VI

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Os olhos do Senhor estão em toda parte: Ele observa atentamente os maus e os bons(Provérbios 15:3)


Estou de pé sem conseguir me mover, em meu quarto, e vejo Diogo nu montado sobre a mulher da igreja, cujos enormes seios saltam para fora do vestido, dominando-a; ambos em nossa cama de casal.

Ela está deitada de pernas abertas, arfando, oposta a mim, seus cabelos loiros cobrindo o rosto, mas sei que é ela devido ao grande busto, que é branco e farto pra fora do vestido que usava na igreja.

As mãos de Diogo são enormes e ele os segura enquanto a penetra, mas seus olhos estão fixos no meus. Não saem dos meus. Sua pele acobreada contrasta com a brancura da pele da garota, sinto um ciúmes profundo e tenho vontade de esbofeteá-los, ambos, mas eis que ele a vira de costas e monta nela, e nesse instante não é mais ela, sou eu.

Sinto seu membro rijo e quente se adentrar em mim, enquanto deposita todo o peso de seu corpo forte por cima de mim, enquanto me agarra firmemente pelas costelas. Relembro dessa cena. Foi exatamente assim que transamos da última vez antes dele partir.

_ Vai sentir saudades disso não vai? - disse o puto enquanto empurrava e afastava minhas pernas com as suas, pra que eu ficasse empinado, sem soltar minhas cintura, entrando mais ainda dentro de mim. Lembro da sensação gostosa, empinando minha bunda contra seu corpo que estava quase me esmagando enquanto bombava cada vez mais...

Acordo soado, e todo melado.

_Droga!! Caramba! - falo alto comigo mesmo, vendo aquela meleca toda no cobertor.

Faziam muitos anos que isso não acontecia. Realmente sinto falta de Diogo.

Diogo me mandou uma mensagem dizendo que não conseguiu resolver o problema no sítio do pai e por isso teria de ficar fora por vários dias. Há quase duas semanas que não o vejo, e sonhar com ele tem sido frequente.

Sinto muita falta dele. E não é só a falta do sexo, anseio poder ficar abraçado com ele após fazermos. Quero seu cheiro sempre tão bom, seu corpo sempre tão quente.

Começo a me masturbar, ainda de pau duro e muito excitado com tudo que aconteceu. Passo a mão por meus mamilos fingindo que é Diogo os lambendo com vontade, como costuma fazer, e dessa vez gozo de verdade, pra valer.

Não costumo fazer isso, quando acabo, me sinto vazio. Incompleto. Por um instante me permito sentir o nada, mas é somente um instante, levanto-me a fim de me ocupar, tomo banho e me arrumo cedo para ir trabalhar.

Trabalho numa empresa de papel, onde sou o responsável pela contabilidade, há quatro meses. De forma que não tenho colegas à quem perguntar sobre minha vida anterior. Me lembro que era contador autônomo há mais de um ano, na cidade dos meus pais, mas não tenho um celular antigo com os contatos anteriores. Lembro-me de outros empregos também, anteriores, mas não me lembro de ter amigos, assim como não tenho amigos no escritório atual.

Sou ruim de conversa, tímido e desengonçado, não sei muito me enturmar. Para piorar, no escritório a maioria dos caras gostam de bancar o alfa, sempre falando de mulher (geralmente de maneira pejorativa), futebol, esportes, e vários assuntos cujo o meu interesse beira o zero, sem falar das frequentes piadas sobre gays. Sei, inclusive, que fazem piadas sobre mim pelas costas, mas ignoro, percebo nos olhares, os cochichos ou risadas abafadas.

O único com quem tenho mais contato (involuntário) é meu subgerente, André, por ser a quem presto meus relatórios. Acredito que ele perceba que estou sempre sozinho, pois tenta ser simpático, está sempre puxando algum tipo de brincadeira. Ele é o tipo de cara que conhece todo mundo na firma e necessariamente precisa mexer com todos. É um quarentão de olhos acinzentados e cabelos loiro-grisalhos meio ondulados na parte de cima, raspados nas laterais. É bastante vaidoso, usa um perfume que seria bom se não exagerasse na quantidade, e deve se exercitar horrores. Está sempre usando ternos slim e camisas tão apertadas nos braços que quando os mexe, parecem que vão arrebentar.

É muito bonito, tenho que admitir, e rolam vários boatos de saídas suas com funcionárias, a nível de até eu saber delas. No entanto, o acho irritante, está sempre querendo chamar a atenção. Frequentemente mexe comigo, querendo fazer com que eu me enturme, me tratando como amigo. Meus modos retraídos não me permitem gostar muito dele. Sempre desconfio de que ele é do tipo que gosta de ser admirado, não importando muito por quem, e que sua simpatia visa meramente a isso.

_ Por que essa cara, Samuel? Eu mal ouvi sua voz hoje. Você precisa arranjar uma namorada. Apesar que com essa cara de anjinho coitadinho você já deve ter, pelo menos, umas duas - diz ele, ao me ver terminando de comer sozinho no refeitório, com seu jeitão de "tiozão".

Se senta ao meu lado. Está usando apenas a camisa branca e uma gravata vermelha. Tenho certeza que está rindo da minha cara por dentro, mas me faço de desentendido.

_ Na verdade eu já tenho alguém...

_ Então precisa arranjar uma segunda namorada, pois a cara que você está fazendo...tsc. Ela não parece estar te agradando - diz ele arregalando os olhos e contraindo os braços, em um gesto obsceno discreto.

Não menciono que na verdade falava de um cara. Tento apenas cortar o assunto.

_ Na verdade nós passamos muito bem, mas esses dias estava na casa dos pais, então passei a Páscoa sozinho. Mas já já estamos juntos.

_ Bem, se quiser, a galera do escritório vai assistir ao jogo em um bar hoje à noite - diz, se levantando, e tocando em meu ombro. Sempre fala com as pessoas olhando bem nos olhos, abaixo a vista sem graça, para os braços. Me pergunto se não é desconfortável usar algo tão apertado. Mas sou obrigado admitir que os acho incríveis, um misto de inveja e admiração.

_ Vou passar. Preciso arrumar a casa pra quando estivermos juntos. Talvez de tudo certo já pra amanhã cedo.

_ Sei. Tá querendo deixar tudo no jeito pra dar o bote, né safado? Já tá com o jogo no esquema em casa - diz sorrindo, me chacoalhando e apertando mais ainda meu ombro, com vontade. É a primeira vez que me toca assim, talvez por ser a primeira vez que falo, ainda que por códigos, sobre ter alguém. Eu me sinto estranho.

Acabo reparando mais em André todas as demais vezes que o vejo após a conversa no refeitório. Além da camisa, usa uma calça social que marca bem a bunda malhada, evidente enquanto anda, o sorriso sempre muito fácil na boca vermelha e sanguínea... Não que já não tivesse reparado antes, mas antes eu mesmo me boicotava dizendo que o achava "broxante com aquele jeitão", mas hoje havia sido um pouco mais difícil me convencer disso. Me sinto um pouco mal por sempre pensar tão mal dele. Mas sinto algo indefinido também. Algo que me faz parecer sujo.

Ao terminar meu expediente, decido ir à igreja e falar com padre Isaías. Por sorte a igreja ainda estava aberta esse horário. Encontro uma beata saindo da igreja, ao cruzar a porta, mas dentro está tudo vazio. Vou até a sacristia.

O Diabo sobre a CarneOnde histórias criam vida. Descubra agora