Capítulo 10 - A Ausência de um Coração

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Era noite, o escuro já havia preenchido todo o ambiente daquela sala. A pouca iluminação que tinha vinha de velas acesas no formato de um círculo que iluminava muito mal ao redor. Dentro da circunferência, a figura de uma jovem, de cabelos cacheados presos em um rabo de cavalo, empunhando uma katana, se preparava para o ataque.

Da escuridão que a cercava, uma flecha veio a toda velocidade pelas suas costas. Com um movimento rápido a jovem cortou-a no ar. Mas logo em seguida já vinha outra pelo lado direito, que também fora interceptada pela lâmina afiada da espada. E mais outras e outras vinham do completo breu, e com maestria, Meraxes as partia antes que se chocassem com seu corpo.

Ao final de tudo, o círculo de velas estava repleto de flechas partidas aos pés da garota. Suas roupas pretas de treinamento fediam a suor, mas a menina estava totalmente intacta.

— Muito bem! — falou Aryas surgindo das sombras. — Dessa vez, não houve nenhuma vela apagada. Está evoluindo bem.

— Você viu como eu consegui cortar duas ao mesmo tempo? — falava a menina saltitando de animação. — Eu nunca tinha conseguido fazer isso.

— Está chegando a patamares incríveis — respondeu o treinador adentrando ao círculo de velas.

A luz iluminou o corpo de pele escura do homem, ele aparentava ser jovem, os cabelos longos e cacheados estavam presos em um coque evidenciando as cicatrizes em seu rosto de todo o treinamento que passara para ser um exímio assassino. Naquele dia ele usava apenas uma calça preta e longa, seu abdômen definido estava exposto. Amarrada a cintura estava a aljava com as flechas que sobraram, e em sua mão direita o arco de estimação que ele sempre carregava.

— Nunca imaginei que chegaria aqui. — falava Meraxes sorrindo. — Quem diria que aquele fatídico dia da morte de meu irmão mudaria tanto o meu destino.

— Mas uma vez, eu peço desculpas pela morte dele. Ainda estamos tentando descobrir quem foi que nos contratou para o serviço.

— Assim que eu souber, pode ter certeza que arrancarei a cabeça dele com a minha lâmina. — Meraxes fazia movimentos de cortes no ar com a espada.

— Tenho certeza que sim. — Aryas sorria da cena, mas logo em seguida o seu semblante se entristeceu.

— Eu já falei que os perdoei — falou Meraxes segurando a mão dele e o olhando nos olhos. — Agora que eu entrei no clã, entendo totalmente. Um contrato significa uma morte, seja do alvo ou do contratante.

Os olhos negros de ambos se encaravam na pouca luz do ambiente. E mesmo na escuridão, o olhar de Meraxes brilhava de empolgação e amor.

— Você aprende muito rápido — ele sorriu para ela.

Aryas nunca foi uma pessoa de sorri, mas o vê-lo desse jeito a deixava feliz, e era tudo que ela buscava, felicidade. Meraxes soltou a katana no chão e passou seus braços por entre o pescoço dele, esticou-se um pouco, subindo na ponta dos pés, e o beijou.

O assassino de seu próprio irmão era, não só seu treinador, mas o amor de sua vida. Um amor que os pais da menina nunca aprovariam, se já não tivessem morrido de fome a algum tempo. O irmão mais velho foi a única coisa que havia sobrado para protegê-la, era sua família. E agora ela estava nos braços daquele que o tirou a vida, havia entrado pro clã dos assassinos e treinava para trabalhar com eles enquanto esperava um sinal que a ajudasse com sua vingança.

Ela manteve seu corpo amparado ao dele, após o beijo, alinhou sua testa à dele enquanto o observava sorrindo. Esse era o poder do amor? Capaz de perdoar até mesmo um assassinato?

— Me desculpe — Aryas falou.

— Mas eu já disse que os perdo...

A garota sentiu uma forte dor em seu peito, uma dor inaguentável. Ela olhou para baixo e viu o punhal de Aryas cravado em seu peito enquanto o sangue escorria pelo corpo dos dois. Perdeu as forças com a dor e desmoronou, ele a segurou e a deitou no chão. De seus olhos corriam lágrimas que ela jurou não entender, e logo em seguida tudo ficou escuro.

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