Capítulo 3 - O início da jornada

86 10 1
                                    

Tudo mudou desde então. Abandonamos o Vale Cobblestone há cinco meses, e agora... bom. Agora eu e Kelda vivemos mudando a localização de nosso acampamento, pelo menos assim é melhor, desta forma conseguimos explorar e levar nossa "casa" conosco. Penso que Kelda não se arrependeu de ter saído do Vale, ou ela poderia estar apenas... forçando não ter se arrependido, e espero que a primeira especulação esteja correta.
Estamos num pequeno bote de madeira, é tão antigo que desconfio de que possa afundar a qualquer momento, porém, iremos usar este até que possamos fazer uma troca. Kelda está impressionada com toda a paisagem do local, com as montanhas, as montanhas cobertas por neve, e até mesmo as simples planícies. Neste exato momento estamos passando pelo rio Vecker. Kelda acabou de encontrar algo valioso enquanto estou remando. Na verdade, ela sempre acaba encontrando algum tipo de tesouro espalhado nos mares, e até sabe quais são. Parei de remar e resolvi atracar o bote apenas para ouvi-la. Por mais que ela seja uma mulher forte, sempre a vi como dona de casa, e não como uma exploradora.
       — Isto é... um olho de... alguma ave. Não se dizer qual. — Kelda não parecia nem um pouco contente em declarar que não consegue saber adivinhar qual olho estava segurando, porém, da mesma forma, Kelda o guardou em sua bolsa.
       — Olha só. Independentemente de qual animal seja, nós iremos descobrir. Não há nada neste mundo que já não tenhamos descoberto.
       Respondi tentando tranquilizar minha esposa. Na verdade, fazer isso é muito mais do que minha obrigação.
       — Você quase sempre tem razão, e admito que desta vez você a possui também. Porém, este olho é diferente. Não tenho certeza se já o vi antes, mas tenho certeza de uma coisa. — Ela pareceu bem animada ao dizer. — Eu tenho certeza que este olho possui algum tipo de magia!
       Eu não devo duvidar de Kelda. Está claro que ela é cem vezes mais inteligente que eu, mas, não faz sentido um simples olho ser mágico. Ou faz?
       — Modi. Já que paramos aqui, eu gostaria de... tomar um tempo apenas para mim, entende?
       — É claro que entendo. — Já estou totalmente acostumado com o quê mulheres fazem, então, respeitei. — Sei que precisa arrumar sua aparência, imagino que seja para meu agrado.
       Kelda não pareceu muito feliz com o quê acabei de dizer. Será que errei em alguma coisa?
       — Enquanto você faz suas coisas, vou explorar esta extensa praia. Se quiser me encontrar, vá até aquelas... escrituras. — Apontei para as runas. Eram runas quase ilegíveis, mas quando consegui ler, percebi que estava escrito algo relacionado a "Morte aos Aesir", e de novo senti aquela forte dor de cabeça. Estou começando a desconfiar de algo, existe algum furo em minha origem.
       Saímos do bote. Kelda localizou as runas, e eu recebi um beijo de uma curta despedida. Não demorou muito tempo para eu começar a ouvir vozes, vozes que nunca ouvi antes, apenas uma é familiar, e aparentemente, é de alguém mais velho, na verdade... muito mais velho.
       Eu segui a voz, e a cada vez que eu escutava o assunto, sentia a mesma dor de cabeça, e só agora estou pensando: Por vinte e três anos essas coisas nunca aconteceram comigo, as dores de cabeça eram apenas um simples incômodo. Porém, depois de meu aniversário, as coisas... mudaram.
       Eu pensei em pedir alguma informação para aquelas pessoas, mas, desde o momento que senti a dor de cabeça, pensei que poderia ouvir a conversa, ainda tenho a chance de descobrir alguma coisa.
       — Se eu souber mais uma vez que por sua causa, Heimdall abriu a Bifröst simplesmente para vir para Midgard, esteja ciente de que sua devida punição será aplicada imediatamente! — O mais velho gritou, do jeito que falava, parecia estar prestes a atacar o ouvinte.
       Algo chamou minha atenção... Bifröst... será que os dois são de reinos diferentes? O quê será que fazem em Midgard? Andei só mais um pouco para dar apenas uma espiada, mas o pouco que consegui ver foi uma pequena sala, com paredes feitas com algum tipo de madeira rústica. Apenas os mais ricos tinham coisas deste nível, ou os mais talentosos, que tinham capacidade para fazer. Também vi dois homens. Um muito alto, com cabelos longos e brancos, e um aparentemente do mesmo tamanho, o mesmo possui cabelos ruivos e... acho que olhos azuis, ou verdes.
       — Isso não se repetirá, pai. — Disse o mais novo.
       — Que assim seja! Francamente... quanta imprudência de sua parte... procurar por alguém que nem sabe de sua existência. Desista. — Quanto mais o velho gritava com o próprio filho, mais eu sentia algo familiar. Não posso parar de ouvir a conversa.
       — Ele não sabe sobre mim por sua culpa! Você o amaldiçoou, e neste exato momento ele pode até mesmo estar morto, sem saber o que realmente é! — Disse o mais novo, com um grito.
       Amaldiçoou? Eles por acaso... não são humanos?
       — Eu o amaldiçoei por você não respeitar nossa linhagem sanguínea. Todos nós deveremos ser Deuses de puro-sangue. — O mais velho parecia tentar manter seu semblante sério o tempo todo, mas sempre ao terminar suas frases parecia ser dominado pela raiva.
       São Deuses? Eu tive quase certeza de que estivéssemos abandonados.
       — Espera... NÃO ESTAMOS SOZINHOS! — Gritou o mais velho, e, nesta hora me assustei, se eu for descoberto, poderei até mesmo ser morto, Deuses são os únicos seres que não tenho chance alguma em duelos.
       Mas, não entendi o que aconteceu. Parece que o mundo inteiro ficou lento, acabo de ouvir uma explosão. Tudo está ficando mais claro, e... estou... perdendo a visão...

Maldições de OdinOnde histórias criam vida. Descubra agora