Deus

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HANSOL

[MOROS]

Kairós não era muito de falar.

Eu tinha entendido isso muitos anos antes, quando havíamos só eu e a casa, isolado de todos, e a garota apareceu. Nunca disse como entrou na casa, como sabia daquele lugar também, apenas escolheu um quarto e disse que um dia seríamos amigos, que o tempo certo viria. Toda vez que ela dizia sobre isso de tempo certo eu pensava na mesma passagem da bíblia que ouvia quando era criança, sobre o tempo de tudo, e a importância de ser paciente.

Eu nunca esqueci disso, talvez por ser uma das poucas boas lembranças que tinha de minha mãe.

Depois de alguns anos eu me habituei ao seu silêncio e comecei a gostar dele, porque não era ruim. Ela conseguia dizer muito sem falar nenhuma palavra. Especialmente porque Kairós conseguia compreender coisas que para mim ainda não faziam sentido. Vivíamos juntos há quase 60 anos e pelo menos uma vez ao ano, ela ia até a sala de armas, e passava horas olhando para God Killer. Estava fazendo isso agora, me ignorando por completo, olhando para aquela coisa velha como se fosse o objeto mais interessante que já viu.

Tudo sobre aquela espada era bizarro. Na verdade, eu demorei mais do que gostaria de admitir o que ela representava, assim como o que a ausência das minhas flechas significava para o universo. O dente de tubarão estava exatamente no mesmo lugar desde que o vi pela primeira vez. Nunca tive coragem de tocá-lo, havia energia demais naquele pequeno objeto e eu temia tudo que o envolvia. Especialmente o nome gravado no pedestal onde as flechas ficavam.

Jeon Jungkook. Humano. Semideus criado.

Quem era Jeon Jungkook? Poderia ser qualquer um com esse nome. Ele ainda não tinha nascido, isso eu tinha certeza - não sei exatamente porque, era um tipo de sentimento sem explicação - mas se ele era importante o bastante para estar gravado na casa, queria dizer que ele provavelmente foi o que reiniciou o universo. Um humano destruiu um universo inteiro.... Um humano burro! Ele não iria durar nem o primeiro ano de vida com o tanto de energia do universo morto que estaria na mente dele. Talvez chegasse aos seis meses de vida com muita sorte.

— Hansol?

Ela olhou para trás, ou ele, já que tinha a imagem de um homem dessa vez. Eu demorei a me acostumar com isso, até eu mesmo começar a fazê-lo. Era divertido ter outros rostos, porém, eu acreditava que ela não o fazia por ser divertido. Parecia mais como uma máscara.

— Eu me lembrei de algo. A casa... ela me ajudou a lembrar.

— Do que?

— Não posso te dizer.

Que?

Qual o sentido de me avisar sobre algo que ela não podia me contar? Mas levando em conta que era Kairós, e seus inúmeros segredos, nem era surpreendente. Mesmo depois de tantos anos ela nunca me disse seu nome humano, nunca disse de onde veio, o que aconteceu com sua família, mesmo que não precisasse adivinhar o final terrível que provavelmente tiveram. O destino da família de qualquer deus encarnado nunca era bom, Namjoon transformou a própria mãe em deusa para salvá-la da morte, mas para mim era apenas um paliativo ridículo. No fim, todos terão de partir. Mesmo nós.

— Precisamos nos preparar, o tempo já é bem próximo — eu odiava quando ela falava assim, porque eu nunca entendia do que droga estava falando. Toda essa história sobre tempo oportuno fazia com que houvesse uma brecha gigante para suas falas, seus discursos mais agourentos podiam não significar coisa alguma — Ele vai nascer logo — não precisou explicar para que eu soubesse de quem se tratava.

God Killer - PRIMEIRA VERSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora