Capítulo 23

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– Alan, nós vamos sair – Gael afirmou, fazendo o ômega quase derrubar seus livros de filosofia.

– O quê?! – Berrou, antes de Gael colocar as mãos nas orelhas. Ele odiava gritos.

Mas era claro que o ômega não evitaria demonstrar seu horror. Gael estava o convidando para sair? Isso era um miragem ou uma brincadeira sem graça?

– Vamos para o observatório astronômico da Praia dos Containers. Natã irá palestrar esta noite.

– Quem é Natã? – De repente se esqueceu de que Gael estava o convidando para sair. O alfa nunca falava sobre ninguém. E a forma como sua voz se familiarizou quando pronunciou "Natã", fez Alan imaginar se ambos eram próximos.

Começou a se sentir desconfortável, não sabendo porquê quase rosnou.

– Um colega de iniciação cientifica. Ele é astrofísico – Deu de ombros, estranhando quando Alan mordeu os lábios inquietamente.

– A Praia dos Containers é longe. Você simplesmente decidiu isso sozinho?

– Você aceitará, de qualquer forma.

Alan o encarou horrorizado, antes de um sorriso sarcástico rasgar seu rosto.

– Você é bem convencido, não é?

– Hum? – O olhou perplexo. Gael não era convencido... Ele era?

– Quem disse que eu vou? – Provocou, se inclinando de forma que seu rosto estivesse próximo a Gael que recuou alguns passos. Era sufocante ter Alan perto, mas ainda continuava sendo menos do que com outras pessoas que mais pareciam ervas daninhas no meio do seu jardim.

– Minha intuição. E algumas pesquisas banais na internet.

– Você acha mesmo que eu vou aceitar?

– Seu comportamento, em luz dos seus sentimentos por mim, afirma que você aceitará meu convite, mesmo que você tencione ser orgulhoso. Judith disse que "você fica bobo quando está perto de mim". Esse "mim" sou eu?

– Judith... – Rosnou. Estava começando a se arrepender de contar certas coisas para a garota. – Bem, e são muitas informações para apenas uma frase.

– Na verdade, foram várias orações.

Alan ignorou a correção, sua mente estava mais focada na ideia de que Gael estava começando a compreender sobre flerte.

Sentimentos por você? – Riu secamente, mesmo que seu pulmão parecesse imerso em chumbo. Se ele começasse a entender o que Alan estava sentindo, iria dar muita merda. – Gael, você está... está... Ah, droga! Só não fale isso em voz alta perto de ninguém!

– Ao menos Elias? – Piscou ingenuamente, mas dessa vez ele não estava sendo tão inocente.

– Por que você sempre fala sobre Elias? Eu estou começando a achar que você está apaixonado por ele.

– Eu não, e você?

– Claro que não! – Riu alto quando viu Gael suspirar aliviado.

– Ótimo. Eu estava iniciando um novo e desconfortável impulso no meu inconsciente quando eu imaginei vocês sendo "parceiros de foda" e fazendo coisas que "parceiros de foda" fazem.

– GAEL! – Alan parou de rir, repreendendo-o chocado. – Você está pensando em mim e Elias transando?

Deu de ombros.

– Isso não permaneceu somente no imaginário. Eu tive o vislumbre de...

– Chega de falar de Elias! – Interrompeu imediatamente. Gael às vezes o fazia se sentir exposto como se estivesse nu. – Ah! E você me chamou de orgulhoso também! Você acha que eu não ouvi?

– É evidente que ouviu. Eu falei para ser ouvido.

Alan abriu a boca para discutir, mas se calou. Gael era diferente, e ele precisava entender isso.

– Alan, acalme-se... – Sussurrou várias vezes, como se estivesse fazendo uma meditação interior.

– Algumas pessoas já me avisaram que falar "sozinho é estranho". Você está fazendo isso agora – Alertou, olhando em volta para ver se alguém estava escutando. As pessoas poderiam chamar Alan de "bizarro" como faziam com ele. – Rumar em direção ao self em diálogos solitários (que é a forma como a psicologia junguiana defi...

– Ora, cale a boca! – Bufou, antes de mudar de assunto numa tentativa de se acalmar: – Você estava se referindo a um encontro?

– O nosso encontro? – Alan quase se engasgou. – Bem, é um encontro. Nós vamos nos encontrar. No dicionário a palavra "encontrar" signifi...

– Tá, você não entendeu – Gael se sentia irritado quando diziam "você não entendeu". Ele entendia muitas coisas, principalmente sobre astrobiologia. – Você quer mesmo que eu vá?

Assentiu enquanto Alan refletia consigo mesmo se isso estava acontecendo. Não podia ser verdade.

– São quatro horas daqui a Praia dos Containers. Meu sindico não gosta que chegue tão tarde.

– Você é filho de Alba. Eu presumo que ela ainda continue a residir na Praia do Containers. Você pode passar à noite na sua antiga casa.

– O que... Como você sabe que eu sou filho dela? – De repente derrubou o que segurava nos seus próprios pés, antes de dar um berro e se contorcer de dor.

– Ela era minha orientadora na escola – Olhou de forma engraçada para Alan que revezava a expressão de dor com a de surpresa. – Já tive várias consultas com ela, e em um dia Alba desapareceu. Eu deduzi que ela tivesse partido para sempre. Todavia, ela dissertou uma carta cientificando-me que você havia adoecido e que ela precisava passar alguns dias com você.

– Isso não resume nada – Fechou a cara. Caralho... As coisas mais vergonhosas aconteciam quando Gael estava próximo. – Como você descobriu?

– Eu esporadicamente solicitava que ela me contasse sobre a vida doméstica. Ela adorava falar sobre os filhos. Eu só uni as peças. Você disse que tinha quatro irmãs; Judith já havia dito que você também era da Praia do Containers.

– Minha mãe também já contou sobre você.

– Contou? – Seus olhos dobraram de tamanho e Alan quase riu da cena cômica. Gael parecia que a qualquer momento colocaria uma luz em sua cara e o torturaria até que falasse.

– Oh, sim. Muitas coisas... – Brincou, mas ao ver a expressão de Gael se transformar numa dolorosa curiosidade, assustou-se.

Era normal agir assim?

– E você não irá esclarecer? – Continuou, ao ver que Alan não comentaria sobre nada.

– Bem, podemos conversar no caminho – Deu de ombros, antes de sorrir.

Caminhou com um ar de mistério até a saída da biblioteca, mas Gael se enfiou na sua frente. Era estranho ver os seus olhos neutros agora cintilando. Ele parecia alegre e eufórico.

– Isso é um "sim"?

– Você sabe que é. Você mesmo disse que eu não poderia negar. 

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