fui tomar um banho; quando voltei do banheiro, me deparei com a Anna — ela estava triste e olhava para o chão —, estava sentada em minha cama, me sentei ao lado dela.
— O que você tem? — Perguntei, suavemente.
— Kathy, eu vou voltar para o Brasil. — Respondeu ela.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
— O quê? — Perguntei, demonstrando preocupação.
— Quando chegarmos à NY, vou pegar minhas coisas e voltar para o Brasil. — Confirmou.
— Por quê? — Insisti.
— Porque eu quero... — seus olhos se voltaram para os meus.
— Anna, eu te conheço e sei que você não quer. — Fui relutantemente sincera.
— Você está certa... — ouvi a tristeza em sua voz —, mas eu não posso mais, e não quero, levar isso adiante. — Explicou ela, lentamente. — Isso está me matando, e quando eu penso que não pode ficar pior... — sua face enrijeceu — vem algo ainda mais doloroso e me joga de volta ao começo.
— Você está falando sobre o Tom? — Pressionei.
— Estou! — Admitiu, por fim. — Eu não consigo mais viver com isso, e não queria ter que te incomodar com meus problemas... — continuou — mas está sendo insuportável conviver com isso. Bom, o Tom é divertido, legal e gentil... — sua voz estava tremula — mas ele é um idiota.
As lágrimas caíram dos seus olhos; eu havia avisado o Tom, aquilo ia acabar acontecendo. Era inevitável.
— O que ele te fez, hein? — Explodi, ofegando.
— Nada.
— Como assim? — Gritei.
Eu ainda estava enrolada na toalha, mas já estava seca... a água havia escorrido até meus pés.
— Ele ainda ama a ex-namorada! — Disse ela, numa voz relutante e intensa. — E ele deixou isso bem claro, depois de dizer que só sentia uma atração doentia por mim.
— Anna, você é melhor do isso... — meu tom de voz beirava a raiva. — Esqueça.
— Não posso, não consigo... — sua voz estava desesperada.
Eu estava com tanta raiva do Tom, que não queria imaginar o que podia ter acontecido, mas no fundo eu sabia.
— Anna, você... — engoli minhas próximas palavras.
Ela balançou a cabeça, como um "sim". As lágrimas caíam por seu rosto, aquilo me quebrava por dentro.
Eu a abracei, dando segurança e apoio para ela. Tentei parecer firme, mas não consegui.
— Estou envergonhada... — sibilou ela.
— Está tudo bem, estou com você e sempre vou estar. — Prometi.
— O que eu vou fazer? — Hesitou, enquanto secava as lágrimas com os dedos, que tremiam.
— Fugir não é a melhor opção. — Eu disse em voz baixa. — Se você o ama, de verdade, lute por ele... porque ele sempre será o primeiro homem de sua vida. Acredite, você nunca o esquecerá. — Eu não sabia até que ponto eu podia deixar a situação melhor. — Mas se você acha que ele nunca te amará, está na hora de cair fora. Anna pense em si própria, em primeiro lugar... — respirei — ele não merece a dor que você está sentindo.
Ela voltou a me abraçar.
— Valeu! — Seus olhos estavam brilhando novamente.
Eu a beijei na testa. Ela era minha "irmãzinha"... minha melhor amiga.
Nos levantamos da cama, ela saiu do quarto e eu fui me vestir. Coloquei um macacão, longo e simples... ele era marrom.
Fui até a sala e me sentei no sofá, junto com a Simone. No reflexo da porta do corredor, vi a Anna sentada no banco, ao lado do Tom. Pela expressão — assustadora — que estampava a cara dele, pude perceber que eles estavam conversando sobre o — confuso — relacionamento deles.
— Bom dia, Simone! — Eu disse, ignorando o reflexo.
— Bom dia! — Respondeu-me ela. — A Anna me disse que vocês vão voltar para NY, hoje à noite. É verdade?
Não havíamos conversado sobre isso, ainda.
— Acho que sim... — hesitei.
— Que pena, eu gosto de ver essa casa animada. — Admitiu, com um leve sorriso torto nos lábios. — O Gordon quase não fica em casa, e eu amo poder ouvir a risada dos meus filhos.
— Eu sei. — Eu disse, sorrindo. — Se fosse mais fácil, eu faria um esforço para ficar aqui mais alguns dias. Mas não é.
— Seria ótimo, mas acredito que antes do que imaginamos... — ele escondeu algo em sua expressão contente — a família vai estar completa.
Olhei para o anel em meu dedo, e sorri com as hipóteses.
— Simone, o Bill lhe disse algo? — Chutei as palavras com curiosidade.
Ela mudou de assunto, rapidamente.
— Fiquei sabendo do seu estágio em Londres. Parabéns! — Disse ela.
— Obrigada! — Eu disse em voz baixa.
— Você merece! — Concluiu.
Continuamos a conversar, até que o Bill acordou.
Ele me arrastou para o carro, fomos dar uma volta.
— Ansiosa para ouvir a música nas rádios? — Perguntou.
O sorriso — travesso —, em seu rosto chegava a me assustar.
— Um pouco nervosa, na verdade. — Confessei, fitando o boné que ele estava usando.
— O David vai fazer um bom trabalho, acredite. — Garantiu ele, me dando confiança.
— Eu sei... — a tristeza em minha voz era óbvia. — Amor, aonde vamos?
— Apenas curtir a Alemanha! — Afirmou. — Tenho boas lembranças daqui.
Encostei minha cabeça no banco do carro e tentei relaxar.
— Até de suas ex-namoradas? — Perguntei, lembrando do que a Anna havia me dito sobre o Tom.
— Não... — O tom de certeza em sua voz me deixou mais calma. — Você é a única mulher em que penso, todos os dias... 24h por dia.
Eu sorri suavemente.
— Tudo bem se você ainda pensar nelas. — Concluí. — Assim você pode ter certeza do que sente.
— Eu já tenho! — Disse ele, virando o volante.
— Que bom...
— Eu te amo mais do que tudo, você é minha vida e... você sabe disso. — A voz dele era áspera e apaixonante.
— Eu também te amo mais do que tudo, eu vivo por você... Bill. — Afirmei.
Sorrimos um para o outro, ele me fitou por alguns segundos e logo, voltou a olhar para a estrada.
Fomos a algumas lojas, museus de arte e partes da Alemanha, que me deixaram encantada.
Na volta, abri o porta-luvas do carro — com curiosidade — e vi o celular do Bill, lá dentro.
— Posso? — Eu estava me referindo a olhar o celular.
— Claro.
Peguei o celular e o liguei. Acabei rindo quando vi que a imagem de fundo era uma foto nossa; curiosa, eu fui ver as músicas que ele andava ouvindo e haviam umas muito boas, como as da Pink e do Green Day.
Nas mensagens, encontrei algumas que eu o havia enviado, nos arquivos. Por último, fui ver as ligações. Eu não sei o porquê, mas foi como um impulso.
O quê? Quem era "Natalie Franz"?
Haviam muitas ligações para essa Natalie, nem para mim haviam tantas. Eu fiquei um pouco irritada, e com muito ciúme. Mas eu não queria ser intrometida, mas eu era desconfiada demais.
— Bill, quem é Natalie Franz? — Minha voz estava pesada, como em um trovejo.
— A maquiadora da banda. — Respondeu ele, sério.
Se fosse uma amiga, não seria tão estranho aquelas ligações.
— Vocês se falam muito, certo? — Questionei, apertando meus dedos.
Ele deu um sorriso — idiotamente — lindo.
— Somos amigos... — disse ele, rindo — e ela sempre pede minha opinião para a maquiagem dos shows.
Eu não conseguia parar com as perguntas.
— Mas você não tem feito shows, ultimamente... — rosnei com ódio em minha voz. — Ela é bonita?
— Você está com ciúmes? — Supôs.
— Não! — Gritei, cruzando os braços e franzindo a testa.
Coloquei o celular dele no porta-luvas, de onde não devia ter saído.
— Está sim! — Afirmou, rindo de minha expressão.
— Não estou. — Eu estava sendo teimosa.
— Estou vendo em seus olhos... — Ofegou. — Você está com ciúmes da Natalie.
— Eu já disse que não! — Exaltei minha voz. — Eu só queria saber se ela é bonita.
— Ela é bonita. — Disse ele, acelerando o carro.
— Ótimo, não custou nada você me responder. — Arfei com drama.
— Amor, eu trabalho com ela a mais de 10 anos. — Começou. — Se eu fosse sentir algo por ela, não seria agora. Sua insegurança me magoa... me magoa saber que você tem dúvida do que sinto por você.
— Desculpe... — pedi em voz baixa.
— Eu sou seu, amor. E de mais ninguém.
De repente, lembrei-me da visão que tive. Eu não devia ser uma barreira na vida dele, ele merecia ser feliz.
— Pensando bem, se você gostar dela... — parei —, não vou te impedir de ser feliz. Vá em frente.
— Para com isso! — Ele estava começando a ficar nervoso. — É você quem eu amo.
Suas palavras cortaram meu coração.
— Eu sei, desculpe-me... por favor.
O sorriso em seu rosto voltou a surgir.
— Não peça desculpas, amor. — Hesitou.
Sua mão tocou a minha e sorri para ele, retribuindo seu sorriso.
Perguntei-me se ele sabia o quanto seu sorriso era lindo. Porque o sorriso dele mudava tudo, deixava as coisas sem sentido; o pior era eu saber, como tudo acabaria.
Talvez, tivesse que ser assim ou, estivesse tudo errado. Mas afinal, eu só sabia amá-lo e isso era o suficiente por um tempo. Só nos restava alguns dias — menos de 2 meses — e como eu queria que existisse mais tempo para viver esse amor.
A vida não acontece como queremos, mas o único jeito é aceitar e tentar deixá-la melhor. Mesmo que eu vá para longe, sempre o terei perto de mim; seu cheiro não vai sai da minha cabeça, sua imagem sempre perturbará meus pensamentos e seu sorriso continuará sendo inesquecível. Tudo — sempre — me lembrará dele, mesmo que eu não volte, eu sei que ele também se lembrará de mim.
É difícil aceitar, é difícil deixá-lo, mas o mais difícil é ficar aqui, sem poder fazer nada. Lutar, morrer, perder e vencer pelo que se ama, é o melhor jeito de se ter orgulho. E ficar assistindo tudo acabar, não era uma de minhas opções.
Fechei meus olhos — pesados — por um instante e tudo se apagou.
O ambiente ficou escuro e sufocado, e eu estava sozinha mais uma vez. De repente, ouvi risos.
Era o Bill, que estava com uma criança nos braços, um bebê. Aquela cena foi tão tocável e linda. Será que era filho dele?
"A mamãe logo, logo, vai estar aqui", disse o Bill quando levantou o bebê.
Voltei à realidade; aquela visão era parte da minha história, de uma história que eu ainda não tinha vivido.
Olhei para o Bill — frustrada — e senti meus olhos se encherem de lágrimas.
O que tudo isso queria dizer? Se fosse o filho do Bill, poderia ser meu, ou não.
— Você está bem? — Perguntou ele. — Está pálida e quase chorando.
— Eu... — decidi esconder dele, mais uma vez — acho que estou bem. Foi só uma tontura.
— Tem certeza? — Eu sabia que ele não acreditava em mim, mas ele escondia isso.
— Sim. — Menti.
Ele me fitou, desanimado e confuso. Com certeza, percebeu meu desespero inibido.
Era incrível como ele sempre sabia meus medos. Talvez, fosse nossa ligação.
Virei meu rosto — contra ele — para que não pudesse ver a pequena lágrima que fugiu de mim; eu me calei pelo resto do tempo que ficamos dentro do carro.
Chegamos à casa da Simone e já era de tarde, o Sol estava caindo sobre a cidade, com cores incríveis.
Entrei correndo para dentro de casa e fui tomar um banho rápido para voltar à NY. Meu corpo estava em êxtase, eu não sentia nada... o impacto da água caindo sobre minha pele, não fazia nada. Eu só sentia o toque do Bill.
Seu toque era algo que jamais mudaria, porque eu amava o calor e a hesitação do seu toque. E meu corpo reagia de um jeito tão perturbador, ele ficava imóvel. Era uma sensação de alegria, imensa; o que eu sentia com ele, eu não seria capaz de sentir por ninguém.
Olhei para os meus pés e, em seguida, para o chão sob eles. Eu estava tentando encontrar uma solução real.
Os minutos passaram lentamente, levando com eles a saudade de casa.
Arrumei-me e organizei minhas coisas, já estava na hora de voltar para NY, e com isso, torcer pelos dias demorarem a passar.
Foi difícil me despedir da Simone, ela já era parte de minha vida. "Se cuida, e cuide bem do Bill!" — Pediu ela. O Gordon chegou, quase, em cima da hora.
Fomos de táxi até o aeroporto e, só na metade do caminho, descobri que o Tom iria direto para L.A, tive certeza de que a conversa dele com a Anna... não tinha sido nada fácil. E eu não podia fazer nada para ajudá-la.
Apesar de tudo, aquela facada de ciúmes que eu sentia pelo Bill, ainda me deixava insegura. Eu nem conhecia a Natalie, mas eu sentia que eles tinham uma ligação forte. Devia ser só minha impressão, no entanto a sensação de desconforto, insegurança e substituição era enorme.
Quando chegamos ao aeroporto, o Bill colocou um boné — para se esconder — e devo admitir que ele ficava muito lindo de boné.
Nos sentamos e eu — sem ter nada para fazer — comecei a observar uma garota. Ela era loira, olhos claros, baixa e com uns 16 anos, no máximo. Eu a observei porque ela tinha um bebê em seus braços, uma criança com, mais ou menos, 1 ano. Suas bochechas rosadas e seus cabelo claro e liso, me fizeram lembrar da visão que tive.
A jovem mãe, parecia preocupada e frustrada, talvez esperasse pelo pai da criança. Enquanto o bebê fitava — com seus lindos olhos azuis — um ursinho, e sorria.
O aeroporto começou a ficar mais lotado, só no tempo em que eu observei a garota e seu bebê, algumas garotas se aproximaram e conversaram com o Bill e o Tom. E como a aproximação das pessoas foi aumentando, os seguranças nos levaram para a área VIP do aeroporto. Enquanto saíamos dali, o namorado da garota chegou. Ele a abraçou e pegou a criança no colo. Logo, tive que distanciar meu olhar deles, mas eu olhei para algo que era, ainda, mais belo. Era a coisa mais importante de toda minha vida, o Bill, a única coisa com sentido na loucura que eu estava vivendo.
Ele sorriu para mim — aquele sorriso torto de canto —, e eu quase desmoronei com seu sorriso. Tentei manipular meus pensamentos, porque eu me sentia mal acordada, sem reação. Eu via e ouvia tudo, mas eu não conseguia reagir ao que acontecia ao meu redor. Eu estava desligada.
Nosso voo, logo chegou. Sentada ao lado do Bill, tentei ignorar as ideias malucas, as hipóteses e tudo que pudesse me distanciar dele.
Ele segurava minha mão e, em momento algum, soltou-a. Senti-me mal ao ver a Anna triste e decepcionada. Olhei para o curativo em minha mão, que estava ali à toa — sem utilidade — e o Bill riu, ao perceber.
— Quantas vezes eu precisei de alguém como você... — Disse ele, apaixonadamente.
— "Você torna tudo tão difícil." — Brinquei. — Não é isso que você sempre diz!?
— Sinceramente... nem sei mais. — Ofegou.
Seus lábios colaram nos meus, rapidamente, e logo se afastaram.
— Quando eu voltar quero que você ainda seja o mesmo comigo. — Eu disse.
— E por que eu mudaria? — Hesitou.
Encostei meu rosto no banco e fechei os olhos por um tempo.
— Bill — suspirei —, todos mudam. Eu só não quero que você me ame de outro jeito.
Ele colocou a mão no colar que eu havia lhe dado.
— Sempre vou te amar do mesmo jeito — afirmou —, a única coisa que pode mudar é o tamanho do meu amor, porque ele só vai aumentar.
— Que bom, me sinto aliviada. — Brinquei.
— Mas não pense que vai ser fácil para você. — Continuou. — Nem pense em me trocar por algum bruxo.
— Você quis dizer "Warlock"... — brinquei. — Jamais.
Ele sorriu.
Depois de algumas horas de viagem, chegamos ao aeroporto de NY. Fomos de táxi até meu apartamento, onde desci com a Anna, e o Bill foi para o hotel.
Eu estava exausta, então fui direto dormir; mesmo estando quase amanhecendo.

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