O galo cantou e imediatamente levantei da cama. Passei pelo espelho empoeirado da penteadeira do meu quarto para pentear meu cabelo e levei um grande susto ao ver um de meus olhos, roxo.
"Meu Deus, a coisa ontem foi realmente feia", pensei comigo mesma.Fiz o café da manhã e óbvio, lavei a louça. Eu não queria que John me visse assim. O único jeito dele não me ver seria eu não indo à casa dele, coisa que eu queria muito. Eu não ia de modo algum, deixar de vê-lo por causa do meu olho; por causa de tia Constance. Já chega, chega de limitações. Me troquei e fui até sua casa. Abri a porta e John estava varrendo o chão de sua cozinha.
- Bom dia, Mary, que bom que veio. - Quando acabou de dizer, deu uma olhada pra mim sorrindo e voltou seus olhos pra vassoura. Logo depois me olhou de volta, assustado. - Meu Deus, o que aconteceu com seu olho? - Falou, parando de varrer.
- Ah, isso aqui?? Não é nada. Quer ajuda aí?
- Não...
Ficamos por alguns segundos quietos, enquanto me olhava assustado com a vassoura ainda parada.
- Mary, me diz o que aconteceu. Não pode não ser "nada". É um olho roxo.
- Eu tropecei e caí ontem à noite quando estava voltando pra casa. Nada demais, fique tranquilo...
- Eu sei muito bem o tipo de machucados que uma pessoa tem quando ela tropeça, Mary. E acredite, esse seu caso não é um deles. Criei quatro filhos pequenos, não se esqueça disso. - Respondeu, deixando a vassoura de lado e abrindo sua pequenina e velha geladeira.
- Ah, John... - Suspirei, puxando uma de suas cadeiras da mesa da cozinha e sentando. - Minha tia me bateu ontem.
- Por que? Você aprontou algo? - Perguntou, enrolando alguns gelos num guardanapo.
- Não... quer dizer, sim. É que eu esqueci de lavar a louça... cheguei em casa e não deu cinco minutos, apanhei imediatamente... fora que tive que escutar seus gritos nos meus ouvidos de novo.
- Ah, minha Mary... esquecer de lavar louça não é "aprontar", é normal. Todos nós já esquecemos de alguma coisa. Ela não deveria ter feito isso com você.
- Eu sei que não. Nada que ela faz é certo, mas não tenho escolha... sou só uma garota de 13 anos que é obrigada a obedece-la.
- Mary, você é uma verdadeira guerreira. - Disse, colocando o guardanapo com gelos abaixo do meu olho. - Com 70 anos ainda me pergunto se teria a mesma força que você, com apenas 13, tem para lidar com as coisas da vida.
- John, você também é um guerreiro. Nós dois somos, e é inclusive por isso que nos damos bem.
John sorriu e depois de uns 10 minutos, o machucado foi parando de doer graças aos gelinhos.
- Muito obrigada, John.
- Não tem de quê. - Respondeu, pendurando o guardanapo na janela para secar.
Sentamos então no quintal de sua casa e ele pegou sua gaita. Ele tocava várias músicas enquanto eu inventava umas letras doidas na hora, mesmo. Foi incrível, sem dúvidas a tarde mais alegre da minha vida depois do assassinato dos meus pais.
Sorriamos, fazíamos pausas para beber água e tomar um fôlego, comíamos pães com geléia e logo continuávamos. Mas o tempo voa quando a gente se diverte e logo já eram 18 horas.
Me despedi do John. Ele ficou abanando a mão para mim em pé na frente de sua casa, enquanto me distanciava dele e o olhava, sorrindo. Ele dava "tchau", sorria, e dava uns passinhos de dança, tudo para me deixar alegre e me motivar para voltar pra casa com tia Constance; até que desapareci então da vista dele e fui pra casa. Óbvio, com o objetivo de vê-lo amanhã novamente.O dia seguinte chegou e mais uma vez, acordei animadíssima para o reencontrar.
Chegando lá, abri a porta e o chamei pelo seu nome.
- John, John! É a Mary, estou aqui! Acabei de chegar.
Logo depois de não obter reposta e estranhar esse fato, dei então uma procurada nos cômodos da casa dele e ainda não tive nenhum sinal seu. Ele obviamente me avisaria com antecedência se ele não fosse estar em casa naquela hora. Ele sabe que meu horário de chegar é entre 6 e 7 horas.
Quando coloquei o pé no primeiro degrau da escada para olhar lá em cima, escuto uma "tosse" vindo dos fundos. Não era bem uma tosse, me parecia como se alguém estivesse engasgado com algo...
Corri para os fundos e me assustei ao me deparar com o John, sentado e de costas, vomitando com muito custo.- AH MEU DEUS JOHN, O QUE ACONTECEU??? - Gritei desesperada, enquanto corria em sua direção.
- Mary... - Falou, com uma voz fraca, enquanto continuava vomitando.
- Meu Deus! O que aconteceu? Me diz, John! - Disse eu, já chorando de desespero.
Ele deu uma pausa. Peguei um paninho que estava por perto para ele limpar a boca, e continuou:
- Se acalme, Mary... vai ficar tudo bem.
- John, você está fraco, pálido, sua voz está fraca e tem veias estofadas em sua testa.
- É que estou fazendo muita força para conseguir vomitar... - Logo quando acabou de falar, vomitou de novo. - Ah, mas que droga. Mary, vire o rosto pra lá, não é nada agradável ver isso...
- Ver o que?? Vômito??? Haha, pra quem já viu sangue dos próprios pais jorrando pra fora, isso não é nada. Fique tranquilo. Você tem que ir ao médico, venha comigo. Vou te levar.
- Não, não! Não, Mary. Não precisa disso...
- Precisa sim! É claro que precisa. Não é bom e nem sinal de boa saúde ficar vomitando, sabia? - Falei.
Com um pouco de insistência, consegui convencê-lo a ir ao médico. Peguei pelo seu braço e o ajudei a levantar. Fomos então até o médico.
Continua...
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Diário de uma Justiceira
Cerita Pendek***TROQUEI DE CELULAR E NAO CONSEGUI LOGAR NESTA CONTA NELE, FAVOR SEGUIREM @monimo0n__ CONTINUAREI A HISTORIA LA*** Em 1873, no Oeste Selvagem dos Estados Unidos da América, Mary Wood tinha apenas 10 anos quando seus pais, Peter Wood e Jane Brow...