Sabe aquele momento em que seu mundo desaba? Bom... é o que está acontecendo agora.
Eu não tive chance alguma de protesto para salvar meu pai. Mas, por lei, descobri que podia passar 20 minutos com ele, e foi o que fiz. Nossos últimos momentos juntos bem tristes, e foi tudo muito marcante. Conversamos ontem, mas eu lembro cada detalhe:
— Foi tudo minha culpa, você sabe. — Disse para meu pai. — Eu não deveria ter matado aqueles homens. Eu não pensei direito, mas achei que não tivesse feito nada errado... eu preferia que estar no seu lugar agora. Você não merece isso.
— Você os matou porque mereceram. Eu te conheço o suficiente pra saber que não faria nada sem motivo.
Meu pai não parecia estar triste, nem feliz, ele simplesmente não parecia ter emoção alguma, ao contrário de mim, que consigo sentir meus olhos inchados. Claro, é impossível eu não me sentir péssimo, é o meu pai, o homem no qual cuidou de mim por vinte e três anos, no caso... a vida inteira.
— Um de meus últimos desejos era ver um filho seu com Kelda, e, mesmo que eu não esteja mais aqui, seria legal ver isso em Valhalla, bom, pelo menos se eu for. — Depois dele ter dito, continuou com a mesma expressão, mas foi aí que percebi que estava desabando internamente, e foi horrível chegar a esta conclusão.
— Nós suspeitamos de uma certa gravidez, e espero que nossas especulações estejam corretas. — Respondi na intenção de animá-lo mesmo com tal situação, mas claro, eu disse a verdade, e me arrependo de não ter dito antes. Você irá para Valhalla, pense que... terá uma grande cerimônia a sua espera.
— Que os Deuses te ouçam, Modi.
Não falamos muito mais depois daquilo, porém, trocamos olhares, abraço, e, às últimas palavras...
— Eu te amo. — Meu pai declarou.
Essa frase, em toda minha vida, nunca foi tão importante pra mim quanto é agora.Agora... voltando pra atualidade. Resolvemos assistir à execução, e, mesmo com essa situação, com todas as pessoas em volta o julgando, e xingando com todos os nomes possíveis, meu pai sorriu quando me viu, e eu só não consigo entender o porquê... não faz sentido.
15 minutos se passaram, e o desgraçado do Sunn fez todo um discurso explicando a situação, e logo perguntou:
— Senhoras e senhores. Agora vamos para a votação. Levantem as mãos quem acha que Thyrno não merece tal punição, e que deva viver livremente por Midgard.
Não pensei duas vezes, levantei a mão no mesmo momento. Qual filho não iria querer a liberdade do próprio pai? Olho ao meu lado direito, consigo ver Kelda e Igor com as mãos levantadas, mas apenas eles. Os amigos de meu pai não fizeram nada. Mas por quê?
— Bom, apenas três idiotas levantaram as mãos, então... não preciso saber do resto, não é mesmo? — Confirmou Sunn.
Nem mesmo os amigos de meu pai... isso é... um absurdo! Que raiva... e que momento para ter raiva. Não posso fazer nada.
— Executor... você assume daqui. — Sunn deixou o local, e as pessoas ao redor estavam aplaudindo. Não quero nem imaginar como meu pai está se sentindo agora.Ele se deitou com o peito para baixo. A incisão começou, lentamente, eu demorei para entender, mas, quando percebi que já tinha iniciado, não aguentei e abracei Kelda com toda minha força. Só consegui ouvir seus gritos, desse jeito, seu destino era Helheim. O reino dos mortos, mas não sei se essa maldição é verdadeira ou não. Era isso o que queriam, me ver desabar completamente, e bom, conseguiram.
Eu não assisti o resto apenas vi o corpo de meu pai horas depois, bem no momento que já tinha conseguido conter as emoções. Vi o cadáver sem a caixa torácica. Isso é complicado, acho que só não estou pior por ter visto coisas piores antes.— Modi! Vim com novas notícias. — Disse Igor, parecia ter corrido bastante para chegar até minha casa, mas não o respondi tão bem.
— Ainda estou de luto, Igor. Não tenho tempo.
— É sobre seu pai. — Ele respondeu ofegante, e saber que era sobre meu pai, me fez levantar da mesa num instante. — Ouvi relatos de amigos de Thyrno, e consegui provas! Sunn pagou todas aquelas pessoas para não levantarem a mão.
— Como é?! E onde estão as provas?
— Estão todas nestes pergaminhos, aqui há algum tipo de comprovante de recompensa por terem aceitado a proposta.
Peguei o pergaminho em segundos, e percebi que não eram falsos, eu tenho que agir, agora mesmo!
— Estou de saída agora mesmo. — Declarei, me equipei com minha armadura de cota de malha, peguei o Stormaxe do estande e o prendi em minhas costas.
— Aonde vai? — Perguntou Kelda. Ela parece um pouco assustada, ou preocupada. Não sei dizer.
— Buscarei minha vingança. Fiquem sabendo que hoje é o dia que Sunn morrerá!
— Não! Não faça isso! Você pode se machucar...
Tarde demais, acabo de sair de casa e bater a porta com bastante força, tanta força que a mesma tremeu. Eu ouvi o que minha mulher disse antes de minha saída, mas não faz muito sentido, já me envolvi com coisas piores, como Draugr's, Devoradores de Almas, Orcs... Sunn é apenas um mortal, assim como eu. Não sofrerei mal algum.
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Maldições de Odin
ActionHá séculos, os reinos Nórdicos foram ameaçados por uma profecia, que dizia sobre o apocalipse, o dia que o inverno se tornaria infinito, divindades e humanos morreriam, e o sol e lua não existiria mais. Muitos não acreditavam nessa profecia, até que...