Eu poderia passar em todas as matérias do mundo; inglês, geografia, biologia, história, artes... menos química. Química é o meu pior pesadelo. Se eu reprovar esse ano química será a grande culpada!
Afasto a tabela periódica e enfio a cabeça no livro, literalmente, a madeira da mesa da biblioteca até range fazendo barulho no ambiente silencioso.
Sinto um tapa na cabeça e olho para cima, Tom.
— Que foi? Química de novo? – ele pergunta se sentando do outro lado da mesa.
— Pois é. Só espero não reprovar por causa dessa infame.
Tom ri ajeitando os óculos no rosto. Os cabelos claros normalmente espetados e bagunçados estão arrumados com gel e tudo hoje. Estanho imediatamente.
— Decidiu caprichar no penteado hoje?
Ele cora profudamente, as faces extremamente vermelhas. Tom consegue ser ainda mais tímido que eu, também não sei como é possível.
— É. – sorri todo encabulado.
Cerro os olhos.
— O que você não está me contando Holand?
Eu me sinto superior ao encurralar Tom do mesmo jeito que Mahogany me encurrala. Os mais desinibidos realmente têm algum tipo de poder sobre os mais tímidos. Eu felizmente sou um pouco mais desinibida que Tom.
Ele olha para os lados, meio que decidindo se conta ou não.
— Qual é Tom? somos amigos de infância, aposto que a Mahogany já sabe.
Uma expressão culpada passa pelo rosto de Tom. Nós somos um trio, amigos de infância, sempre juntos. Nenhum de nós gosta de ser excluído.
— Você sabe que com ela nós não temos escolha senão contar. – ele se defende.
— É verdade, eu te perdoou por isso. Mas agora você tem que me contar. – digo complacente. — É sério, se tivesse algo rolando comigo, eu te contaria.
— Nunca tem nada rolando com você.
— Nem com você.
— É diferente. Comigo é falta de interesse dos outros em mim, com você é falta de interesse seu nos outros.
— Tanto faz. Conta logo. – eu com certeza não quero entrar nesse mérito.
Tom apoia as costas no encosto da cadeira e suspira. E é um suspiro apaixonado. Me inclino interessada na condição do meu amigo.
— Lembra quando no ano passado o seu pai enviou o meu a negócios para Chicago e eu fui junto? – confirmo. — Eu conheci uma garota.
Sim, isso eu já sabia pela cara de bobo dele. Gesticulo para ele continuar.
— Meu pai foi negociar com a avó dela e ela estava na empresa quando chegamos. Lern, ela era tão linda, a mais linda de todas.
Sorrio para o meu amigo claramente apaixonado. Talvez um dia aconteça comigo. A menina provavelmente nem é tudo isso, mas ele vê assim pela névoa da paixão.
— Ela não estava tão interessada em conversar comigo, mas depois de um pouco de insistência da minha parte nós trocamos algumas palavras e consegui o número do celular dela. – ele sorri como se fosse a melhor lembrança da sua vida. — Eu enviei mensagens quando voltei para Mignton e inicialmente ela não respondeu nenhuma, mas depois recebi sua mensagem pedindo para mim parar de encher o saco. Foi minha deixa. Surpreendentemente consegui prender sua atenção e tivemos outras conversas, agora somos amigos.
O enigma sobre Tom é que ele é tímido para tudo, menos para chegar nas garotas desajeitadamente.
— Legal, mas vai namorar uma garota de outro estado? – franzo as sobrancelhas. — Se não se lembra, estamos na Califórnia, Illinois fica a muitas milhas daqui.
— É ai que quero chegar. – os olhos dele brilham. — Ela está aqui em Mignton. Acaba de vir de Chicago com a avó.
Então eu paro um segundo, pensando sobre essas informações que se não me engano já me foram dadas.... ah sim, a filha de Sinuhe da cafeteria! Em um estalo me lembro do favor que me comprometi em prestar dois dias atrás.
E não, eu ainda não fui ao médico.
— Que cara é essa? – Tom questiona apertando o colarinho da sua camisa com estampa Star Wars.
— O nome dessa garota por acaso é Camila?
— Sim! Camila Cabello. – os olhos ainda brilham. — Como sabe?
— É a filha de Sinuhe.
— Sinuhe da cafeteria? – uma confusão se forma em seu rosto. — O quê? A avó dela é Mercedes Cabello, dona de uma das maiores grifes dos Estados Unidos, como dona Sinu é mãe da neta dela?
Tenho um leve espanto. Então é Mercedes Cabello a tal "Mercedes" pela qual dona Sinu não morre de amores. Uau, isso é surpreendente. Os Cabellos são realmente milionários, a empresa de papai vendeu tecidos para a grife deles nessa viagem que Tom foi com o pai.
— Também não sei como dona Sinu foi se envolver com essa família. – cofesso que estou muito curiosa para saber o que houve, mas dou de ombros. — Onde está Camila? Você já falou com ela?
— Falei. – o sorriso largo em seu rosto diminui. — Ela é do tipo lobo solitário, prefere está sozinha na maioria das horas.
— Eu prometi a Sinuhe que ajudaria Camila a se enturmar, mas agora ela tem você. – uma idéia me surge e batuco com os dedos na madeira da mesa. — Por que não chama ela para a festa na casa da Mahogany amanhã?
Não é que eu não queira ajudar a menina a fazer amigos, mas sou péssima em fazer amizades, sou amiga de todos porque conheço a maioria desde pequena. E além do mais, Tom já tem meio caminho andado.
— É uma boa. – ele gosta da ideia. — Vou chamar sim.
Eu fecho os livros espalhados pela mesa. Nunca vou entender química, então por que insistir em uma batalha perdida? Tenho mais o que fazer, ou melhor, que estudar.
— Agora vou estudar para a prova de geografia de amanhã, junte-se a mim?
Tom passa a mão pelo rosto, os pelinhos ralos que chama de bigode atraem a atenção quando ele sorri.
— Não, obrigado – recusa. — Estudei para essa prova a semana inteira, já estou cheio desse conteúdo inclusive.
Me levanto organizando uma pilha dos livros que vou devolver. — Então, adeus.
Caminho para longe deixando o pequeno nerd para trás, ajeito os livros nas mãos distribuindo melhor o peso deles. Estou quase no balcão quando esbarro sem querer em alguém. Com o impacto, os livros se espalham livremente pelo chão.
— Droga, você precisa olhar por onde anda. – a voz bonita, porém irritadiça, reclama.
Me abaixo para recolher os livros e olho para cima. E nossa, tenho uma visão e tanto. A garota com uma carranca no rosto é incrivelmente linda, fico meio embasbacada enquanto a encaro. Os cabelos castanhos escuros são longos e produzem ondas, os olhos de amêndoa são grandes e prometem segredos, a pele bronzeada e lábios volumosos fascinam.
Ela também se abaixa e fica a minha frente, noto o piercing de argola reluzente em seu nariz. Em movimentos rápidos a garota começa a recolher todos os livros e somente a observo perdidamente enquanto isso.
— Toma garota – entrega a nova pilha de livros na minha mão. — Fique longe do caminho dos outros.
Com isso, ela se levanta e sai andando irritadamente. Não consigo deixar de notar seu corpo chamativo e bem distribuído, é difícil não escorregar os olhos para o seu traseiro bem valorizado naquela calça skinny.
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Wish
FanfictionLauren Jauregui é uma adolescente com problemas. Ninguém nunca desperta seu interesse e o seu estado de excitação nunca fica realmente... sólido. Tímida e retraída, porém também romântica e sonhadora, para ela é devastador pensar que pode nunca sabe...