Cafajeste Perfeito

3 | Ela Não Perde Por Esperar



Queria poder dizer que o meu final de semana foi bem aproveitado, mas seria uma mentira das grandes, sendo que passei todo o domingo pensando nas inúmeras formas que eu utilizaria para me vingar daquela maldita e posso até confidenciar que a maioria das ideias que passaram pela minha cabeça poderiam me causar repercussão indesejada.

Calma, respira. Não pensei em matá-la e nem nada do tipo, vinganças radicais a esse estilo não fazem meu tipo. Quero algo que a provoque e que consiga irritá-la, não posso e nem vou deixá-la sair de vitoriosa nisso tudo, não me permito deixar que isso aconteça.

Só de lembrar do seu maldito sorriso de superioridade, já me faz reviver toda a raiva que senti naquele momento que sai escoltado do clube, como um mau-caráter, bandido, marchando pelo o corredor da vergonha com dois seguranças a tiracolo. Anne Brandt foi bem astuciosa, soube cavar minha cova direitinho e me deixou sem chance de revidar.

Mas ela não perde por esperar.

Ontem à noite, cheguei a mencionar ao meu primo Fernando sobre "A nova proprietária do Del Petra", para minha sorte ele já estava por dentro de assunto e começou a mexericar tudo o que sabia sobre ela e como já era de se esperar, possuía muitas informações importantes. Graças a tia Gleice com seus inúmeros eventos, deixava todos da ilha Gigoia super informadíssimos com tudo o que acontece no nosso meio, já sabem para quem meu primo herdou seu senso de fofoqueiro, não é? Que tia Gleice nem sonhe nisso que acabei de dizer.

A informação privilegiada era sobre a compra do clube, Anne é dona de apenas metade da propriedade, mesmo sendo sobrinha do dono e supostamente ter dinheiro o suficiente para comprar centenas de clubes como aquele, não conseguiu que seu tio Alexandre lhe vendesse o restante das ações.

E o melhor não era isso.

O restante das ações do clube ainda estava à venda. Bom, tecnicamente estavam sendo negociadas com um interessado. Ponderei a noite toda sobre o assunto e minha decisão foi algo bem aleatório — Mais aleatório que o normal—, decidi fazer uma oferta para comprar o clube, na teoria o restante das ações está sendo negociado com outro comprador, mas isso é apenas um pequeno e irrelevante detalhe, se o negócio ainda não foi fechado, não custa nada eu tentar.

Não se enganem comigo, não sou uma pessoa que costuma jogar sujo para obter o que deseja, mas dessa vez precisei apelar a golpes baixos. Conheço bem a amizade que meu pai tem com o Alexandre, pretendia usar isso para que influenciasse ao meu favor. Fiz uma ligação ao meu pai, demonstrando sempre o meu interesse em particular na compra do Del Petra e usando todos nossos momentos bons e recordações para desestabilizar o velho Edmundo.

Te disse que estava apelando. Como já era de se esperar, meu pai resolveu me ajudar optando por não pedir muitos detalhes para mim, só disse que faria o possível e me daria um retorno o mais breve que conseguir.

Queria dizer a vocês que me senti culpado, naquele instante, do senso maligno de vingança, onde não só planejo comprar um resort para me vingar da Anne, como também atrapalhei o cruzeiro do meu velho, mas não, esse sentimento de culpa não me invadiu. Apenas na parte do meu pai, já que ele tinha saído de férias com a esposa, até havia dito que não queria ouvir nossas vozes até voltar depois de três meses e que não era para atrapalhar seu descanso, mas meu irmão e eu sabíamos que nosso pai não estava falando sério com isso. Só é necessário darmos um grito de socorro que ele larga tudo para nos socorrer, ele nunca muda.

Já falei que vou recompensá-lo, não é? Só para lembrar mesmo, não quero soar como o filho ingrato.

Então o que me restava agora? Esperar, arriscariam a dizer. Errado. Não consigo apenas sentar minha bunda no sofá e esperar a maré vir ao meu favor. Pois o sangue Di Lucca corre em minhas veias, galerinha. Sou daqueles que interferem e fazem divisões para que as águas revoltas me beneficiem até em seu ápice de sobressalto.