Capítulo XXI, parte I - Primeiro Amor

40 4 2
                                    

Depois de algumas horas, enfim parece que chegamos onde tínhamos que chegar. Os bandidos tiraram as mercadorias de nossa frente e nos tiraram violentamente para fora da carroça, segurando nossas mãos mesmo amarradas. Nos levaram até uma pequena casa toda feita de madeira. Abriram a porta e nos largaram lá.

- Esperem aí. - Um deles nos disse.

O lugar era muito apertado e mal podíamos ver a luz do sol lá de dentro. Haviam duas camas de palha no chão e uma velha e pequena cômoda ao lado, que continha um abajur com luz quase apagando e uma gaveta. A curiosidade nos matava, porém não tínhamos o que fazer pra soltarmos nossas mãos pra enfim vasculharmos pra achar algo que possa nos permitir fugir.

- Não importa, a gente tem que pensar num jeito de dar um fora desse lugar, e tem que ser o quanto antes. Já estou cheio daqui. - Reclamou James.

- Eu te ajudo a pensar. Fica tranquilo, a gente vai conseguir. - Falei, quando nós dois sentamos encostados na parede.

Na mesma hora, um dos ladrões rapidamente abriu a porta do lugar, puxou uma de nossas orelhas e nos disse:

- Vocês vão ficar aqui, agora. Vamos planejar inúmeros roubos de bancos e vocês ainda vão nos deixar ricos. Haha, é isso aí. Nos deixar ricos. Ou vocês nos obedecem e façam exatamente o que pedirmos, ou vocês morrem. - Disse, soltando nossas orelhas e tirando uma faca do bolso.
Na mesma hora, ele se virou e retirou-se do lugar.

- James, eu prefiro morrer do que fazer algo injustiçado. Jamais irei pisar dentro de um lugar pra roubar. Eu vivo pra ser uma justiceira, mas me parece que esses idiotas não perceberam.

- E é melhor nunca perceberem.

- Por que diz isso?

- Mary, eles podem muito bem te matar, se quiserem. Não duvido nada desses homens. Por favor, Mary, não ouse fazer isso e me deixar aqui. - Falou, inclinando um pouco sua cabeça pro lado, me olhando.

James é um garoto lindo demais, confesso que várias vezes me batia uma vontade inexplicável de tão grande, de beijá-lo, e poder segurar em seus lindos cabelos ondulados e loiros enquanto faria isso. Seus lábios são vermelhinhos, e seu rosto tem leves sardas; seus olhos me fazem lembrar caramelo, o delicioso caramelo que mamãe fazia pra mim toda vez que provava ser uma boa menina, obedecendo ela e meu pai.
Mas aquela hora não era hora disso, era hora da gente pensar num belo e elaborado plano pra darmos um fora dali.

Depois de uns 20, 30 minutos de puro silêncio, decidi puxar um assunto com ele:

- James, você tem sonhos?

Ele me olhou com seus belos e brilhantes olhos - apesar do lugar que estamos ser bem escuro, só com aquela luz fraca do abajur, seus olhos ainda brilhavam - e respondeu de forma tranquila, encostando sua cabeça na parede de madeira:

- Meu sonho é ser feliz. Seja construindo uma família, ou sendo bem sucedido, ou seguindo uma profissão que gosto... sabe, ainda não faço ideia do quê quero ser quando crescer... e a hora de decidir já está chegando, mas não estou nem um pouco preocupado. Eu só quero ser feliz.

- Linda resposta, adorei. Está certo, temos que ser feliz, acima de tudo.

Ele deu um lindo sorriso de canto de boca olhando pro chão, até que direcionou seus olhos pra mim e continuou:

- E você? O que quer ser?

- Eu quero ser uma justiceira. Meus pais foram injustiçados e com isso eu os perdi. Sonho em passar a vida caçando justiça por onde eu pisar, por isso eu nem penso em ter uma moradia fixa. Eu sou do mundo, desse grande e temido Oeste. Ele é a minha casa. - Enquanto falava, ele me olhava com seus lindos olhos, com a cabeça ainda encostada na parede, com o sorriso ainda no rosto. - Gosto de acordar sem saber por onde irei passar, o que irei encontrar, entende?

- Mary, você é incrível, está destinada a ser uma grande caçadora de justiça. Você me impressiona muito, sabia? Em pouco tempo que te conheço, já tenho uma consideração e admiração enorme por você. Um dia, eu e todo esse Oeste vamos ser gratos por sua existência, suas ações. Você vai ser a heroína de tudo isso aqui, e eu vou sentir muito orgulho de ter te conhecido um dia. Eu prometo que jamais vou me esquecer de você.

- James, eu não sei o que dizer de tudo isso. Foi literalmente a coisa mais bonita que já me disseram em anos. Fazia muito tempo que não me sentia feliz assim.

- Estou orgulhoso de mim mesmo, depois dessas suas palavras. Sabe, Mary, quando esses homens me capturaram eu tinha a certeza de que meus próximos dias seriam os piores da minha vida, mas... quando te conheci e me dei conta de que passaríamos alguns próximos dias juntos, tenho que dizer que não está sendo tão ruim. É claro que não vou dizer que esses dias são os melhores, até porque isso é impossível nessa situação que estamos...

- Eu sei, James. Eu entendo.

- Mas se não fosse por você, se você não estivesse aqui do meu lado agora... eu provavelmente já teria perdido o controle, teria me comportado muito mal e ia encher a paciência desses caras e eles teriam me matado.

- Eu fico muito feliz mesmo de ouvir isso de você, porque eu digo o mesmo. James, você é a melhor companhia que alguém poderia ter numa situação dessas e eu sou grata a Deus por isso. Você é incrível, e me desculpe por te dizer isso em tão pouco tempo que nos conhecemos, mas eu já te amo. - E dessa vez, foi a minha hora de dar um sorriso. Só não sei se foi tão bonito quanto o dele, quem sabe disso é só ele.

Ele também deu seu lindo sorriso, e dessa vez, foi mostrando os dentes. "Esse garoto é maravilhoso", pensava. Antes de poder pensar muita coisa, quando me dei conta, ele foi se aproxinando ainda mais de mim, direcionando seus lindos olhos pra minha boca. Eu fechei meus olhos, e pela primeira vez senti a melhor sensação de todas que já tinha sentido antes.
Senti seus lindos lábios tocando lentamente os meus. Foi bem devagar, maravilhoso. Ele parou, encostou seu nariz no meu, se afastou uns 3cm, olhou em meus olhos, sorriu novamente e continou a me beijar. A gente não conseguia parar, estava muito bom. Eu estava nas nuvens. Nós dois estávamos.

Enfim, depois de uns 30, 40 segundos, a gente parou. Ele olhou pra mim, deu seu lindo sorriso de lado, ajeitou sua coluna e me pediu pra deitar em seu colo.
Eu me deitei com a cabeça em sua coxa e ele encostou a cabeça na parede novamente.

- Eu juro que se minhas mãos não estivessem amarradas agora, eu estaria fazendo carinho nesse seu lindo cabelo. - Falou.

- Haha, eu sei, James. Ah, quem me dera se minhas mãos não estivessem presas também... eu ia te abraçar e beijar muito...

- Pode deixar que ainda vamos fazer isso, se quiser.

Continua...

Diário de uma Justiceira Onde histórias criam vida. Descubra agora