MATEO
HOJE
Colocar Vanessa como substituta do grupo de música não foi uma das melhores ideias da professora Melissa. Ainda assim, todos parecem não se importar muito. Quando estamos no auditório, nossas diferenças parecem não existir. Mas obrigado, Malu, por também ter assumido o posto de substituta. Sinto que mesmo ignorando o fato de Vanessa nos representar, nossas reuniões ficariam escassas até a volta da professora.
Vejo Malu subindo ao palco para anunciar que alguns colegas farão um número musical em grupo. Julia, Carol, Jonas, Davi e Maria Flor se juntam a ela para cantar True Colors, da Cyndi Lauper. Eu não estou preparado para isso. Embora o clima seja de união, não me sinto confortável. É como ir ao meu próprio velório. Estou um pouco frágil, então qualquer coisa pode me fazer perder o dia. E essa é uma delas.
***
ALGUNS DIAS ANTES
Não costumo fazer planos a longo prazo para as etapas da minha vida. Ainda mais planos do gênero: "Com que idade vou me casar?", "Vou ter um sítio ou uma casa na praia?" ou "Quantos filhos eu vou ter?". Tá. Confesso que às vezes me pego pensando se, um dia, alguma dessas coisas vai me acontecer, e se estarei preparado. Esses devaneios geralmente me pegam quando observo os casaizinhos pela Universidade ou quando estão passeando pelo Vale durante a noite. Um desses casais é Jonas e Davi. Eu realmente espero que eles se resolvam. Até então, eu evitava ao máximo criar expectativas com o que quer que seja, e assim, evito frustrações desnecessárias na minha vida. De estresse, já basta quando minha nona me enche de perguntas sobre quando levarei minha namoradinha brasileira para ela conhecer. Já considerei pedir a Malu que fingisse ser essa namoradinha por uns dois ou três almoços, enquanto eu tomo coragem para sair do armário para a minha família e dizer que, na verdade, estou meio apaixonado por um estudante de um dos cursos noturnos da Universidade, mas, depois de ter pedido a ela que me ajudasse a esconder o maldito martelo, duvido que ela tope. Tá aí. A parte boa de não criar expectativas é que grandes aventuras podem acontecer. Talvez esse martelo ainda nos renda ótimas histórias. Caso contrário, estaremos todos ferrados.
Em plena manhã de sábado, acordo com uma ligação da Malu:
-- Matt, que horas você pode vir me ajudar a terminar o planejamento das atividades do clube para a próxima semana?
SHIT! Eu não estava lembrando que as atividades de monitoria incluíssem acordar aos sábados pela manhã. O que a gente não faz pra ganhar certificado e conseguir se formar, não é?
-- Bom dia, meu anjo! Dormi muito bem, obrigado. – digo, tentando disfarçar minha voz de sono.
-- Se eu ouvir outra ironia, você será o próximo a levar umas marteladas!
-- Também te amo. Ah! Contanto que aí tenha algo para beber e que a gente possa falar mal do pessoalzinho do grupo, especialmente da Vanessa, saio de casa agora mesmo!
-- Te espero depois do almoço, meu italianinho favorito! Pode ir afiando a língua, porque temos muito o que falar da cobra.
-- Ah, não! Não aguento mais ouvir sobre a Taylor Swift... E a senhora sabe muito bem onde quero afiar minha língua. – caio na gargalhada, mesmo sabendo que foi uma piada tosca. ‒ Brincadeirinha. ‒ digo, sem conseguir controlar minha risada.
-- Engraçadinho. – diz Malu, começando a gargalhar também. ‒ Ainda tá com essa paixonite por aquele estudante de Direito? Quer que eu o chame pra vir aqui, depois que terminarmos nossos afazeres?
-- NÃO! – grito, um pouco envergonhado.
Confesso que ainda não estou preparado para vê-lo pessoalmente, depois de tanto tempo alimentando essa paixão platônica. Ou nem tão platônica, já que Malu me confirmou que ele dá umas olhadas para mim de vez em quando, quando por acaso estamos almoçando no Restaurante.
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Disguised Hearts
Fiksi PenggemarEra para ser apenas mais um típico semestre na Universidade. Mas a chegada de Vanessa trouxe desconfiança e desenterrou segredos que até então estavam bem guardados. Por que um martelo com manchas vermelhas é tão assustador para estes estudantes? Q...