Epilogo

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HANSOL

[MOROS]

Existem histórias que você já sabe como vai acabar. Está lá desde a primeira linha ou pode-se notar mais ou menos para o meio dela, que o protagonista não tem salvação, que os vilões vão vencer, que o casal não vai ficar junto. Escrevi destinos assim a vida toda, porque a dor de um final trágico sempre será mais forte do que a alegria de um final feliz. O tremor abalou Seul por quase uma hora, podia ser considerado um milagre os prédios permanecerem inteiros, mas para mim tudo tinha ruído.

Poseidon não era como os outros, sua dor não era compartilhada com o mundo da mesma forma que Hoseok ou Min Yoongi podiam fazer, mas havia algo de estranho mesmo no ar, como uma força palpável que me distraiu de minha própria dor, que agora tinha um peso mais literal depois de tirar o veneno do corpo de Seokjin. A morte também viria para mim, mas esperava de algum modo ver Jungkook do "outro lado".

Kairós não chorava quando a vi, quando a terra não mais tremia e sabíamos que Taehyung estava trazendo a si mesmo e o que sobrou de seu coração quebrado de volta para casa. God Killer voltaria para seu lugar de origem e ficaria provavelmente inutilizada até o fim das eras. Kairós, quando a encontrei, via "além". Usando seu truque a respeito do tempo, mas agora alongando-se mais nisso do que costumava. Talvez estivesse fugindo. Tentando ignorar a própria dor. Então fiquei ao lado dela, observando a parede do quarto que Taehyung nos deu, repassando as imagens que viviam em minha mente desde que o universo as mostrou a mim, como um aviso.

Eu não deveria ser capaz de ver meu próprio destino, mas ele veio até mim. Não era ruim, com certeza não, só seria... difícil. Eu não tinha ninguém além de Kairós para dar adeus dessa vez, ela ficaria bem, mas nunca tive de me despedir antes, não sabia o que esperar.

— Nós temos de voltar — ela disse, os olhos voltando ao modo natural. Ela parecia tensa, quase perdida. Sua mão segurou meu pulso, me puxando em direção a porta, há alguns anos eu tinha lhe ensinado como convocar a casa, mas ela raramente o usava, então quando fui arrastado para o corredor de mármore, foi a primeira vez em anos que fiquei surpreso por uma atitude dela.

— Quer... quer falar com eles? — os pais de Jungkook estavam ali, eu sequer havia pensando no luto deles, de como ficariam ao saber que o único filho que lhes restou estava morto. Queria dizer que a dor deles me afetava, mas seria mentira. Sempre quis tirar Jungkook do convívio com os pais humanos e mesmo que a boa vontade deles tivesse crescido nos últimos tempos, eu preferia guardar algumas ressalvas — Kairós, por favor... — pedi, mas ela continuou me obrigando a seguir em frente. Puxei a mão de volta — Kairós, não!

Ela parou.

— Nós perdemos o Jungkook. Eu não dou a mínima para os pais humanos dele, não dou a mínima para nada além do... — respirei fundo, apertando os lábios quando as lágrimas se acumularam. Eu não precisava mais me preocupar com elas, porque agora não produziam efeito algum, porém chorar agora me faria perder o controle da situação — No fim nós perdemos...

— Ele não morreu.

A frase pareceu se repetir como um eco, vibrando em meus ouvidos, e poderia gritar pela piada de mal gosto se ela não tivesse a expressão mais firme que já vi em seu rosto desde que ela me convenceu do plano estúpido de criar um semideus. Não havia nenhuma sombra de mentira ali, mas...

— Como?

— Um receptáculo só precisa de um sacrifício. Já houve um sacrifício por Jungkook.

Junghyun...

Ela tinha razão em sua teoria no fim das contas. Um receptáculo exigia o sacrifício de uma alma, Sun teve de sacrificar a sua pois nasceu dessa forma. Jungkook foi criado, através do sacrifício de Junghyun. A "dívida" com o universo já estava paga.

God Killer - PRIMEIRA VERSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora