RUGGERO NÃO se preocupa.
Ele ficava apreensivo por seus pacientes de vez em quando, mas preocupação não era com ele.
O pior dia da vida dele acontecera havia muito tempo, e ele sabia que as coisas jamais poderiam ficar tão ruins novamente; consequentemente, ele apenas seguia em frente. Não se afligia, nem ficava se remoendo ou se preocupava.
Ele não se preocupava fazia anos.
Mas agora havia alguma coisa lhe incomodando, e, ainda que tentasse ignorar o fato, o incômodo persistia.
Era apenas o segundo dia dele no Hospital Bay View, e haviam aberto a porteira.
Uma pessoa afogada havia sido trazida às pressas, assim como as vítimas de um engavetamento na estrada à beira-mar. Estava fazendo mais de 40 graus, e as pessoas estavam desmaiando por toda a parte. Era mais um daqueles dias em que todos se esforçavam para dar conta do trabalho, e trabalhavam até o limite e além.
Inclusive Karol.
Ele podia ver os tornozelos dela inchando à medida que o plantão prosseguia, a observava expirando pesadamente pela boca e suas faces vermelhas, enquanto ela esvaziava mais um carrinho e o preparava para a interminável lista de recipientes; podia ver o esforço nos movimentos dela, e, então, finalmente, a expressão de puro alívio em seu rosto às 3:30 da tarde, quando o plantão dela acabou. Enquanto a observava caminhar trêmula, gostando ou não, Ruggero estava preocupado.
– O que você vai fazer esta noite? – Malena estava digitando rapidamente em seu computador. No final da casa dos 30, e absolutamente estonteante, ela era também inteligente. Com cabelos negros compridos, tinha olhos castanhos amendoados, lábios vermelhos e grossos, e se vestia como se tivesse acabado de sair de uma capa de revista.
Felizmente, felizmente mesmo, Ruggero não se sentia nem um pouco atraído por ela, o que significava que não havia problemas em dividir uma sala minúscula e que eles podiam conversar com facilidade sobre as coisas, o que faziam naquele momento, enquanto Ruggero encerrava seu expediente e arrumava sua maleta. Era apenas o segundo dia de trabalho dele, e a papelada já estava se acumulando.
– Eu vou dar uma parada no escritório do corretor de imóveis, e então vou até a delicatessen para comprar uma salada de galinha em vez de um hambúrguer – Ruggero pensou por um momento –, e depois eu vou me obrigar a ir correr esta noite. – E você?
– Eu vou te mostrar... – Ela sorriu maliciosamente. – Venha cá.
Curioso, Ruggero foi até a mesa dela e olhou para a tela do computador, deparando-se com a imagem de um homem de aparência bem comum.
– Clínico geral, perto dos 40, tem filhos, mas não quer envolvê-los ainda...
– Como? – Ruggero não fazia ideia do que ela estava falando.
– Isso é bom – disse Malena. – O último cara com quem eu saí levou os filhos no segundo encontro! Nós conversamos pelo telefone – Malena explicou para um divertido Ruggero –, e ele parece ótimo; nós vamos sair para tomar um café esta noite.
– Você tem um encontro com ele?
– Café. – Malena riu. – Você deveria tentar, faria o maior sucesso!
Ruggero sacudiu a cabeça.
– Namoro via internet não é para mim.
– Não descarte a possibilidade antes de tentar.
– Tome cuidado. – Ruggero franziu as sobrancelhas. – Você não deveria levar alguém quando for encontrá-lo? Ele pode ser qualquer tipo de pessoa!
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Juntando Peças do Amor... (Ruggarol)
Roman d'amourKarol é uma jovem enfermeira, está grávida e solitária sem contar com o apoio familiar e muito menos com o pai de seu bebê, um homem mas velho que a iludiu com promessas que jamais cumpriria. Já Ruggero é médico e está sem rumo desde que uma tragédi...