"O homem e a mulher viviam nus e não se envergonhavam (Gênesis 2:25)"
Auto Cuture da Rosalia toca alto na cozinha. Não conhecia a cantora, mas recentemente fiquei fã das músicas e da voz, meio mística. O apartamento moderno, bem menor que nossa casa anterior, possui outros onze convidados, incluindo amigos do trabalho. A maioria das paredes é de um tom amarelo claro, sendo algumas texturizadas de um marrom cor de terra. A exceção é a cozinha, que é branca com uma das paredes verde-água.
Os sofás da sala são todos marrom escuros. Meus armários e cadeiras são de madeira escura também, com algumas partes de um amarelo mais forte. As cores ainda lembram os móveis anteriores. Nossa cama é uma box moderna de cabeceira removível, sem pilastras coloniais ou qualquer coisa do tipo. O apartamento possui cômodos grandes, mas apenas um quarto.
Sinto falta da casa antiga, enorme, de móveis antigos, com jardim e sótão, que tanto me assustava, mas que era tão bonita. Diogo me explicou que a casa fazia parte da minha provação, sendo tanto um lugar onde estavam as coisas que eu mais gostava, quanto um lugar que me confrontava aos meus maiores temores. Ao término do prazo, ela ficaria à disposição do próximo locatário. Ela teria sido locada para nós pelo misterioso Proprietário por apenas um ano.
Ao menos Salazar acabou ficando mais calmo nesse apartamento. Dorme no sofá, quase que o dia todo. Estamos nos dando melhor, acho que transmito menos insegurança a ele hoje em dia.
É estranho pensar que já se passaram quatro meses desde que Diogo me contou ser uma espécie de entidade invocada pelos meus desejos e eu tive de escolher se queria permanecer com ele sabendo disso ou não. Até hoje é difícil acreditar na verdade. Digo continua tão... humano.
Na ocasião eu tive que decidir em tão pouco tempo, e então já tivemos de arrumar as malas e sair. Me pergunto o que teria acontecido se ainda estivéssemos na casa ao final do suposto prazo, mas como Diogo disse que isso simplesmente não seria permitido, achei por bem não desafiar Seja-Lá-Qual-Força que movia aquilo, o tal Proprietário. Ficamos em um hotel nas primeiras noites, e tivemos de recomeçar do zero. Há coisas que eu simplesmente não consegui entender, embora ainda não tenha me arrependido.
Olhos os convidados ao redor da sala, vejo Sabrina, com um vestido de estampa floral branco, de flores carmesins, conversando com a garota nova do trabalho, Rafaela. Rafaela usa um topete estiloso, cor de vinho, e cabelo raspado nas laterais.
Duas pessoas do grupo de "Cura e Salvação" que procurei haviam me mandado mensagens no Whatsapp: uma tinha sido Raquel, ainda naquela noite, me perguntado se eu não ia voltar para o carro. Só respondi alguns dias depois, pedindo desculpas e dizendo que decidi ficar com meu marido. Ela respondeu com pregações vindas do Levítico e Coríntios, mas me limitei a pedir desculpas mais uma vez pelo lance do carro, e então a bloqueei.
A outra pessoa foi Sabrina, que deve ter pedido meu número para Raquel. Ela me mandou mensagem perguntando se eu não ia voltar para o grupo. Eu disse que não, expliquei como estava numa fase de libertação, e ela acabou conversando muito comigo. Por fim ela admitiu que ela própria estava muito infeliz e sentia muitas dúvidas. Ficamos amigos de certa forma.
Eu fiquei bem surpreso com quando ela aceitou meu convite para vir a essa nossa reunião.
Levanto minha taça em direção a ela e Rafaela, que é a nova contadora júnior que vem me auxiliando com minhas funções. Recentemente fiquei um pouco mais amigo das pessoas do meu trabalho, embora ainda haja àqueles que eu deteste. Cinco pessoas do meu trabalho estão aqui, as únicas quatro garotas do trabalho e André, que está próximo a mim, e chama minha atenção nesse exato momento.
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O Diabo sobre a Carne
Mystery / ThrillerSamuel Hernandez possui alguns problemas de memória que o impedem de recordar totalmente seu passado, bem como de que forma chegou ao ponto atual, onde se percebe vivendo intimamente com outro homem, em uma grande e misteriosa propriedade. Diego é...