3- Duas semanas sem ela.

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Minha cama é o único lugar onde me sinto segura. Depois da escola, todos os dias eu volto para casa e me deito ali, pensando na festa de noivado. Foi há uma semana, talvez duas – perdi a noção do tempo. Apenas quando soa o chamado para as orações vindo das igrejas da vizinhança, percebo que o tempo passou. Tzuyu estava tão calma com toda a situação... Será que ela ao menos se importa com o que acontecerá comigo? E com a gente? Eu era apenas uma distração para mantê-la ocupada até o Super-Homem dos pretendentes aparecer. Ele é tão bonito e alto. Sou pequena e acabei de aprender a fazer minha “monocelha” virar duas sobrancelhas. Ele é um príncipe e eu sou um sapo. Um sapo peludo que precisa depilar as sobrancelhas e com uma orientação sexual que cedo ou tarde me levará para a ruína.

Meu celular vibra, e eu não preciso nem pensar para saber quem é, ninguém me manda mensagem além dela. Eu fecho meus olhos e suspiro, eu não sei se queria ler, eu estava tão triste e chateada, mas não era esse o motivo da minha repugna, e sim que eu sabia que assim que sua mensagem chegasse ao meu cérebro, eu viraria sua cachorrinha. Como sempre.

Sana cachorrinha de Tzuyu. Mas Tzuyu nunca cachorrinha de Sana.

[14:34] honey: Sana-chan, lembra quando éramos crianças e eu disse que você era minha? Eu não estava brincando, você é minha, assim como eu sou sua.

[14:34] honey: Eu sempre serei sua. Sempre.

[14:35] honey: Você sabe sobre as nossas circunstâncias, eu nunca me perdoaria se minha família fizesse algum mal para a garota que eu amo.

[14:36] honey: Você pode não entender isso, mas estou fazendo isso por nós. Eu preciso me casar, não tenho escolha, meus pais deixaram bem claro. Se eu tivesse escolha, você seria minha escolha, mas eu não posso te perder, não posso! Mesmo que pra isso você tenha que ser pra sempre só minha amiga, eu não conseguiria viver em um mundo que você não está presente.

Puf, me transformei em sua cachorrinha, eu me orgulhava disso? Não! Mas o que poderia fazer se com apenas um "a" que saí da boca de Tzuyu eu já me transformo no que ela quiser, ela tem tanto poder sobre mim.

Eu demoro um pouco, mas crio coragem e respondo. Eu decido ignorar o pedido de desculpa que vinha em minha cabeça, eu deveria ser dura com ela, talvez assim ela demonstre que se importa.

[15:03] Sana: Não, Tzuyu, eu que não conseguiria viver em um mundo que sou apenas sua amiga.

[15:03] Sana: Você é tão corajosa, às vezes eu só queria que você fosse corajosa comigo. Mas tudo que você demonstra é ser egoísta e mimada.

[15:03] Sana: Como pode não me dizer que iria se casar??? Fizemos amor quase todos os dias durante esse mês, você gemeu meu nome tantas vezes que nem consigo contar.

[15:04] Sana: Agora me sinto usada, traída, eu achei que significava algo pra você, mas como sempre você leva nosso amor como brincandeira, era algo sério pra mim.

[15:05] Sana: Talvez eu sempre fui isso, uma boneca que você usa e joga fora, como os inúmeros brinquedos que você tem no porão.

Frequento uma escola diferente da de Tzuyu, o que é uma bênção, porque não tenho interesse em vê-la nem suas amigas no colégio. Tzuyu frequenta uma escola para onde muitas famílias ricas mandam os filhos. Eu estudo numa escola que só aceita alunos que se saem bem no exame de admissão. É difícil entrar, você tem que ser inteligente. Dinheiro não consegue comprar vaga numa escola especial – ou numa universidade, se for o caso. As amigas na escola devem estar paparicando Tzuyu, perguntando que tipo de vestido irá usar. Tzuyu deve adorar a atenção, exibindo seu anel nos intervalos entre um problema de matemática e outro, para os quais ela precisa de ajuda para resolver. Me sinto traída por ela. Não sei como conseguirei seguir adiante. Ouço uma batida à porta.

MINE: Se você pudesse ser minha. - SaTzuOnde histórias criam vida. Descubra agora