Capítulo 16 - Epílogo

276 22 2
                                    

NUNCA, NEM por uma vez sequer, ela vacilou, ou duvidou.

Nem mesmo um pouquinho.

Apesar das previsões negativas de sua mãe, apesar do que ela lera sobre as “famílias agregadas” em um livro sobre psicologia infantil, que Karol acabara atirando na parede, nem por uma vez sequer ela pensou que o bebê deles iria mudar os sentimentos de Ruggero por Sol.

Porque sem Sol, eles não existiriam.

– Não falta muito agora – Ruggero apertou os ombros dela, deitada na mesa de cirurgia, com toda a paixão de um médico por uma paciente, mas era aquilo que ele fazia, às vezes. Eles haviam, somados, passado por três gestações, e todas haviam sido bem diferentes.

Aquela havia sido uma gravidez exemplar (descontando o grande ganho de peso que ela tivera), e tinha ido excepcionalmente bem até o último momento; mas depois de oito horas de trabalho de parto, respirando e fazendo força, o bebê ainda não queria nascer!

Ela trabalhara meio-expediente até o sétimo mês, porque escolhera assim. Karol havia contado a Ruggero sobre a dor nas costas, e os tornozelos inchados e doloridos, mas quando tivera uma enxaqueca fortíssima, preferira conversar com o obstetra, e não com ele.

E Ruggero havia massageado seu estômago, e beijado sua barriga, e feito todas as coisas certas, durante toda a gravidez. Os dois tinham feito tudo certo. Incentivado um ao outro ao longo do caminho, e assegurado um ao outro que tudo daria certo.

– Eu estou com medo... – Ela não estava nem sequer sedada; os médicos haviam sido tão mesquinhos a respeito da anestesia que ela estava pensando em escrever uma carta de reclamação. Do que adiantava ser a esposa de um médico? Uma epidural podia anestesiar seu abdômen, mas não anestesiaria o cérebro dela.

– E se as coisas mudarem agora?

Não importa quão bem você a arrume e o quão segura você a mantenha, sua bagagem sempre viaja com você; e de vez em quando, você tem que pagar pelo excesso, ou observar impotente enquanto o pessoal da alfândega abre o zíper e exige que você explique o que uma barra de chocolate estava fazendo escondida no seu sutiã.

Como se você pudesse explicar como ela fora parar lá.

E como se você tivesse pensado em contrabandeá-la para o outro lado do mundo.

Só que você tinha.

– Eu não quero que nada mude – ela chorou.

– A mudança pode ser uma coisa boa – ele disse, tentando confortá-la.

Eram só os três; Ruggero, ela e Sol. E ela temia por eles, e temia pelo bebê que estava chegando; temia a mudança. Mas aquilo estava acontecendo, não importava se ela gostasse ou não.

– Eu estou com medo, Ruggero – ela disse novamente.

– Eu sei.

Ela podia ver lágrimas nos olhos verdes dele.
– Lembre-se de Sol... ela era tão pequena e estava tão doente... e olhe para ela agora.

Ela sabia que os médicos estavam fazendo a incisão, porque o obstetra havia dito a ela, mas só tinha olhos para Ruggero. E podia ouvir o barulho, enquanto eles aspiravam o líquido amniótico, e ficou petrificada de medo.

– Como poderei amá-lo tanto quanto amo Sol?

– Espere para ver – ele disse, gentilmente.

Era mesmo um menino.

Um menino gorducho, que os médicos seguraram por sobre os lençóis, com um narizinho achatado e uma testinha franzida, que gritou e chorou e esperneou até que eles o colocaram no bercinho.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 14, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Juntando Peças do Amor... (Ruggarol)Onde histórias criam vida. Descubra agora