Capítulo VI

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O Sol se pôs e nasceu novamente.

- Mary??? Hora de levantar!!!

- An?? Que horas são??? - Disse, esfregando as mãos nos meus olhos.

- Não sei ao certo... umas 5 da manhã, talvez.

- Pensava que a hora "certa" pra eu acordar era às 7h.

- Pensava errado. Você vai acordar mais cedo, agora. E ajudar sua tia na casa.

- Meu Deus... - Disse eu, sentando na cama e olhando pro nada, ainda meio "louca" de sono.

- O quê foi, hein? Pare de reclamar e levante logo.

- Eu não estou reclamando. Só queria dizer que eu tenho que dormir muito mais cedo se eu for acordar essa hora todos os dias.

- Então durma.

Levantei e fui ajudar minha tia a fazer o café da manhã, lavar a louça, passar um pano na casa, limpar os banheiros e varrer a varanda. Durante quase todo o tempo, minha tia ficou cochilando no sofá. Terminamos às 12h.

Sentei no sofá exausta e toda molhada de suor.

- Caramba, eu estou muito cansada.

- Quanta moleza... desse jeito não vai dar. Você não vai conseguir acompanhar o meu ritmo.

- Sério??? É meio óbvio mesmo. Uma garota de dez anos levantando 5h da manhã todos os dias e fazer tudo que eu fiz é realmente algo de se esperar se ela não aguentar.

- Pare de reclamar. Vá já pro quarto.

- Eu vou mesmo com o maior prazer, só depois de almoçar na vila.

- O quê??? Volte aqui, garota! Não lhe dei permissão pra isso... Mary??? MARY WOOD, VOLTE AQUI!!!

- Eu-não-ligo! - Respondi, pegando o dinheiro dela e saindo de casa.

Depois do almoço decidi passar mais um tempo na vila. Queria ficar o mínimo de tempo possível naquela casa.

Eu estava super feliz brincando com alguns amigos meus que encotrei pela vila, até o Sr. Jack, amigo de tia Constance, me avistar. Tentei correr dele mas ele alcançou. Puxou minhas orelhas e me levou até à casa da minha tia.

- Essa peste estava à solta pela vila brincando com algumas crianças. Imaginei que a senhora estava à procura dela, já que não te vi por perto. - Disse ele, me empurrando para tia Constance.

- Estava... eu estava sim. Muito obrigada, Jack! - Disse ela levantando do sofá, tomando um gole de whisky. - Eu nunca mais quero que faça isso. Está me entendendo, mocinha??? - Falou, puxando minhas orelhas.

Assim que ela me soltou, corri pro quarto, chorando. Minha vida estava virando um inferno e cada dia que passava, eu queria mais e mais a presença de meus pais comigo. O buraco que deixaram no meu coração era insubstituível, e a cada momento, sentia que ele crescia cada vez mais, consumindo meu coração com sua escuridão. Eu temia a chegada de um dia em que eu não conseguiria mais amar ninguém.

A janta sempre ficava pronta às 23h graças à responsabilidade de tia Constance, e eu acordava às 5h da manhã. Era comum eu acordar e fazer todo o serviço enquanto minha tia apenas dormia. Já que pra eu aguentar o peso da rotina, dormir sem jantar era comum pra mim. Tudo que mais queria era aprender a cozinhar para meu próprio bem, mas ela dizia que eu era nova demais para isso.

**Três Anos Depois**

Vou pular tranquilamente três anos dessa minha história porque, digamos que foram absurdamente chatos. Aquela minha rotina que vocês basicamente já conhecem continuara a se repetir, só que cada dia era mais chato e com mais e mais regras. E conforme eu crescia, é óbvio que só piorava. Eu estava mais velha e, "o que eu aguentava fazer com 10, por quê não conseguir com 13?"

Se acalmem, não se perguntem o por quê de eu ter pulado três anos e parado aqui. Achei importante contar essa parte da história, só pra vocês verem o quanto tia Constance era insuportável. Quer dizer, acho que vocês já viram... porém agora irão ter a certeza.

Certa tarde, estávamos eu e Constance andando pela vila pra comprar comida quando avistei uma cadela morta, largada no canto da rua.
Me aproximei para ver, distanciando um pouco da minha tia.

- Mary, volte aqui! Onde está indo?

- Calma! Já vou voltar.

Eu queria poder concluir que ela estava mesmo morta, pois se estivesse gravemente ferida, eu tentaria salvá-la. Mas ela estava mesmo, mas com 3 filhotes ao seu lado. Dois mortos, e um vivo. Rapidamente peguei o cãozinho e fui para perto de minha tia.

- Vou levar esses dois pacotes de arro... Mary, que merda é essa?

- "Merda"? É assim que se refere à um filhote à beira da morte? Que legal. Muito simpática, você. Não sei por quê estou surpresa com isso...

Tia Constance pagou os dois sacos de arroz, se virou e disse:

- Vamos embora. Deixa essa coisa no lugar que tu achou.

- O quê??? Eu não vou não! Ele vai com nós pra casa!

- Escute, EU NÃO QUERO NENHUM ANIMAL EM CASA!

- É SÓ ATÉ CUIDARMOS DELE E ELE FICAR BEM, EU PROMETO!!! QUE DROGA.

Minha tia me encarou por alguns segundos, mas no fim permitiu. Não sei como.
Levei o cãozinho pra casa, o alimetei e improvisei uma caminha pra ele. No meu quarto, óbvio. Se tia Constance fizesse algo com ele no meio da noite, eu iria escutar a porta do quarto abrindo e quem sabe impedir uma tragédia com aquele pobre animal.

Alguns meses se passaram e o cãozinho já estava numa fase, digamos que nem adulto e nem filhote. Ele era meu melhor amigo. TUDO que eu tinha vontade de falar e fazer, eu desabafava com ele. Mesmo sem condições de dizer ou sequer entender uma palavra, ele foi meu único, primeiro e melhor psicólogo. Já tinha me apegado à ele, mas minha tia não queria saber. Um dia ela fez algo que para mim foi à gota d'água, apesar de eu não ter outra escolha a não ser continuar a viver naquela casa. Eu era uma garota de 13 anos.

Continua...

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