Capítulo 6

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Chego ao prédio que Kamilla mora, e por uma infeliz coincidência coisa que eu não acredito nenhum pouco é uma rua atrás de onde eu moro.

Deixo meu carro estacionado em frente ao prédio e informo meu nome ao porteiro, logo minha entrada é liberada e sigo para o elevador.

Minha cabeça entra em combustão nesse momento.

O que estou fazendo? Indo ajudar a pessoas que causou minha pior dor, sentindo compaixão de alguém que não merece nem por um segundo meus pensamentos, eu tenho tanta mágoa guardada dentro de mim e mesmo assim estou aqui. 

O elevador se abre e saio insegura, paro em frente a porta do apartamento dela meu coração bate acelerado e a culpa por estar aqui me invade. Ela matou meu filho se está morrendo ou se vai morrer que faça isso sem mim. Me viro e sigo novamente para o elevador mas uma voz atrás de mim me impede de continuar andando.

– Graças a Deus você chegou Dra. – Sônia fala me assustando.

– Eu já estava...

– Entre por favor, eu estava te esperando – engulo em seco e a sigo para dentro.

Olho tudo à minha volta e o apartamento parece com o meu a diferença é que tem brinquedos e coisas de criança espalhados.

– Eu não sei mais o que fazer, ela não para de vomitar está fraca e não come nada. – Sônia fala me tirando dos meus devaneios.

– Cadê o Gabriel – pergunto preocupada.

– Ele está dormindo mas logo acorda para mamar, eu já deixei tudo pronto deixei anotado na porta da geladeira o jeito que ele gosta da mamadeira. Deixei uma sopa para Kamilla, pobre moça não aguentou nem sentir o cheiro da comida. – fala apressada me deixando confusa.

– Virá outra babá cuidar dele? – pergunto estranhando ela pegar sua bolsa.

– Não. Você vai ficar e cuidar deles não é? Eu preciso ir embora meu marido vai chegar logo do trabalho e preciso preparar o jantar. 

– Eu o que? Não...eu não posso. Desculpa...

– Mas ela precisa de você, disse que você é a única amiga que ela tem aqui, eu não posso deixá-la sozinha nesse estado, e o menino? Quem vai cuidar dele? – pergunta apreensiva.

– Não sei, mas não serei eu – falo na defensiva.

– Por favor Dra. Ela precisa de você fique pelo menos pelo menino. Ela não tem condições de cuidar dele – A barreira que ergui em volta do meu coração acaba de ser rachada.

– Eu não posso – falo em um sussurro carregado de dor.

O que essa mulher me pede é cruel demais cuidar de Kamila já é um absurdo,  do seu filho então, é abrir férias dolorosas demais, me fazer segurar o filho dela quando eu não pude fazer isso com meu é desumano. Porque meu Deus? Porque está me castigando desse jeito? Tudo que eu passei não foi suficiente?

– Cuide deles, amanhã volto cedo e que Deus a ajude a passar desta noite – fala com pesar.

Sônia sai da sala me deixando completamente perdida e desesperada, olho para todos os lados e me sinto sufocada, eu não deveria estar aqui eu nem ao menos quero estar aqui.
Sinto minha respiração acelerar, as lágrimas queimam os meus olhos tenho vontade de sair correndo e gritar até sentir toda a dor do meu peito sumir.
Sinto muito que ela está sofrendo e doente mas não ficarei aqui sendo torturada pelas malditas lembranças ela não merece minha compaixão. Sigo em direção a porta mas o choro de criança me assusta.

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