Sinto meu corpo pesado, denso, é como se eu estivesse fundida ao chão, como se eu e ele tivéssemos sido derretidos num mesmo caldeirão. Com os olhos semiabertos tento focar ao redor, minhas pupilas giram de um lado para o outro investigando por algo familiar. Pisco inúmeras vezes buscando clarear minha visão, não adianta, meus olhos estão enevoados.
Abro a boca, contudo minha voz não alcança a potência necessária para pedir por socorro. Arrasto-me no chão, com imensa dificuldade, como se cada osso meu fosse banhado a chumbo, empenho-me em libertar minhas mãos, no entanto só consigo girar e ficar de barriga para cima. Respiro fundo e fecho os olhos, esperando que essa sensação nauseante me abandone e eu consiga gritar. Os minutos passam, ou são horas, eu não sei, só quero que esse efeito suma do meu corpo.
Por que estou aqui? Por que esse homem me sequestraria? Eu não tenho nada, só pode ter me confundido com outra pessoa. Se ele me der a chance de explicar quem eu sou, posso deixar tudo às claras.
Aos poucos vou sentindo meu corpo mais ativo, o turvo da minha visão desaparece e consigo focar ao redor. Estou num cômodo vazio, as paredes tem um tipo de revestimento, algum isolamento acústico. A lâmpada emite uma luz baixa e deixa tudo mais sombrio, não há janelas ou então estão atrás desse revestimento. Começo a me sentir sufocada pela ideia de não saber quanto tempo mais haverá oxigênio nesse lugar. Num dos cantos do teto vejo uma luzinha vermelha e fraca piscar.
Uma câmera? Talvez deva haver alguém que me observa.
Debato-me no chão, procurando soltar meus braços amarrados atrás do corpo. E sabendo que ninguém irá me ouvir, grito da mesma maneira, esperando que ele leia meus lábios.
— EU NÃO TENHO NADA. VOCÊ PEGOU A PESSOA ERRADA. POR FAVOR, ME DEIXA IR EMBORA. JURO QUE NÃO VOU CONTAR PARA NINGUÉM. SÓ ME DEIXA IR EMBORA...
Tento articular meus lábios o melhor possível e torcer para que ele entenda minhas palavras. Contudo, o tempo passa e ninguém surge. Meu desespero toma novos níveis e grito com tanto vigor que sinto minha garganta seca e arranhada. Tusso e me debato, no entanto as cordas que me amarram só machucam ainda mais.
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