Capítulo 16

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– Ei, Gael! – Alan exclamou, vendo o albino pesquisar nos computadores da informática. – O que está havendo?

– Ao que você se refere? – Perguntou, surpreso por Alan conversar com ele.

Depois do vexame que Gael deu quando praticamente desmaiou em Alan, sua memória se apagou. Mas Judith podia ser sua memória. Ela tinha contado que Alan precisou carregá-lo NO COLO e a partir desse momento sua dignidade desmoronou.

Sua pele formigava quando lembrava que Alan poderia ter lhe transferido germes. Gael pensou que sufocaria: como se seu corpo estivesse imerso em água impura que o cercava por todos os lados. Ele se sentia assim quando alguém o tocava, mesmo que a sensação da pele de Alan fosse boa.

– Você ainda está com olheiras e seu corpo parece que foi destruído por um trator.

Gael nunca olhava para os olhos de Alan, mas com o tempo ele aprendeu a fazer leitura labial e entender o que a pessoa sentia só com o jeito que movimentava a boca. E agora Alan estava preocupado e irritado.

– Sua preocupação não faz sentido em absoluto.

– De novo essa merda? – Bufou.

– Você me conhece a pouco tempo e até alguns dias nós estávamos travando intrigas. Você estava fazendo piadas de cunho pejorativo com a minha situação que faz parte de um dos transtornos do espectro autista, não obstante você...

– Eu já pedi desculpas! – Cruzou os braços, corando. – Você não vai esquecer?

– Esquecer? Têm memórias que o cérebro não apaga na fase do sono de ondas lentas – Esclareceu, sem entender porquê Alan estava se exaltando.

– O quê? – Olhou-o, ainda mais perdido. A questão era que nenhum dos dois se entendiam. – Eu sei que fui horrível, desagradável, babaca e...

– Você deduz que eu esteja bravo? – Perguntou, vendo a urgência de Alan em se explicar. – Você já pediu desculpas. Você foi devidamente cortês e usou suas habilidades de empatia.

Alan não estava entendendo porra nenhuma, e toda a situação piorou quando Gael lhe entregou um pirulito.

– Pirulitos para palavras mágicas – Sussurrou, se lembrando de seu avô.

– Haaaaã.... Isso é para mim?

Gael assentiu.

Caralho, ele realmente não era normal.

– Tá, valeu... – Fez uma voz estranha, mas mesmo assim guardou o pirulito no bolso.

– Não se esqueça de passá-lo debaixo da água corrente. É mais higiênico – Concluiu, e Alan não viu sentido nisso até se lembrar que Gael tinha TOC.

Calma.

Alan precisava ter paciência. Foi o que Alina disse para ele.

– Bem, eu vim aqui para te perguntar se você não quer sentar com a gente no refeitório. Nós vamos almoçar.

Depois do incêndio no laboratório, todos os alunos se esforçaram ao máximo para conseguir ressarcir os danos. A equipe responsável teria que pagar pelo estrago, além da reprovação. Mas Gael não fazia parte dessa equipe; ele trabalhava sozinho. Só precisou convencer os professores para fazer outras atividades práticas sem o laboratório. E como Gael era uma espécie de "queridinho", mesmo que não fosse lá muito querido, ele ainda era uma benção para a grade de bioquímica que sempre ganhava pontos por tê-lo como aluno.

Ele ainda poderia se formar no final do ano, mesmo que precisasse ficar acordado nas noites para preparar trabalhos acadêmicos.

– Eu não vou repetir – Comentou, a voz calma mesmo que suas palavras fossem duras.

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