20. Últimos Dias

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Com tantas coisas acontecendo, eu não tinha mais tempo para as coisas que eu amava fazer; meu aniversário se aproximava e tudo que eu havia vivido ia ficando para trás.
O Bill continuou comigo, e essa era a coisa mais importante. Como se não bastasse tudo que havíamos passado, eu ainda podia piorar as coisas — eu sempre podia, esse era o meu dom natural. — Eu estava tão próxima de me tornar uma Bruxa que não era tão difícil de sentir o que estava dentro de mim.
Em mais um dos "Últimos Dias", acordei bem cedo e desci para pegar o jornal. Era Domingo; o dia prometia ser chato, mas como isso era possível ao lado do Bill?
Entrei no elevador e apertei o botão para o 18° andar; eu estava beirando ao sono, mas não conseguia dormir sem ter um sonho — ou visão — relacionado ao que estava por vir.
Saindo do elevador, caminhei — hesitantemente e tediosamente — até a porta do meu apartamento. Quando eu a abri e vi o Bill sentado no sofá, mudei rapidamente; voltei a sorrir. E quando ele me olhou — com aquele olhar apaixonado e único — eu me senti livre de tudo, por um curto e impassível segundo.
A necessidade de ficar com ele era a coisa mais forte em minha vida e, ele sabia que eu seria capaz de fazer tudo para ver aquele olhar em todos os nossos dias juntos.
Sentei ao lado dele e comecei a ver o jornal; na verdade eu estava vendo-o por ver, porque meus pensamentos estavam ao meu lado.
Ele tirou o jornal de minhas mãos e — com muito carinho — colocou sua mão direita em meu rosto. Seus dedos seguindo os traços, inibidos, de minha pele e parando atrás de minha orelha. Em seu rosto eu via aquele sorriso sem explicação; um sorriso bobo e ingênuo, um sorrido torto e perfeito.
Fechei os olhos — por um minuto — confortando-me no silêncio e no carinho de sua mão. Devo ter sorrido; era uma sensação tão boa de paz e esperança, como se nos completássemos, como se fôssemos um só.
Abri meus olhos e ele ainda estava lá, imóvel e sorrindo.
Virei meu rosto e beijei sua mão; ele segurou-me pela cintura e me levantou, juntamente com ele.
— Você consegue sentir? — Sussurrou em meu ouvido. — A melodia, a paz...
— O amor — completei.
— O nosso amor! — Corrigiu-me, olhando em meus olhos.
Encostei meu rosto em seu peito, ele me segurou pela cintura e começamos a balançar — como se estivéssemos dançando.
— Como conseguem dizer que não existe nada perfeito? — Perguntei a mim mesma, mas em voz alta.
— Talvez, as pessoas que dizem isso, não sejam felizes como nós.
— Ou, talvez, a perfeição seja só nossa. — Eu disse, depois sorri.
— Assim seria injustiça. — Acusou.
Levantei meu rosto e nos fitamos por um tempo, até que rimos um da cara do outro.
Eu me perguntava se ele sabia o quanto eu sentiria falta de estar com ele; quando estávamos juntos nada importava.
— Podíamos fugir! — Alternou ele, brincando.
— Eu podia ser normal. — Balancei a cabeça, brigando comigo mesma.
Ele sorriu mais uma vez, antes de puxar meu rosto até o dele.
— Se você fosse normal, não teria como provar o quanto eu te amo. — Começou. — Pelo menos assim, só de querer ficar ao seu lado, eu já posso te provar que suporto tudo por você, até mesmo te deixar partir por um tempo. — Ele hesitou por um tempo. — O quanto você acha que eu te amo?
— Não sei se sou capaz de responder a essa pergunta. — Admiti.
— Você é minha vida! — Afirmou. — O ar que eu respiro. Eu preciso de você para viver, preciso de você para sorrir, preciso de você para acordar todos os dias acreditando que será o melhor dia de todos.
— Seria crime dizer que comigo acontece o mesmo? — Perguntei com cautela.
— Não, porque é isso que acontece com almas gêmeas. — Respondeu-me, cuidadosamente. — Sabe, eu abri mão da pessoa que eu mais amei durante toda minha vida, só para ficar com você. Eu abri mão de um pedaço de mim.
— Você está se referindo ao Tom, certo!? — Supus.
— Sim. — Confirmou. — Nunca imaginei que sobreviveríamos longe, um do outro. E hoje eu estou aqui, com você, e ele está com o David em Los Angeles.
— Eu acho que o amor de vocês é maior do que tudo. — Eu disse.
— Só é um "pouquinho" menor do que o nosso. — Sussurrou. — Sabia que no começo ele ficou com ciúmes de você?
— Sério!? — Indaguei, surpresa.
— É... prometemos que nunca nos afastaríamos e ele sempre disse que morreria sem mim. Mas as coisas mudaram, agora eu dependo de você e mesmo que a saudade seja insuportável, temos que aprender a viver distantes porque quando eu me casar com você... será para sempre. — Concluiu.
— Eu não tenho ciúmes, e posso te dividir com ele — brinquei — e além disso, você vai ficar alguns meses com ele, antes de eu voltar. Vou pedir para ele aproveitar sua presença.
Sorrimos juntos.
Ele suspirou profundamente; um suspiro longo e pesado.
— Eu não queria lembrar que você vai — disse ele, me segurando com força — eu queria ficar desse jeito para sempre.
— Desculpe, você sabe que eu tenho o dom de estragar tudo. — Concluí, por fim.
Me aconcheguei, novamente, em seu peito, segurando-o com minhas unhas.
— Eu te amo! — Disse ele, beijando minha testa.
— Eu te amo.
Nos abraçamos.
Ele encostou seu queixo em meu ombro e beijou minha nuca; escondi meu rosto segurando minhas — fugitivas — lágrimas. Seus braços me prenderam com tanta força, que eu podia ficar ali para sempre — essa era a minha vontade.
Afastei-me dele, colocando minhas mãos em seu rosto puxando apenas ele. Por fim, encostei meus lábios nos dele e hesitei antes de abri-los.
Ali estávamos, nos beijando mais uma vez; nunca era demais, eu sempre esperava por mais um beijo. Era do jeito que queríamos, sem controle e apaixonante, sem medo e intenso, sem pressa e perfeito.
Suas mão apertando minha cintura, indicavam que já estava na hora de parar; tirei minhas mãos de seu pescoço e recuei com cuidado.
— Bem, acho que vou fazer algo para a gente comer! — Avisei.
Ele franziu o cenho, mas logo voltou a sorrir.
— Vai lá!
Fui para a cozinha e comecei a fazer panquecas; era uma coisa fácil que eu amava fazer. Lembrei de quando minha mãe fazia para meus irmãos e eu, e quem comia mais era sempre eu.
Depois de terminar com a massa, coloquei a frigideira no fogão e acendi o fogo; em pouco tempo as panquecas estavam prontas.
— Amor... estão prontas! — Gritei.
Mas tarde saímos para dar uma volta pela Broadway, e depois fomos para um "parque de diversões".
— Está preparada? — Perguntou rindo.
— Não! — Minha voz estava assustada.
— Eu vou estar ao seu lado! — Garantiu-me.
— Eu sei, mas eu nunca estive em uma roda-gigante como essa. — Engoli em seco. — É assustador.
— Confie em mim!
Entramos na roda-gigante; enquanto ela subia meu coração acelerava como se fosse explodir. Segurei com tanta força no braço do Bill, que acho que devo tê-lo machucado, mas ele não disse nada.
Quando chegamos no topo — que ficamos parados —, eu olhei para baixo e por impulso fechei os olhos com força. O Bill colocou a mão em meu queixo e me beijou; entre o beijo ele sussurrou algo, quase indecifrável:
— Não tema!
Apertei meus lábios aos dele por um minuto; nesse tempo voltamos para baixo e a roda-gigante parou.
Saímos de lá e voltamos para casa; já estava escurecendo. Tomei um banho, depois o Bill tomou e nos sentamos no banco da varanda.
— Vou sentir falta desse lugar, dessa paisagem e das pessoas daqui. — Murmurei.
— Eu também vou sentir falta desse lugar — começou — afinal, foi aqui onde passamos pelos melhores e piores momentos de nossa vida.
— Nem acredito que está tão perto. Parece que nos conhecemos ontem, e agora já estamos sendo obrigados a nos separar.
— Mas é por pouco tempo, certo!? — Hesitou.
— Eu espero que sim. — Confessei. — Por sua culpa vou deixar meu apartamento. — Acusei-o.
Ele me olhou curioso e sorriu como um anjo.
— É. Não existe outro jeito, quando estivermos casados vamos precisar de uma casa só nossa. — Indagou. — E eu vou precisar de você 24h por dia, você não vai precisar trabalhar e será só minha.
Eu olhei para ele espantada.
— Não senhor, vamos ter a Lua de Mel para isso. Depois, eu vou querer trabalhar — discordei —, eu amo trabalhar, não vou aguentar ficar em casa sem fazer nada o dia todo.
— Como você quiser, mas te garanto que você não vai ficar sem ter o que fazer e muito menos com tédio. — Senti uma pontada de malícia em sua voz.
Eu ri, alto, e dei uma cotovelada — cuidadosa — nele.
— Tenho certeza disso também.
Ele me abraçou.
— Você será a mulher mais feliz do mundo. — Prometeu-me.
— E você o homem mais amado. — Garanti.
Nos aproximamos e nossos lábios se uniram; ficamos ali até o sono conseguir nos mandar para o quarto. Desta vez, quartos diferentes.
Quando me deitei na cama, a chuva desabou sobre a cidade; o som das gotas caindo no chão, formavam uma melodia calma e pesada, assim, fazendo com que meus olhos se sentissem pesados e cansados. Logo adormeci, como se tudo se apagasse.

Leb' Die Sekunde & Escreva Você Mesmo Seu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora