Capítulo III

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  Chegando na casa da minha tia, entrei.

  - Você vai ficar aqui neste quarto a partir de agora. Mas, se quiser dormir comigo por um tempo, tudo bem. Eu entendo sua... sua... saudades... ah, deixa pra lá.

  - Saudades dos meus pais. Era isso, não é? Eu acabei de perdê-los, eu sei disso. Pode falar sem problemas...

  - É que eu sei o quanto está mal, tentei evitar falar nisso por medo de te deixar ainda mais triste. Junto com sua mãe, também se foi minha irmã.

  - Não tem como eu ficar mais triste do que estou agora...

  Segundos de silêncio. Respirei fundo, e direcionei meus olhos para a paisagem que estava na minha frente, apesar das casas na rua da frente cobrir um pouco dela.

  -... eu ainda não acredito que eles se foram.

  Logo depois que acabei de dizer, não consegui segurar o choro. Tampei meu rosto com as mãos e comecei a chorar.

  - Ei, meu docinho, também estou muito triste por perder minha irmã e meu cunhado. Mas essa fase de tristeza interminável, vai passar.

  - Não vai passar. Nossos choros podem até diminuir com o tempo, mas a tristeza nunca vai passar. - Disse eu após enxugar os olhos, voltando meus olhares para a paisagem com eles ainda vermelhos e cheios de lágrimas.

  - Ela pode sim diminu...

  - Ela não vai diminuir.

  Nesse momento, mais um silêncio tomou conta. Só escutávamos as pessoas e carroças passando por aquela rua de terra. Minha tia me olhara com certo olhar de estranhamento, como se não acreditasse que uma criança de dez anos fosse tão "pé no chão" quanto sua sobrinha. Cansada de tentar me aconselhar, levantou silenciosamente da cadeira ao meu lado.

  - Vou esquentar o leite. Vai querer?

  - Um pouco, por favor. - Respondi ainda com os olhos fixos à paisagem.

  Segundos depois, levantei pra ajudar ela.

  - Mary, você pode pegar os copos no armário para mim, por favor?

  Sem abrir a boca, fui até lá para pegar.

  Observava calada ela despejando o leite nos copos.

  - Mary, sei que é difícil agora, mas, tenta se animar um pouco, dar uma olhada à sua volta...

  - Agora, não. Eu não quero me animar agora. Nem tentar. Porque nao há razão.

  Na hora, percebi que minha tia ficou chateada e inclinou um pouco sua cabeça pra baixo.

  - Tia Constance, eu serei eternamente grata à você por dividir comigo o seu próprio lar...

  No mesmo momento, ergueu a cabeça olhando pra mim e sorriu.

  - ... Eu lhe prometo que vamos ser grandes parceiras. Mas espere um pouco essa fase horrível passar. Tudo bem?

  - Mas é claro, meu amor.

  Alguns dias se passaram, e fui me adaptando à nova rotina. Era perfeita, exceto em alguns pontos... alguns grandes pontos.

Continua...

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