Finjo que não noto que sou o motivo de seus risinhos e continuo firme, quando por fim alcanço a entrada do colégio. Coloco todas as sacolas no chão e respiro ofegante.
— Nossa, você está carregada hoje, não? — Ouço a voz de Soledade que para ao meu lado e começa a pegar algumas sacolas para si.
— São alguns livros para os alunos — informo, dando-lhe um sorriso de bom dia.
— Isso é ótimo, mas você já os tinha? — pergunta, curiosa.
— Não, eu os comprei.
— Você comprou todos eles? Blanca, o colégio não faz reembolso para os professores, se você os comprou...
— Não, não... não comprei pensando em reembolso, sei das dificuldades dos colégios públicos. Mas encontrei uma brecha na armadura de alguns alunos e resolvi arriscar e para isso eu precisava desses livros.
Ela me ouve falar, franzindo a testa ao final.
— Entendo, mas ainda prefiro que tente essa aproximação sem investir muito do seu dinheiro. É claro que não será nem uma nem duas vezes que precisará arcar do próprio bolso para levar algum projeto adiante. Eu mesma tive que comprar uma quantidade grande de material para a mostra de artes do final do mês. — Ela suspira e ajeita as sacolas nos braços. — O problema é que já é difícil nos manter motivadas o suficiente com o que ganhamos, se tirarmos muito dos nossos salários o trabalho se tornará algo oneroso e desencorajante.
Assinto e seguimos colégio adentro.
— O sinal já vai tocar. Vamos, ajudo a levar todo esse material para sua sala.
— Obrigada — respondo, agradecida que ela tenha aparecido.
Assim que Soledade entra na sala, começa a olhar ao redor procurando pela minha mesa.
— Está no outro canto — aviso, apontando para a direção certa.
— Não acredito que eles levaram sua mesa para lá... — fala, num tom mais rigoroso.
— Na verdade, fui eu — digo, sem lhe dar muitas informações.
Soledade inclina a cabeça, desconfiada.
— Estou tentando várias táticas de aproximação — completo, dando de ombros.
— Bom, espero que funcionem. — Ela segue até onde a mesa está e coloca os livros sobre ela, despedindo-se em seguida. Um minuto depois o sinal dispara e logo alguns alunos começam a chegar.
Nada de diferente, entram como se sua professora não estivesse em sala; falam, riem, cantam, gargalham e se acomodam nas cadeiras como se estivessem no sofá da própria casa.
Olho-os um a um e vejo Lorenzo entrar ao lado de Diego, Lorenzo está com um braço ao redor dos ombros de Diego e os dois interagem como amigos de longa data. Eles me veem e me presenteiam com um risinho debochado.
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PÁSSARO LIBERTO (Amazon e Físico no www.daniassis.com.br)
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