Caminhos à Floresta

Capítulo 6 - Tempos de Fé

Depois desse reencontro familiar, vamos mostrar alguém que está deixando a sua grandiosa família, aquela que está a mais tempo nessa jornada, cujo o caminho inteiro parecia estar escrito no céu. Em terras distantes da floresta proibida, existe uma tribo de guerreiros bárbaros, chamada Adju, que viviam isolados do resto da população. Esse povo acreditava serem descendentes direto do Deus Regem, o rei de todos os deuses e protetor da humanidade.

Eram guerreiros fortes, corpulentos e ágeis, em total contato com a natureza, eles se mantinham longe de assuntos políticos e territoriais. Havia, no entanto, uma menina que se destacava dos outros de sua tribo, ela nascera pequena, e crescera sendo magra e franzina, mas ainda amada por toda sua tribo como uma igual. Tudo na vida dessa jovem mudou no dia em que ela foi consagrada por uma deusa a ser a xamã da sua tribo. Mas estou devaneando, vamos prosseguir nossa história.

As últimas brasas alaranjadas da fogueira, que aqueceu a sua choupana a noite toda, dançavam ao som das orações de Myriam, que não dormira a nenhum momento esperando o destino que ela previu chegar a sua porta. Já sabia que iria partir em uma viagem longa e precisaria estar descansada, mas resolveu passar a noite em rezas com aquela que derramou benção e a tornou o que era agora. Para ela, esse era o melhor jeito de se preparar para uma longa jornada.

Suas amigas vieram acordá-la e prepará-la para a partida, melancólicas por isso, mas cientes de sua necessidade de ir. Duas mulheres grandes e corpulentas usando roupas de couro de animais adentraram a toca da xamã passando pela fina camada de pele que tampava a entrada e surpreenderam-se ao ver aquela figura magra, de pele castanha e cabelos ondulados que iam até à altura de seu queixo, ajoelhada fazendo suas preces.

— O sol já surge no horizonte — disse Stella. — Já é hora.

— Queríamos ir juntas a você — contestou Belia. — Mas sabemos que tens que ir sozinha.

Eram muitos acontecimentos para elas em tão pouco tempo. De um dia para o outro Myriam era a nova xamã da tribo, tivera que abandonar a toca que compartilhava com Stella, Belia e as outras amazonas mais novas para viver na sua própria, em oração. Não se casaria ou teria filhos, pois precisava manter seu corpo virgem e puro. Nem se quer podia mais caçar ou treinar, pois passava o dia cuidando das crianças da tribo e os ensinando sobre seus deuses, quando não estava atendendo aos problemas espirituais do povo.

— O futuro é uma sombra daqui pra frente. — disse ela abrindo seus olhos verdes indo ao encontro das amigas. — Mesmo com meu poder... Não tenho certeza se voltarei a Adju.

O silêncio que sucedeu após sua fala tornou o clima na toca ainda mais pesado. Myriam desde mais nova tinha sonhos recorrentes do que ocorreria com ela futuramente, a antiga xamã da tribo lhe contou quando ainda pequena que seu poder era fruto de algo maior, e que ela viria a entender mais a frente. E como lhe foi prometido, ela sonhou e se realizou, na noite em que descobriu que era a escolhida da grande deusa do céu, Paradys, foi o mesmo dia em que a sua tribo amanheceu e sua xamã havia partido desta vida. E Myriam assumiu seu lugar com muita honra e orgulho de toda a sua família.

— Fizemos isso para te proteger. — disse Stella, dando-lhe um cordão. — A madeira em honra a Fysi, a Deusa da Natureza que sempre nos abençoou nas caçadas.

— E a pedra em honra à Klip, Deus da força e da terra, que nos ampara em todas as batalhas — Belia sorriu sem jeito — Sabemos que você tem a proteção de Paradys, mas com isso você leva, também, uma parte de nós.

Myriam precisou conter as lágrimas. Ela compreendia que, assim como era ligada a Paradys; Fysi e Klip eram importantes para suas amigas, e pôde perceber a preocupação em seus olhos com ela.

— Paradys já sabe de tudo que vai acontecer, e sabe que carrego minha tribo junto a mim, para onde eu for. — disse Myriam se levantando e colocando o cordão em seu pescoço. — Lutarei. Com a destreza de Fysi e a força de Klip.