Capítulo 12 - O fim de Magni

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Nem tudo sempre sai como o planejado, e desta vez não foi diferente... já perdemos muitos guerreiros. Há equipamentos e flechas para todos os lados, além de que minha armadura está totalmente destruída, e assim como meus restantes companheiros, estou banhado de sangue. Mas isso não está acabado, derrotamos muitos Asgardianos, entretanto, ainda resta Odin, e é impossível de alcançá-lo pelo fato de estar sendo protegido pelo gigante de gelo. Mas, por sorte, temos Uller ao nosso lado, o Deus do inverno, que tenta obter controle sobre o Ymir, mas parece que a única coisa que ele consegue fazer é deixá-lo imóvel.
— Uller! Preste atenção! — Thor gritou, e naquele exato momento, um enorme raio chegava ao peito de meu irmão adotivo, entretanto, o Deus do trovão entrou na frente e acabou protegendo-o.
— Me perdoe, mas eu preciso concentrar todo o poder no gigante. Se eu focar minha atenção em outra coisa, não teremos controle sobre ele!
Thor se levantou mesmo tendo sido atingido pelo grande raio, conseguiu aguentar o impacto, mas imagino que tenha sido por causa de seus poderes.
— Não podemos te proteger o tempo inteiro!
— Na verdade, podemos sim...
— O que tem em mente, Modi?
— Mesmo com muitas perdas, ainda temos um exército, e a maior parte dos guerreiros são Asgardianos. Eles podem ajudar Uller, e isso inclui você!
— Você quer selecionar metade do nosso exército para protegê-lo? E quem tomará conta dos outros inimigos?
— Eu mesmo. — Respondi tirando parte de minha armadura destruída, restando só a proteção inferior. Eu até pegaria a armadura de algum morto, mas não valeria a pena, estas são ainda piores.
— Você não pode enfrentar todos eles.
— Eu sei, mas ela pode.
Escamas escuras e desgastadas surgiram na montanha mais alta. Todos os guerreiros puderam sentir os tremores e um corpo enorme se esticando e mostrando sua sede de sangue a todos. Era ela, a famosa serpente do mundo.
— Como você...
— Como eu sabia? — Completei sua pergunta. — No dia que estávamos na montanha, eu criei um certo vínculo com a serpente.
— E Modi não só criou um vínculo com a serpente. Agora ele pode controlá-la basta absorver todo o poder da runa do tempo. — Disse Freya com um grande sorriso.
— "A runa, quando absorvida, poderá oferecer-lhe todo o conhecimento antigo e esquecido pela humanidade, e divindade". — Thor recitou as frases de um poeta. — Espero não me decepcionar com você...

Não passou muito tempo desde que me afastei de meu exército. Tive que me correr bastante, pelo menos o suficiente para conseguir me esconder numa enorme floresta ao lado do campo de batalha, e agora, subo as montanhas correndo para alcançar a Jörmungandr, consigo ver sua cabeça a uma longa distância. Quando eu chegar até ela, precisarei absorver o poder da runa de alguma forma, é só assim conseguirei me comunicar com tal.
— Pensou que pode fugir dessa tão facilmente?
Alguém me atacou antes mesmo que eu pudesse me movimentar. Em instantes, fui lançado nas árvores com muita força. Minhas costas doíam já que estavam sem proteção alguma. Agora consigo ver seu rosto, era Sunn quem estava me atacando.
— Graças a você Asgard está em ruínas! — Ele gritou. Puxou uma adaga de ouro, e tentou enfiá-la contra meu peito, mas não permiti.
Liberei o poder do trovão em minha perna direita, e com um chute pude afastá-lo.
— Então poderia ter morrido lá mesmo. Não acha? — Perguntei irritado, quase gritando.
Meus poderes são terrivelmente fortes, tão fortes que lançou meu oponente contra as árvores opostas, entretanto, não é o suficiente para acabar com ele.
— Não mesmo! — Respondeu Sunn, furioso. — Recebi a benção de Odin para acabar com você, quando eu completar meus objetivos, os reinos se restaurarão, e eu governarei parte de Asgard! — Disse ele, esperançoso, mas não é assim que as coisas funcionam.
— Eu não sou a causa do apocalipse! Odin foi quem causou estes problemas desde o dia que me baniu!
— Não! Não o culpe por querer expulsar um sangue-ruim de seu reino, ele esteve certo todo este tempo...
— Não existe um deus em Asgard que seja puro-sangue, tolo. Até mesmo Thor tem o sangue dos gigantes.
— Você mente... mente como Loki! — Disse ele, virando a lâmina de sua adaga contra o próprio olho.
Por um momento, achei que ele fosse se matar. Mas não era isso que estava acontecendo. O pomo de sua adaga estava sendo destruído, e uma lâmina de ouro maior crescia, até que ficou parecida com uma espada.
— Você finalmente verá o erro que cometeu depois de ter saído de Hel. — Disse puxando o machado elemental de meu cinto, que o prendia por uma corda desgastada.
Corremos na mesma direção, girei minha arma e fiz a lâmina colidir com a espada na tentativa de desarmá-lo, mas nada foi como o planejado. A arma mal tinha se mexido, tampouco seu corpo, o que me assustou, mas logo ataquei antes que fosse tarde. Chutei seu joelho, forçando-o a ficar agachado, então quando tive a oportunidade, cortei sua cabeça com o machado e seu sangue escorria para todos os lados, não sei se ele voltará a viver, ou se este foi o fim, mas não importa. Agora continuo meu caminho pela floresta, mas algo me impediu, ouvi um barulho de um trovão as minhas costas, pensei que pudesse ser Thor, mas não era, era um guerreiro muito mais alto que Thor, até tinha um porte físico maior. A poeira abaixou, e vi seu rosto, é meu irmão, Magni, equipado com uma armadura brilhante, e uma manopla, cobrindo a mão que fora cortada há pouco tempo, e eu mal posso reconhecer o material. Magni voltou pra Asgard e saiu equipado com uma das armaduras mais fortes de Odin? Além de que ele carrega dois machados em suas mãos, que pareciam ser os mais pesados de todos os reinos.
       — Vim dar o fim nisso. — Disse ele me encarando, aparentemente sem medo algum.
       — Está do lado errado, Magni. Não podemos continuar essa guerra, isso nos levará ao Ragnarök, além de que somos irmãos... independente das diferenças.
       — Errado... sua existência nos levará ao Ragnarök, Odin confirmou.
       — Odin é um burro! Ele só fez isso porque sou descendente de gigantes, além de que sou uma grande ameaça a ele... Odin teme isso.
       — Você viveu acreditando nisso? Todo esse tempo? Odin pouco se importa com a linhagem sanguínea!
       — Então por que fui enviado para Midgard logo depois de ter nascido?
       — Odin pouco se importa para linhagem sanguínea, se fosse o caso, até eu teria sido banido. A verdade é que ele teve mais uma de suas visões, a mesma que teve com o lobo Fenrir, com a Hela, e com Jörmungandr!
— Odin é só um velho, não deveria ter levado suas visões em consideração. — Disse, ainda tive esperança de que Magni pudesse mudar de lado, mas vi pelo seu olhar que só tinha ficado mais irritado.
— Não devias falar essas coisas de Odin, é graças a ele que as coisas estão em ordem hoje. — Respondeu Magni, irritado.
— É graças a ele que as coisas estão em desordem!
       — Você não entende! — Esganiçou e lançou o machado de sua mão esquerda.
       Nem tive tempo de desviar, logo recebi um corte profundo no ombro, e a falta da armadura naquele local só piorou minha situação. Magni se aproximou lentamente, puxou o machado que tinha acertado a árvore e pôs a lâmina contra meu pescoço.
       — Dessa vez, não tem um homem que pessoa te ajudar, é o seu fim, Modi, e eu finalmente poderei dizer ao Odin que cumpri minha missão. — Disse Magni, com convicção.
       Este, fez um último movimento contra meu pescoço na tentativa de cortá-lo, mas, pude ver que uma flecha acertou seu pescoço, e ele a retirou como se tivesse sentido apenas um incômodo, então olhou para trás.
       Vimos Kelda, acompanhada com um grupo de mulheres, Thrud estava entre elas. Muitas estão carregando espadas, machados e escudos feitos de material pesado.
       — As divindades caem, homens vão a derrota, mas as mulheres continuam no combate! — Disse Kelda, num alto tom de voz, fazendo que eu e Magni escutássemos.
       Não queria que minha mulher estivesse aqui neste momento, além de que achei desnecessário o que foi dito, mas pude sentir que um sorriso se esboçava em meu rosto, este foi o tempo que pude puxar o machado e acertar sua perna e fazê-lo cair. As mulheres o atacaram, arrancaram muitas partes de sua armadura apenas usando espadas e machados. Ele, com o poder dos trovões, atacou parte das mulheres. Todas sobreviveram, então pude ter certeza de que eram tão fortes quanto Magni, provando que são muito mais valentes do que eu imaginava, entretanto, não puderam matá-lo de uma vez por todas, coloquei meu machado perto de seu pescoço, foi quando ouvi uma voz:
       — Vai mesmo fazer isso? — Perguntou Kelda, que se aproximava com Thrud ao lado.
       — Tenho que acabar com isso logo. O que acha, Thrud?
       — Faça o que deve ser feito. — Ordenou Thrud.
       Magni, em seus últimos segundos, implorou por misericórdia, mas já era tarde para mudar de lado. Cortei seu pescoço, fazendo com que os pedidos de perdão fossem suas últimas palavras. Então segui meu caminho até a serpente do mundo, não queria nem mesmo dar uma palavra com as mulheres.
       — Aonde está indo? — Perguntou Kelda, mas não havia mais tempo, só continuei andando.
       Kelda me seguiu.
       — Diga logo! — Insistiu.
       — Estou indo tomar controle da serpente do mundo, agora, se me der licença...
       — Sua mulher está aqui, Modi! Não está feliz? — Perguntou Thrud.
       — Claro que não estou, ela aguarda um bebê. Não pode lutar!
       — Claro que eu posso. Derrotamos Magni, coisa que você não conseguiu fazer quando o encontrou. Sou forte, aliás, estou indo com você, eu posso ajudar.
       Me aproximei de Kelda, impaciente. Segurei em seus braços, e aproximei meu rosto.
       — Se quer mesmo ajudar, procure por Mimir, ele dirá onde você deve se esconder, mas isso se você quiser continuar viva. O que me diz?
       Pude notar em seu rosto que não eram estas palavras que ela desejava ouvir no momento, logo Kelda se soltou de mim, e começou a fazer o caminho de volta.
       — Você também, Thrud. Proteja-a. — Ordenei.
       — Quem você pensa que é, Modi? Não pode me dar odens!
       — Apenas vá!
       Então as duas foram embora, dividi parte do grupo das mulheres, enviei as que possuem arcos para o topo das montanhas, e as que usavam escudos e espadas para a frente de batalha.

       O caminho até a Jörmungandr foi longo, mas logo pude ver todo seu corpo de perto, ela me olhou, parecia furiosa, mas logo o reconheceu. Segurei a runa do tempo e a esmaguei, agora só restava uma quantidade grande de pó verde, e o engoli, como Freya tinha me instruído. Não demorou um segundo até que eu sentisse uma dor enorme e ficasse ajoelhado no chão.
        Eu senti que apaguei, pelo menos por uns cinco segundos, e quando abri os olhos, passei a enxergar o mundo de outra forma, senti como se a guerra que estava acontecendo agora fosse totalmente normal, e finalmente descobri a verdade. Não existe apenas uma causa pra o apocalipse, são várias. Cada pequena, ou grande coisa que fizemos deu resultado ao que somos, e ao que passamos no presente.
       A Jörmungandr falou comigo, e pela primeira vez a entendi. Ela perguntou se podíamos avançar de uma vez, eu disse que sim, e então subi em seu corpo.
       Seu corpo atravessou as neblinas, e finalmente chegamos no campo de batalha. Avistamos todos os guerreiros, tanto do time inimigo, tanto o do time aliado. Mesmo com uma enorme distância, pude ver o alívio de Uller, a alegria de Thor, e a satisfação de Freya. Thor estava com um cinto que dobrava sua força, ele pode atacar trinta inimigos sem precisar de arma alguma.
       Observei o desespero repentino de Odin.
       — Agora, serpente!
       A Jörmungandr avançou contra o exército inimigo, devorando milhares deles, fiz sinal para que atacasse Odin. E ela avançou, entretanto, pôs sua gigante lança na boca da serpente, impedindo-a de devorar qualquer coisa, mas não era a lança Gungnir...
       A serpente agora não parava de se mexer, parecia desesperada por estar impossibilitada de fechar sua boca, e ela nem mesmo conseguia encostar os dentes. A serpente se mexeu tanto, que me derrubou, e nem adiantou chamá-la. Quando notei, já estava no chão novamente, meu corpo inteiro doía, mas me levantei aos poucos e encarei Odin.
       Parte dos homens que estavam vivos prenderam a serpente com uma corrente longa, mágica e dourada.
       — Um homem com uma arma cega, sem proteção, cheio de ferimentos... acha mesmo que pode me vencer?
       — Este homem a quem se refere assumiu controle da serpente do mundo, matou Magni e mais da metade do exército do time inimigo. Como posso provar minha força?
       — Sobrevivendo a isto. — Disse Odin, e neste momento, senti uma lâmina muito afiada perfurando minhas costas.
       "Está é Gungnir, acho que você já a conhece... ganhei dos mesmos anões que fizeram o Mjölnir, Brok e Eitri, ou Brok e Sindri, como você o chama. Esta lâmina, quando lançada, nunca erra. Quando você desviou dela uma vez, vi que ela era defeituosa, então usei a aperfeiçoei usando a pedra de amolar dos Asgardianos. Doloroso, não?" Perguntou se aproximando, retirou a lança de minhas costas, e pôs de novo, e não parava de gritar de dor.
       Mas eu me lembrei de uma coisa muito importante. O poder que absorvi do Mjölnir quando o destruí, foi aí que mais ideias surgiram.
       Odin continuou perfurando meu corpo com a lança. Canalizei mais de meu poder em meu braço direito, que se tornava mais forte. Uma arma surgia em minha mão, tinha um cabo pequeno, mas seu tamanho aumentava conforme minha força.
       — Impossível! — Ele gritou. — O martelo de Thor foi destruído!
       Acertei o queixo de Odin, o lançando contra as árvores, e agora estamos do mesmo nível... possuo o Mjölnir de volta em minha mão!

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