Capítulo 4

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Acordo com o corpo dolorido, me remexo e percebo que estou deitada no chão. Me levanto e sigo para cama. Vejo na cabeceira que ainda marca dez horas da noite no relógio, ainda está cedo e como não estou escutando barulho nenhum imagino que minha mãe já esteja dormindo.

Tomo um banho rápido, e faço uma careta quando a água do chuveiro bate nos arranhões das minhas mãos. Saio do banho e me enrolo em um roupão. Abro a porta do quarto e me assusto quando o corpo adormecido da minha mãe cai do lado de dentro. Ela se assusta e a ajudo a se levantar.

- Graças a Deus minha filha - ela me abraça apertado e chora baixinho.

- Ei, o que foi? - pergunto preocupada.

- Você se trancou nesse quarto, não saiu por nada. Eu estava desesperada. - sinto um aperto no peito por ver a apreensão da minha mãe.

- Me desculpa mãe, acabei pegando no sono.

Ela assente e acaricia meu rosto, sei que ela quer me questionar sobre tudo o que aconteceu na sala, mas isso implicaria contar a ela os motivos que me levaram a cair daquela escada. E essa é uma ferida que eu não estou disposta a abrir, não nesse momento. Não quando ela ainda sangra por causa de Kamilla.

- O jantar está pronto, está com fome? - pergunta e respiro aliviada pela mudança de assunto.

Seguimos para a cozinha e ajudo minha mãe a colocar a mesa, não pergunto a ela o que aconteceu com Kamilla isso não é da minha conta, não quero saber nada que diz respeito a ela.

Os dias se passam e graças a Deus o incidente com meu passado ficou para trás. Minha mãe voltou para Uberaba me deixando apenas com a saudades. Gosto de ficar sozinha mas devo confessar que sua presença em casa me trazia uma alegria gostosa.

Chego ao hospital e vejo kamilla saindo novamente do mesmo consultório, se antes eu achava que era coisa da minha cabeça agora tenho certeza que era ela aquela dia.

Vejo de longe o quanto está abatida e que se segura na parede para se manter de pé. Dou um passo em sua direção com o intuito de ajudá-la mas me lembro que ela não merece nem ao menos minha compaixão.

Me viro para seguir para minha sala, mas algo dentro de mim se agita e antes que eu perceba estou batendo na porta do consultório onde Kamilla acabou de sair.

- Pois não? - o médico pergunta quando coloco a cabeça para dentro do consultório.

- Sou a Dra. Gabriela Silva, pediatra aqui do hospital - me apresento estendendo a mão para ele.

- Prazer, sou o Dr Vinícius Moura, Oncologista.

Meus olhos se arregalam para sua informação, sinto minha boca ficar seca e me sento na cadeira a sua frente. Ele fica preocupado e não sei de onde ele tirou, mas ele me estende um copo de água que só aceito quando ele coloca nas minhas mãos.

- Você está bem? - pergunta e nego com a cabeça.

- A paciente...A que acabou de sair daqui. Ela...o que...

- Você fala da Kamilla? - assinto e ele me olha de testa franzida.

- Qual o diagnóstico? - pergunto com medo da resposta.

Até alguns dias atrás tudo que eu desejei a ela foi a morte e o sofrimento, mas eu disse na hora da raiva. Eu jamais desejaria mal a uma pessoa dessa forma. Será que foi isso que a deixou doente, o jeito que a tratei? As palavras rudes que usei?

- Você é parente dela? - Vinícius pergunta se recostando na mesa.

- Não. Quer dizer, é complicado. Só me diga qual o diagnóstico dela. - vejo o olhar triste do médico, e sei que as coisas não são boas.

- Mesmo que você seja médica daqui, eu não posso te passar essa informação, não quando você não faz parte da equipe médica que cuida dela. Eu sinto muito. - sinto sinceridade em suas palavras.

- Equipe médica? É tão grave assim? - seu olhar de compaixão é o suficiente para me fazer questionar a gravidade da situação.

- Dr. eu esqueci... - A porta é aberta abruptamente e Kamilla entra sem graça ao me ver- Desculpa eu não queria atrapalhar.

- Aconteceu alguma coisa Kamilla? - Vinícius pergunta e ela me olha.

- Vou deixar vocês a sós.- falo me levantando da cadeira.

- Espere Dra. Fique. Assim Kamilla pode dizer pessoalmente a você, se ela quiser claro, qual o seu diagnóstico - o médico fala e o fuzilo com o olhar.

- Não é necessário, eu estou atrasada para minha primeira consulta. - falo tentando sair mas Kamilla entra na minha frente.

- Você veio aqui saber sobre mim? - pergunta e nego com a cabeça.

Peço licença e quando ela sai da frente da porta tento sair, porém sua voz me paralisa no lugar.

- É câncer no pâncreas, não tem cura. - me viro lentamente para olha-la e um sorriso triste se molda em seus lábios.

- Como?

- Acho que estou pagando tudo de ruim que fiz, no final das contas a vida cobrou seu preço - suas palavras acertam em cheio meu coração.

- Não, tem cura sim. Você só precisa fazer o tratamento. Não é mesmo Vinícius? - o médico me olha e nega com a cabeça.

- Já tentamos de tudo, quimioterapia, cirurgia. Mas o câncer se espalhou. Na última ressonância que fiz, me senti uma estrela cadente de tanto que brilhava. - engulo em seco e encaro a mulher na minha frente.

Só agora me permito realmente olha-la de verdade, sem o ódio ou mágoa, apenas olha-la. Ela está mais magra, tem olheiras e marcas profundas sobre os olhos. Usa um lenço no cabelo, e seu olhar está perdido e vazio.

- Quando? Quer dizer como? Você parecia...

- É uma longa história, que eu queria muito te contar. - sua súplica é o suficiente para me fazer entender que eu não tenho nada haver com Isso.

- Eu sinto muito, eu nem sei porque estou perguntando sobre isso. Não me interessa nada disso. - falo e Kamilla assente.

- Você é a única pessoa que eu confio, só me deixe explicar. - nego com a cabeça.

- Eu preciso ir, te desejo melhoras, e que seu tratamento dê certo. Mas não quero fazer parte disso.

Saio do consultório de Vinícius e sigo para o meu, faço uma oração silenciosa para que Kamilla não venha atrás de mim. Não vou saber lhe dá com mais nenhuma informação hoje.
Sento em minha cadeira, e seguro minha cabeça com as mãos. Nada me faria imaginar que ela estivesse em estágio tão avançado de qualquer doença.

Sei que desejei a ela o mal que ela me causou, mas falei da boca pra fora, na hora do ressentimento. Desejo que ela fique boa, ela tem um filho pequeno para criar, e ela foi minha amiga, minha irmã. A pessoa mais próximo de mim, e agora está doente, e pode morrer. Não! Ela não vai morrer. A ciência está muito avançada, não encontraram a cura para o câncer ainda, mas com toda certeza o tratamento será o suficiente.

Ela ficará bem, voltará para sua antiga vida e curada.

Respiro fundo, tiro dos pensamento qualquer dúvida ou questionamento sobre ela e chamo meu primeiro paciente.

Volto para casa antes das seis, hoje nem o bolo da Dona Tainá me anima, tudo que eu quero é um banho e dormir.

Olá amores, tudo bem?

O que estão achando da história de Gabi e Kamilla?

Como vocês viram hoje entrou um novo personagem na história e posso adiantar que será permanentemente.

A partir de agora a historia ganha um novo rumo, os recomeços começam a se criar, novas historias ganharam vida, e Gabi e Kamilla... Ah isso não conto, deixo para vocês descobrirem no decorrer da história.

Beijos meus amores e até a próxima

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