c a p í t u l o u m

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Catharina

Meus músculos por mais que estejam exaustos, parecem relaxar assim que passo pela porta desgastada da minha casa. As luzes estão apagadas e eu quase tenho um infarto quando vejo Kiki parada na sala arrumando as suas coisas.

—Hey, Cath. As crianças já estão na cama e de banho tomado. Jantaram também.

—Obrigada, Kiki. Não sei o que seria de mim sem você. -eu jogo as minhas chaves encima da cômoda e me sento sobre o sofá. -Quanto eu te devo?

—Quinze dólares.

—Você pode pegar na minha bolsa, por favor? Não sei se consigo levantar sem desabar. -ela ri e concorda, indo até a minha bolsa que também deixei sobre a cômoda. -Como eles se comportaram?

—Cassandra ficou tranquila como sempre, dormiu a maior parte do dia por causa da febre e dos remédios. Carter passou o dia preocupado escoutando a irmã.

—Imaginei. E a febre?

—Persistiu o dia todo. -Kiki dá passos incertos na minha direção e toca o meu ombro. -Você deveria levá-la em um psicólogo, isso é emocional, Catharina.

—Eu sei, eu sei. Nós não temos grana pra bancar mais uma despesa. Meu coração se parte em vê-la assim. Droga, eu não consigo cuidar dos meus próprios irmãos. -as primeiras lágrimas de frustração começam a escorrer pelo meu rosto e eu não tenho nem forças para erguer os braços e secá-las.

—Eu entendo... -escuto o sussurro triste dela, mas ambas sabemos que ela não entende. Ninguém com a minha idade deveria estar passando as coisas que eu estou.

—Você precisa ir agora. Tá ficando muito tarde, o sol vai se pôr logo. -eu toco os meus cachos e os aperto em um coque.

—Tudo bem, Catharina. Eu deixei um prato pra você no microondas. Não esquece de comer de novo. -sinto os seus lábios pressionarem a minha têmpora e eu só concordo com a cabeça. Ainda de olhos fechados escuto a porta se abrir e fechar.

Com os pés eu tiro os tênis que apertam os meus pés. Minha cabeça lateja e meus lábios tremem quando eu penso na minha pequena Cassandra. Oh, Deus, por favor. Eu não sei o que fazer, às vezes eu só queria que alguém me desse instruções para que eu pudesse seguir. Sem escolhas. Penso em como mamãe e papai estariam decepcionados se olhassem para mim agora. Eu quero desistir de tudo. Eu quero morrer.

Um soluço escapa pelos meus lábios. Prendo o lábio inferior entre os dentes tentando evitar.

Eu não sei em que parte da minha caminhada em que eu me perdi. Eu era uma garota tão cheia de vida... E sonhos. E quem eu sou hoje? Eu só tenho o meu nome e duas crianças.

Meus irmãos são a minha vida. Eles são tudo pra mim, mas é demais. Eu sou fraca. Eu não posso mais. Eu queria poder ser como uma mulher normal. Poder sair com amigas, beber sem precisar me preocupar com o que me espera em casa. Mas não. Eu não posso.

É egoísmo da minha parte pensar só em mim quando se tem duas crianças que passaram por poucas e boas, mas é inevitável. Eu não sei mais quem eu sou. Eu me perdi em mim mesma.

Ainda consigo sentir o toque repugnante das mãos de Vicent Sullivan. Desta vez a bile sobe e eu vomito sobre o chão simples de madeira. Meus olhos ardem e parece que eu vou pôr o meu organismo para fora. Meus ombros tremem quando mais jatos de vômito escorrem pela minha boca. Não tenho tempo de reagir quando um balde pousa à minha frente, evitando que eu vomite diretamente no chão.

Sinto um toque suave nas minhas costas, e por alguns segundos eu relaxo. Encosto-me no sofá e suspiro, abrindo os olhos para encontrar o meu pequeno Carter. Seus olhos estão cheios de lágrimas, mas o meu garotinho é forte demais para que as deixe cair. Ao contrário de mim. As suas mãos passam pelo meu rosto e ele deixa um beijo molhado na minha testa, me trazendo calma.

medusa | womanOnde histórias criam vida. Descubra agora