6- Sacrifício.

3.3K 374 206
                                    

Eu não sei se Jeongyeon virá me ver hoje. A mensagem de texto que enviei para ela foi sincera e ela concordou em se encontrar comigo, mas sempre há a possibilidade de ela não aparecer. Eu não planejei nada, mas se houver algum jeito de ficar com Tzuyu, farei tudo o que for preciso. Tomo um gole de refrigerante. Não pude pensar em outro lugar para o encontro exceto o Max Burguer. Estou sentada no andar superior, perto do parquinho das crianças. Dois garotinhos brincam na piscina de bolinhas, e eu espero que eles não sufoquem debaixo delas.

Numa mesa próxima, duas garotinhas estão mostrando para a mãe o brinquedo que veio com o lanche delas. Normalmente é um personagem de desenho animado de boa qualidade. Tzuyu às vezes pede o lanche infantil apenas por causa do filme. Seu favorito é Toy Story. A gente sempre assiste juntas, os filmes são em inglês, então eu faço o meu melhor para traduzir para Tzuyu. Ela nunca usa os óculos para ler as legendas, mas não importa. Meu inglês não é o melhor, mas Tzuyu sabe inglês tão bem quanto Japonês, ou seja, quase nada.

– Oi, Sana chan – Jeongyeon diz no mesmo instante em que uma bolinha vermelha voa da piscina e atinge minha cabeça.

Um dos garotinhos me olha como se pedisse desculpa, enquanto o outro dá risada. Jeongyeon sorri, mais da minha expressão do que por eu ter sido atingida pela bolinha. Ela se senta diante de mim. Está deslumbrante, mas ainda me sinto constrangida e tenho dificuldade para olhá-la nos olhos.

– Obrigada por vir me encontrar – eu digo.

Jeongyeon mantém as mãos sob a mesa, e eu me sinto grata, embora ela não faça isso por minha causa.

– Estou feliz por vê-la de novo, Sana. Nós não tivemos muita chance de conversar na festa.

Ficamos em silêncio, e já que fui eu quem marcou o encontro, eu realmente deveria começar a falar. Ensaiei o que queria dizer, mas agora que estou cara a cara com Jeongyeon, as palavras não querem sair.

– Você quer um hambúrguer? – eu pergunto, e ela parece se divertir.

– Não estou com fome, e por algum motivo, não acho que vim aqui para comer – ela diz.

Evito contato visual e olho novamente para as duas garotinhas e a mãe, comendo seus hambúrgueres.

– Bem, Tae me disse que, hum... que você, uh, era... O que eu quero dizer é que é realmente bacana... você sabe, as coisas que aconteceram e que você é... hum, que você...

– Que eu sou transexual.

Eu fico boquiaberta diante da facilidade com que Jeongyeon declara isso. E se alguém tiver nos ouvido? Ela não tem medo?

– Sim. Isso.

– Eu presumi que você tivesse descoberto. Você começou a agir de maneira distante comigo no fim da festa.

Eu me sinto horrível. Aquilo foi muito babaca da minha parte, eu não tinha preconceito com ela, não deveria, eu sou gay e ela é trans, qual é o problema? Eu deveria ficar ao lado dela de todas as formas.

– Taehyung me disse.

Ela assente com a cabeça e parece murchar um pouco.

– Ele não deveria ter feito isso. É algo particular. Quero dizer, sinto orgulho de quem eu sou, mas não anuncio isso para todas as pessoas que eu conheço.

Eu sinto que ela está desapontada tanto pelo fato de ter sido Tae quem, sem pensar, revelou seu segredo quanto por eu ter descoberto. Eu deveria estragar mais uma das camisas de Tae só para ensinar uma lição a ele. Ela arruma seu vestido no corpo mesmo que ele já esteja perfeitamente moldurado, é como se quisesse lembrar todos à nossa volta que deveria realmente estar usando um. Ela é uma mulher e ponto final.

MINE: Se você pudesse ser minha. - SaTzuOnde histórias criam vida. Descubra agora