Andei por mais algumas 2 horas e finalmente pude ouvir um barulho de correnteza. Me deparo com um riacho, me aproximo e faço uma concha com minhas mãos para ver o estado da água antes de beber. Porém eu ia beber de qualquer jeito; a sede estava me sufocando. Pude ver que a água estava limpinha, toda cristalina. Era uma benção achar uma fonte d'água assim no meio daquele pequeno "deserto". Enchi o recipiente de água que David havia me dado horas atrás, que já estava seco de tanta água que bebi. Depois de encher a garrafa, esperei o Trovão também matar sua sede no riacho. Tirei duas maçãs da minha bolsa que os cowboys haviam me dado e dei uma para Trovão. Logo em seguida, continuamos a viagem até a próxima vila, segundo David.
Mais ou menos uma hora depois, pude ver a cidadezinha. Finalmente!
Entramos e me senti naquelas cenas clássicas de faroeste em que todos na cidade ficam olhando o forasteiro que está passando na rua como se ele fosse um extraterrestre. Os habitantes daquela cidade estavam assim comigo. Só não estavam temendo tanto porque puderam ver que eu era apenas uma garota adolescente, de 15 anos.Enfim, passei em frente ao salão da cidade, desci do cavalo e o amarrei num pedaço de madeira lá em frente. Empurrei as duas portas do salão e entrei, enquanto ambas ficavam indo e voltando, para dentro e para fora, fazendo aquele barulho que chamou a atenção de quem estava lá dentro, como com qualquer outra pessoa que passa por aquelas portas barulhentas. Só que, diferente dos outros, as pessoas lá dentro olhavam para mim e não desviavam os olhares; mantinham eles fixados em mim. Eu era uma garota de 15 anos vagando sem rumo por aquele perigoso oeste.
Caminhei, em meio às várias fumaças de charutos até o balcão e sentei em um dos bancos, ao lado de outros três homens que estavam lá.- Gostaria de uma porção de frango, por favor. - Disse ao balconista, enquanto os homens ao meu lado me olhavam de baixo pra cima. Não pude negar o constrangimento que tive na hora.
- Mais alguma coisa, senhorita? - Perguntou o balconista.
- Não, obrigada, ... - Olhei o papel colado em seu avental e vi que estava escrito "Bryan". - ... Bryan. Apenas um copo d'água. - Disse.
Quando ele se virou para preparar meu pedido, os homens puxaram conversa.
- Qual é o seu nome, garotinha? Está tudo bem? - Perguntou um deles.
- Estou sim. Sou Mary Wood, e minha vida se resume nisso agora. - Respondi olhando para o balcão, evitando trocar olhares.
- Imagino que não tenha sido uma decisão tão fácil pegar um cavalo e andar por este oeste sem caminho definido... - Acrescentou o outro.
- É, realmente não foi nada fácil. Mas minha vida na minha cidade natal estava insuportável, literalmente.
Bryan me entregou um prato de frango e um copo d'água. Comecei a comer, enquanto um dos homens ainda disse:
- E você tem onde passar esta noite?
- Não. Pretendo dormir debaixo de qualquer árvore por aqui. Apenas o fato de eu conseguir fechar os olhos já é lucro pra mim. - Respondi, quando logo vi que Bryan (virado de costas, enquanto limpava uns copos) moveu a cabeça discretamente em minha direção, como se quisesse ouvir um pouco mais sobre o assunto, e depois voltou sua cabeça no lugar, disfarçando.
- Dormir embaixo de uma árvore? Tome cuidado, garota. Uma coisa assim aqui no oeste pode ser perigoso, inclusive para você, jovem desse jeito.
- Diria que nem tanto. Durante o tempo em que meu pai era vivo, ele me ensinou várias técnicas para manusear armas. Com uns cowboys que encontrei ontem no meio do caminho, aprendi mais muita coisa.
- Ah sim, menos mal, então. Se tem uma arma, se tem tudo. - Disse ele, olhando fixamente pra mim enquando colocava o charuto na boca, me deixando um pouco constrangida.
- Mas não importa. - Interrompeu Bryan, guardando os copos e se virando vindo em nossa direção. - Essa menina tem cara de que sabe muito bem se virar sozinha. E eu tenho certeza que sabe. - Continuou, olhando para mim.
- É... espero que saiba mesmo. - Disse um dos homens que estavam ao meu lado, levantando e indicando com um olhar para seus companheiros saírem com ele e se retiraram.
- Tome cuidado, estes homens são sujos. Estão doidos para fazerem coisas horríveis com você. Da próxima vez, procure não lhes dar muitas informações, como por exemplo agora, você facilitou bastante a vida deles.
- Ah sim... muito obrigada, nem tinha pensado nisso.
- Imagina. Olha, se não for muito incômodo, peço para ficar aqui no salão até a hora de eu fecha-lo. Tenho uma proposta pra você. - Disse, piscando um olho para mim.
- Sim, fico sim.
Depois de horas e o salão ainda lotado, disse ao Bryan que já voltava e me retirei de lá.
Desamarrei o Trovão e o levei até uma árvore não muito distante do salão e em um tronco amarrei novamente meu cavalo. Já estava escurecendo.
"Bem, vou me deitar um pouco aqui e já já volto para o salão". - Pensei.- Ei, ei, garotinha?? - Ouvi.
Acordei assustada e era o Bryan, ainda com o avental do salão, em pé ao meu lado. Já estava escuro, eu havia dormido por horas.
- Me perdoe! Eu juro que ia voltar, mas caí no sono...
- Não se preocupe. Olhe, está vendo aquele hotel logo alí? - Falou, apontando para um sobrado em frente ao salão. - Sou dono dele também. Ele tem fama de ser bem cuidado e ter boas condições. Imaginei que gostaria de passar essa noite lá.
- Me desculpe, Sr. Bryan, mas é que tenho pouquíssimo dinheiro e não queria gastar com coisas desnecessárias. Eu consigo passar a noite aqui, mas muito obrigada.
- Não, você não entendeu... quero que você durma em um dos quartos do meu hotel; estou te convidando. Você não precisa pagar nada, ........? - Falou, olhando para mim querendo saber meu nome.
- Mary, Mary Wood.
- Enfim, Mary. O que me diz?
- Tem certeza de que não vai precisar me cobrar nada?
- Claro. Olha, tenho dois filhos, um pequeno e uma adolescente do seu tamanho. E eu não gostaria que nenhum deles dormissem na terra debaixo de árvores sendo que um marmanjo que vai dormir não muito longe deles, tem um hotel ótimo com vários quartos para lhes oferecer. - Respondeu.
- Bom, se é assim, eu aceito... muito obrigada, Bryan. É muita gentileza sua.
Ele me levou até seu hotel. Amarrei o Trovão em um dos pilares e Bryan disse à recepcionista que eu ficaria lá sem precisar pagar. Depois, me levou até um quarto e me entregou a chave.
- É aqui. Pode ser este? - Perguntou, quando abri a porta.
- Claro que pode, é magnífico!
- Ótimo, fico feliz que tenha gostado. Qualquer coisa que precisar, minha casa é logo alí ao lado. Boa noite. - Disse, enquando se virou e foi embora.
- Boa noite!
Tranquei a porta. Fui na sacada ver as estrelas mas logo depois fui dormir. Eu estava morrendo de sono.
Amanheceu, devolvi a chave à recepcionista e agradeci. Subi no Trovão e passei pela casa de Bryan.- Espere, Mary! Já vai? - Disse ele, saindo para trabalhar.
- Ah, já sim, Bryan.
- Então tome, fique com isso e faça bom proveito. - Falou, me entregando um saco de moedas.
- Não posso aceitar, já durmi no seu hotel de graça. - Respondi, lhe devolvendo o saquinho.
- Não, não. Fique com ele! Eu insisto.
- Sério, não sei como lhe agradecer, me ajudou demais no pouco tempo que fiquei aqui. Fique com Deus, Bryan. - Disse.
- Fique com Ele também, Mary. Boa viagem! Se cuide.
Guardei o saquinho, coloquei meu chapéu e segui meu indeterminado rumo enquanto ele ainda me olhava de sua casa, abanando a mão para mim.
Continua...
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Diário de uma Justiceira
Conto***TROQUEI DE CELULAR E NAO CONSEGUI LOGAR NESTA CONTA NELE, FAVOR SEGUIREM @monimo0n__ CONTINUAREI A HISTORIA LA*** Em 1873, no Oeste Selvagem dos Estados Unidos da América, Mary Wood tinha apenas 10 anos quando seus pais, Peter Wood e Jane Brow...