Capítulo 14

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– Porra! Você não vai conseguir ficar nem mais uma hora desse jeito! – Brigou, colocando Gael em cima da mesa do professor depois de fechar a porta de uma das salas que estavam vazias.

Alan tinha pensado em carregar Gael em seus braços, mas sabia que seria um passo longo demais. Já tinha sido muito quando ele passou os braços em volta dos seus ombros; os lábios próximos demais. Sua razão sumia aos poucos quando o viu fechar os olhos, quase adormecendo em seus braços.

Só de lembrar, suas bochechas coraram. Mas não permitiria que Gael descobrisse.

– As pesquisas... hum... foram mitigadas... queimadas... solapadas... – Massageou as têmporas. Estava sendo difícil ficar acordado.

– Eu sinto muito – Alan suspirou. – O que vocês farão agora?

– Suicídio coletivo.

Alan riu, mesmo que o tom de Gael estivesse sério.

– O que aconteceu? Aquelas explosões químicas?

– Um dos alunos pairou sob as chamas compostos comburentes. Ele teve queimaduras de primeiro grau.

– Teve ambulância e tudo? – Perguntou, tentando desfocar seus olhos de Gael que quase caia sob seus braços.

– Sim.

Alan sabia que seus hormônios de ômega eram ótimos soníferos que afetavam crianças e alfas, e entendia que Gael estava quase adormecendo não só pelas noites que passou acordado. Sabia que o alfa estava sentindo seus feromônios no ar.

– Uau! Eu acho que seus colegas ficaram satisfeito com o karma. Veja só, ele destruiu as pesquisas, mas teve queimaduras.

Gael o olhou horrorizado.

– Eu não sou vingativo.

– É mesmo? – Ergueu uma sobrancelha. – Você parece calmo, mas todas às vezes que eu testei sua paciência você respondeu agressivamente.

– Isso porquê... porquê... – Cambaleou para o lado, antes de despertar de vez quando bateu a cabeça na parede. Ficou desnorteado enquanto Alan ria.

– Você precisa ir para casa. Agora.

– Temo que se eu for, meus compromissos se completarão... quer dizer, se perderão... Espera! O que eu estava declamando? – Deu tapinhas no rosto, vendo Alan rir loucamente da sua cara de espanto.

– Caralho, você está delirando – Estendeu a mão para Gael. – Vamos, eu te levo para sua casa. Desmarque toda essa putaria de compromissos e blábláblá de estudos. Seus neurônios vão fritar.

– Hum... Eu posso... posso ir sozinho – Sua língua pareceu uma lixa seca.

– Eu dirijo, é só me falar o endereço – Garantiu, mas Gael negou.

– Eu não... Alan! Pare de liberar feromônios! Eu estou quase desmaiando – Se esforçou para parecer irritado, mas nada mais estava fazendo sentido. Ele só queria adormecer.

– Sinto muito, mas é meu instinto.

– Eu não estou tão desvanecido... e frágil como você está imaginando – Mentiu, na verdade nunca se sentiu tão desprotegido como naquele momento.

– Você é chato pra cacete – Grunhiu Alan, aproveitando para puxar delicadamente os braços de Gael para si quando começou a perder os sentidos. – Veja só, isso não significa nada. Eu só estou sendo caridoso.

Olhou-o confuso quando teve seu corpo erguido pelos braços do ômega: sua bochecha roçando levemente na jaqueta da pessoa que mais queria que permanecesse longe. Sentiu seu corpo sendo levado, mas estava tão indisposto para a briga que nem se deu o trabalho de retrucar. Ele só conseguia pensar no quão acolhedor era o calor de Alan.

E o fator tempo se desintegrou naquele momento: Gael não sabia quanto tempo foi carregado: se demorou minutos ou uma pulsação; ele só queria escutar e escutar as batidas do coração de Alan perto de si.

Fechou os olhos e se perguntou porquê estava tão acelerado.


Alan acariciou delicadamente a bochecha de Gael que dormia no banco da frente de seu carro. Tinha sido fácil carrega-lo pelos corredores. A parte mais difícil foi a respiração batendo contra a sua pele, fazendo-o se arrepiar como se estivesse frio.

Foi ai que caiu a ficha.

Gael tinha TOC, além de ódio mortal pela sua pessoa. Se acordasse e percebesse que estava "contaminado" certamente o mataria. Mas isso não importava, pois agora Gael estava adormecido: os cílios tremendo suavemente em algum sonho; os cabelos curtos e brancos roçavam em sua têmpora e o ômega se aproveitou disso para tirar algumas mechas da frente de seus olhos. E teve que confessar que a textura dos fios de Gael eram incríveis. Era tão macio e... diferente. Ele todo era diferente.

Alan sabia que estava impactado por Gael. Era estranho pensar no jeito como as suas palavras bailavam por sua mente durante dias; na maneira como prestava atenção em cada pequena reação que Gael tinha e como seu interior ficava contente mesmo quando ele estava irritado. Isso significava que ele sentia alguma coisa. Se ele sentia raiva, quem sabe, poderia sentir outras coisas.

– Nossa, ele está dormindo mesmo – Judith parou ao lado do carro de Alan que tinha deixado a porta, onde Gael estava, aberta. – Eu trouxe cafeína.

– Algo me diz que ele já tomou muito disso.

– Bem, isso é a única coisa que vai acordá-lo.

Judith o tocou levemente, despertando-o.

– Você não pode dormir ainda – O ômega alertou quando o viu abrindo os olhos, parecendo perdido e assustado.

– O que...

– Alan vai te levar para casa. Precisa ficar acordado senão você não vai conseguir mostrar seu endereço – Judith interrompeu, estendendo café para Gael que reclamou, coçando os olhos.

– Não quero... – Sua voz pareceu como de uma criança manhosa e Alan riu, limpando o canto de seus lábios com a manga da sua jaqueta.

– Você está babando – Sorriu, passando o polegar na bochecha de Gael que bocejou, se inclinando sob o afago. Ele estava tão delirante que nem se incomodou quando Alan o tocou.

Judith ficou horrorizada, mas não disse nada. Algo definitivamente não estava certo.

– Você quer eu o leve?

Negou, antes de deixar o banco de Gael mais ereto para que ele ficasse acordado.

– Eu sei que você ainda está brava comigo.

– Que bom que sabe – Judith rosnou, virando a cara.

– Vamos, gatinha. Você não consegue ficar puta comigo por muito tempo – Ronronou, do jeito que alfas e ômega faziam quando queriam amolecer alguém. E isso teve o efeito esperado: Judith começou a ficar mais branda.

– Não comece com seus joguinhos.

– Você não vai me abraçar? – Perguntou sorrindo e Judith revirou os olhos, antes de dar um soco fraco em seu ombro.

– Não até se redimir completamente com Gael.

– Bem, é o que eu estou tentando fazer.


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