Capítulo 11

38 1 0
                                    


A noite está caindo
Assim termina o dia
A estrada está chamando agora
E eu devo partir
Sobre as montanhas e sob as árvores
Através das terras onde a luz nunca brilhou
Por riachos de prata que vão em direção ao mar

A essas memórias, eu me apegarei
E seguirei com sua benção
Para me dirigir, enfim, aos caminhos que levam pra casa
E embora para onde a estrada me levará
Eu não saiba dizer
Nós chegamos até aqui
Mas agora chegou o dia,
De dizer adeus.

****

Ninguém estava estendendo nada.
Na verdade, tinham medo da resposta, caso perguntassem.

- O que aconteceu lá? - Quis saber Cristiano. O quase cunhado de Ruth.

Nós tivemos um problema quando íamos voltar. Os zumbis cercaram nosso carro. E o Pedro chamou a atenção dos zumbis enquanto nós covardemente viemos embora. - Maria contou.

Val se recostou no carro e seus soluços eram audíveis. Lucio se aproximou da menina e a abraçou afagando seus cabelos. Ruth também se juntou a eles no abraço.

O abraço de Lucio era uma surpresa. Já que ele não é muito disso. Mas o de Ruth, esse sim era esperado. Ela sempre se compadecia das pessoas. E com sua amiga não seria diferente.

- Vai ficar tudo bem. - Disse Lucio.

- Ele fez isso principalmente por você. Por te amar. - Ruth disse.

- De fato, ele foi uma rapaz de muita coragem em fazer aquilo. - Disse Padre Romildo. - Não deixemos que seu sacrifício seja em vão. Ele salvou todos. Pois nos salvando, possibilitou que trouxessemos comida para os demais.

Pelo visto, as coisas iam demorar a voltarem ao normal. Essa é até uma frase estranha, pelo fato de que nada mais podia ser considerado normal. A questão era que, a morte de Pedro não seria superada tão facilmente por nenhum deles.

- Gente, me desculpem entrar nesse assunto, mas, como foi que aconteceu? - Mylla perguntou tentando não causar nenhuma dor ao relembrar tal acontecimento. Mas era impossível. Eles estavam todos sentados na sala semi iluminada por velas e comiam da comida que tinham ido pegar naquela manhã.

- Foi rápido demais. - Respondeu Maria.

- É, a gente chegou e paramos em frente a quitanda que ficava na beira da estrada, porém no acostamento do lado oposto. Não havia nada lá. Nenhum zumbi. - Ruth continuou.

- Eu não entendi de onde eles vieram. - Admitiu Padre Romildo. Seu olhar perdido brilhava com o desenho do fogo da vela que ele encarava. - Quando saímos o carro estava rodeado por aquelas coisas. E o menino teve a ideia de chamar a atenção dos zumbis enquanto fugiamos.

- Quando chegamos aqui encontramos vocês vindo correndo. Sendo invadidos. - Falou Val. A menina estava abatida. Seu rosto estava avermelhado de chorar.

- Muita coisa ruim em um dia só. Um minuto e tudo termina assim. - Disse Meyre com seu comum tom de indignação, perto de sua irmã.

- Ainda não acabou gente. Estamos aqui. - Disse Lucio. - Vamos lutar por nossas vidas.

- Será que ainda vale apena viver? - Letícia disse desanimada.

Tal pergunta não foi surpresa para os jovens. Todos eles se perguntavam a mesma coisa internamente, só não tinham coragem de expor. Mas, sempre tem alguém com coragem.

- Ei gente, estamos num apocalipse zumbi. Igual nos filmes que assistíamos e gostávamos. - Falou Gabriel, tentando mostrar algo bom naquilo tudo.

- Só que a realidade não é tão divertida. Esse é o tipo de coisa que devia ficar apenas na nossa imaginação. Nas fantasias mais insanas. Onde pessoas que amamos não morrem. - Disse Ruth.

A noite estava se arrastando.
Ninguém conseguia dormir por mais que tentassem. Principalmente Vall. A menina estava inconsolável. A pessoa que mais a trazia conforto em momentos ruins não estava ali, e pela pior razão.

Mas, o que mais restava a não ser chorar por um bom tempo e depois aprender a conviver com a ausência?

Zumbis em NOMA Onde histórias criam vida. Descubra agora