Olho para mulher a minha frente que até alguns anos atrás eu julguei ser minha melhor amiga e minha irmã, e sinto nojo. As lembrança daquela maldita tarde me voltam a mente e fico me perguntando se algum dia eu serei capaz de seguir em frente sem guardar tanto ressentimento.
Posso ver o medo e o arrependimento passar pelos seus olhos, mas sou incapaz de acreditar em qualquer coisa vindo dela.Ela tenta se aproximar mas dou um passo para trás, olho novamente para criança e as lágrimas queimam meus olhos.
Quero questiona-la, gritar ou até mesmo estapear seu rosto até ter minhas forças esgotadas. Mas para que? A verdade está bem aqui na minha frente, a vida fez questão de esfregar com uma boa dose de ironia que a mulher que destruiu tudo de melhor que eu tinha na vida, tem um filho que deveria ser meu. Mas até isso ela tirou de mim.
Sem aguentar ficar mais um minuto na frente dela me afasto e sigo para porta, mas antes de sair da confeitaria sinto meu braço sendo puxado.
– Me solta – me viro abruptamente e empurro Kamilla que cai no chão sob o olhar atento das pessoas do lugar.
– Você só precisa me escutar. Por favor – fala com lágrimas nos olhos.
Vejo seu filho se aproximar dela e sem imaginar que eu seria capaz, eu a odeio mais.
– Não volte a cruzar meu caminho, ou te darei a surra que você não levou a dois anos atrás. – falo em um tom baixo.
– Por favor Gabi... – implora e a olho com desprezo.
Saio da confeitaria sem olhar para trás, sinto minhas pernas trêmulas e um nó se forma em minha garganta. Antes de chegar no carro, coloco tudo que estava no meu estômago para fora. As lágrimas molham meu rosto deixando um rastro de angústia em meu peito. Sinto cada célula do meu corpo em chamas, uma raiva que nem nos meus piores pesadelos imaginei sentir se apodera de mim. Minha vontade é de voltar lá e por para fora cada dia que passei chorando, e estapeia-la até sentir que ela sentiu pelo menos um grãozinho da minha dor. Mas isso não vai acontecer. Nada que ela passar nessa vida será suficiente.
Entro no meu carro e dirijo no automático. Entro em casa e deixo as sacolas no balcão, vejo minha mão gesticulando algo para mim mas não consigo decifrar uma palavra sequer que sai dos seus lábios.
Sigo direto para meu quarto e tranco a porta. Me deito na cama e sinto a dor me rasgando por dentro. Tenho vontade de chorar e de gritar, mas parece que tudo está preso na minha garganta. A sensação me sufoca e as lembranças da morte do meu filho são substituías pelo rosto assustado do filho de Kamilla quando a viu no chão.
Ele é tão lindo se parece tanto com Ricardo. Será que meu filho seria assim? Será que também teria os traços do pai? Porque me torturar assim, Deus? Porque ela tinha que voltar e esfregar seu filho com ele, pior, me fazer atender a criança quando ela sabia que eu tive o meu arrancado de mim. Escuto gritos na sala e me sobressalto. Fico assustada com a possibilidade de alguém ter entrado em casa e ter feito algo para minha mãe.
Saio do quarto assustada e fico perplexa com a cena que vejo.
– Pelo amor de Deus Kamilla, saia daqui. Se Gabi te ver ela irá surtar– minha mãe tenta empurrar Kamilla para fora, que quando me vê chegar se desvencilha.
– Gabi, eu sei que você me odeia. Eu sei que não deveria estar aqui. Mas por favor você precisa me escutar. - me aproximo até ficar parada na sua frente
A mágoa que estava guardada dentro de mim, o ódio que senti dela por todo esses anos volta com força total, me fazendo esquecer de raciocinar e perder completamente o bom senso.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Recomeços
RomanceCAPA PROVISÓRIA Gabriela Silva era uma mulher de bem com a vida tinha um trabalho perfeito, uma amiga que era como uma irmã e esperava um filho do homem que amava. Ela tinha tudo o que desejava, nada poderia dar errado, estava tudo correndo perfeita...