Capítulo 5

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P.O.V. Allye

Retiro o edredom que cobre meu corpo, pisco algumas vezes com rapidez na tentativa de amenizar a ardência dos meus olhos, por conta do sono interrompido, o chão frio em contado com meus pés me causam arrepios pela diferença de temperatura. Encaro a Liyah dormindo alheia a minha perca de sono, gostaria de também estar assim, perdida no mundo dos sonhos, mas infelizmente não consigo, mesmo que tentasse por mais duas horas não conseguiria dormir novamente.

Impulsiono meu corpo saindo do colchão posicionado no centro da sala, o sofá antes ali, agora residia no canto da sala deixado de qualquer forma. Caminho lentamente em direção à cozinha, a casa não tinha um ponto de luz, ainda sim era possível enxergar tudo ao redor. Abro a geladeira, a cozinha é banhada por uma luz fluorescente, percorro meus olhos por toda a divisórias, não encontrando nada interessante para meu estado de espírito atual.

No escuro novamente, uso a ilha da cozinha como apoio, penso em algo que posso fazer sem acordar toda a casa, olho em torno, procuro por um caneco pequeno para preparar um chá, o que talvez não seja possível. A casa pertence à uma viciada em cafeína, que independente da hora ou do momento quer uma caneca de café, não só uma, mas várias da mesma com líquido até o topo. E porquê talvez os cachês tenham acabado, e ninguém lembrou de comprar mais.

Desisto do chá e admiro o escuro da noite perdendo suas forças aos poucos, o azul escuro do céu dando lugar a um leve tom de rosa e laranja, a escuridão dando passagem para a luz. Comparamos a noite com as trevas, e o dia com a luz, provavelmente pelo fato das características serem semelhantes. Nem sempre é na noite que está o perigo, e sim no dia, onde as maldades se tornam visíveis, porém muitos preferem ignorar. Ao raiar do dia começamos o processo de não desabar, de enfrentar nossos temores, e conseguimos, de cabeça erguida e olhar confiante, mas, assim que as portas se fecham, que as pessoas ficam para trás, quando se torna só você e mais ninguém, é o momento da noite presenciar mais uma história, de ser uma confidente, uma testemunha imaculada, da lua brilhar sentindo sua dor. É nas noites sem estrelas, nas noites mais sombrias que seu brilho é maior. É nessas noites que somos mais fortes.

May: O que faz acordada a essa hora?- parada na entrada da cozinha, ela coça os olhos, usando um pijama estampado com pequenas estrelas e descalço, me encarando com estranheza.

Lly: Te pergunto o mesmo.- cruzo os braços, arqueio a sobrancelha a observando caminhar até o armário e o abrir.

May: Perdi e ainda não achei meu sono, e o café acabou.- suspirou triste.

Se afastando do armário um bico foi se formando em seus lábios, os olhos marejados e os braços cruzados, formaram uma pose de criança birrenta. Me aproximei, seu olhar estava perdido, focado em outro universo, um universo só dela.

Lly: May,- a chamei com calma- depois compramos mais, e o chá também acabou.- toquei seu ombro, finalmente atraindo a sua atenção, coloco meus braços na bancada deitando minha cabeça em cima deles.

May: Então, sem café hoje.- seu olhar se perdeu mais uma vez, mas logo se iluminou.

Lly: O que você está planejando?- a olhei desconfiada.

Ela sorriu maliciosa, ainda me olhando andou envolta da bancada, o seu dedo indicador era arrastado por toda a borda, até que ela parou atrás de minha segurando meus ombros, lentamente fui sendo virada em sua direção.

May: Não temos café, não temos chá, e não pretendo fazer nosso café da manhã hoje. - enumerou os itens com um dedo de cada vez sendo levantado.

Lly: E o que vamos comer?- meu rosto se contorceu em pura confusão.

Como OlvidarOnde histórias criam vida. Descubra agora