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"[...]Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar os injustos para o dia do juízo, para serem castigados [...] "(2Pedro 2:9)

Meu nome é Samuel. Vivo há quase um ano com o que acredito ser um ser sobrenatural: um demônio, o próprio Diabo, ou ao menos um de seus servos. Mas sua aparência e jeito tão humanos (e principalmente tão masculinos...) me deixam perturbado. Talvez eu só esteja enlouquecendo...

Não consigo me lembrar totalmente de como era minha vida antes de Diogo (esse é o nome dele, segundo sei). Não sei se moro com ele ou ele comigo. Eu tenho esses problemas com minha memória recente... Às vezes é literalmente um inferno.

Quer dizer, eu me lembro da minha infância, lembro dos meus pais e da casa antiga que morávamos. Lembro da minha adolescência deprimente e início da fase adulta. Até lembro do que comi ontem no jantar! Mas não lembro como o conheci, ou como nos tornamos amantes, namorados, ou o que quer que sejamos.

Também não recordo de como ou quando adquirimos essa casa, sei que seria alugada. Diogo seria o responsável por pagar o aluguel e as vezes fala misteriosamente com o proprietário. Aparentemente escolhemos uma mobília de aparência clássica, colonial. Todos os móveis são bonitos, de madeira envernizada em diferentes tons entre o mogno avermelhado e o castanho escuro.

Eu poderia ir atrás da identidade do proprietário da casa, descobrir quem é e perguntar sobre ... bem... pois é, o que eu iria dizer? E além de tudo, tenho medo. Eu sou um medroso. Um bosta.

Tenho medo de que me achem louco (e será que não o sou de fato? Quem é você, com quem converso em meus pensamentos?), tenho medo do ilógico, do sobrenatural. Tenho medo de Diogo, do que ele pode fazer, do que ele deve ser realmente. Tenho medo de ser arrastado para o inferno se não fizer nada, mas igualmente tenho medo dele partir... então fico aqui, postergando e tendo esses pensamentos. Sei que seria difícil a qualquer um entender porque me mantenho em tal situação, mas isso mudaria, talvez, se pudessem sentir as coisas que sinto.

Estou mesmo agora em pé, autoconsciente, mordiscando meu dedão direito e recostado ao enorme relógio de pêndulo, quase da minha altura, de uma das paredes. É feito de madeira maciça e marrom clara, polida e brilhante. Já me habituei ao sutil "tic" (sem "tac") que faz ao marcar os segundos. Toca estrondosamente de hora em hora, como nos filmes ou desenhos animados. Eu não faço ideia de onde arranjaríamos esse tipo de coisa mas está aqui, enorme. As vezes não sabemos a origem das coisas. É como se existisse aqui, desde sempre, e por ser absurdamente pesado e resistente, não duvido que ainda esteja aí depois que eu passar.

Diogo acaba de entrar, sem camisa, pelo enorme portal arredondado que separa nossa grande sala de estar da copa. Acabou de sair do banho, como eu fizera há pouco. A luz vinda da janela levanta finas moléculas de poeira próximo aos seus pés, grandes apesar de sua estatura. A pele moreno-escura, viva, parece mais dourada com as gotas de água remanescentes. O mesmo sorri, cruzando os braços largos sobre o peito alto e se encosta no portal, enquanto acaricia os pelos de uma barba crespa e muito escura, me olhando. Possui algumas tatuagens abstratas no peito e ombros que lembram um maori sem exatamente serem um. Há um estranho padrão de runas e pequenos desenhos de astros nelas, que ele diz serem aleatórias, mas tenho certeza que possuem um significado oculto.

Eu devia fazer uma cara meio ridícula quando entrou, aliás como sempre faço ao ficar pensativo e absorto (90% do meu tempo), pois seu sorriso é bastante aberto. Leves rugas se formam nos cantos de suas bochechas e em seus olhos quando ri, denunciando a idade que possuiria, se é que demônios de fato envelhecem. Dizia ter 39. Possuí uma leve barriga que o deixa charmoso e o impede de parecer um chato. Usa, nesse momento, apenas uma bermuda curta, vermelha, que deixa aparecer o começo das pernas fortes e de pelos finos meio enrolados. Suas coxas são grossas e incríveis, a parte que mais gosto em seu corpo.

Ele é baixinho, ao menos comparado a mim, acredito que possui cerca de um metro e setenta e três, no máximo! Poderia enganar, não fossem seus olhos. Castanho mel, poderiam dizer alguns, mas eu vejo. Para mim ele são amarelos, vivos e intensos em meio aos cílios abundantes; sobrenaturais.

Parece um deus profano - concluo. Até suas imperfeições o tornam perfeito, um estereótipo de tudo que acho atraente. Acho mesmo que escolheu essa forma baseado em meus gostos. Acredito que demônios possam fazer esse tipo de coisa. Sempre que o vejo me sinto um pouco inseguro quanto a minha aparência. Minha pele pálida, minha falta de postura, meu jeito desengonçado, meus traços sem graça. Por que me escolheu? Pareceu adivinhar o que eu pensava, as vezes desconfiava que ele sempre adivinhava. Se aproximou de mim.

No que pensa? - Murmurou ele, enfiando um dos braços entre minhas costas e a parede e me puxando a si, beijando meu pescoço. Sua barba crespa sempre faz eu me arrepiar.

Abaixo minha cabeça, mas ele a levanta com as duas mãos, retirando meus óculos cuidadosamente e os depositando sobre a parte plana no topo do relógio. Não enxergo tão mal de perto quanto de longe. Consigo ver bem seus olhos profundamente cravados nos meus.

_ Você é tão lindo sabia?

_ Eu queria tanto que isso fosse verdade - digo, apertando a parte gordinha no centro de seus braços, com meus dedos. Mas não é sobre o que ele disse que me refiro.

Ele está perfumado, seu perfume é único, intenso... Ele havia começado a enrijecer quando se encostou em mim e sinto o meu corpo sinalizar também, em resposta. Tudo aquilo é tão gostoso. Eu queria tanto que fosse verdade.

_ Não acredita em mim? É isso!? Está me chamando de mentiroso!? - diz, e seus olhos dourados aumentam enquanto suas pupilas encolhem, mostrando dureza. Por um instante estremeço, terei passado do limite?

Ele me vira de costas, subitamente, sem dificuldade, e me faz encostar o peito na parede com seu peso. Fala encostado ao meu pescoço, ao mesmo tempo que sinto algo rijo; ele está sem cueca.

_ Quantas vezes eu vou ter que te provar que você é gostoso pra caralho hein?! - diz ele, abaixando a parte de trás da minha bermuda e tirando totalmente a dele. Minhas nádegas estavam encostadas na parede fria, minha própria bermuda sendo fina, e por isso seu corpo parece ainda mais quente quando se encosta ali. Fico enrijecido também.

- Esta tão geladinha, tão gostoso aqui. Tava fazendo charme pra ganhar isso, né? - diz ele sorrindo e me dando um tapinha no rosto, roçando em mim e logo depois beijando minha nuca - Você está tão cheiroso.

Ele então começa a ir descendo, beijando minhas costas, até chegar próximo a. Me empino, entregue, desejando ser tomado. Olho para ele de esguelha, ali embaixo, me deparo com seus olhos. São olhos de um predador. Os mesmos olhos que costumam me meter medo, mas nesse momento me sinto tão excitado, uma mistura de sensações. Nessas horas é como se eu não fosse mais eu, a devassidão me tomando.

Ele enfia a cara na minha bunda e me lambe com vontade, com fome, mordiscando minha nádega. Chega a doer mas estou muito excitado. Estou rendido.

O relógio começa a badalar, já é meia-noite. Ignoro o barulho alto. Estou acostumado a ele. No entanto ele para, como que desconcentrado. Realmente incomodado. Aponta a cabeça em direção ao quarto. Pega a minha mão e me guia até la.

O Diabo sobre a CarneOnde histórias criam vida. Descubra agora