16- Casamento.

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O salão de cabeleireiro cheira a spray de cabelo, removedor de esmalte e açúcar. Essa combinação é o cheiro que eu sempre associarei com desapontamento. A senhora Chou continua rondando a cadeira de Tzuyu enquanto a maquiadora estressada tenta agradar a ambas, o que é quase impossível. Tzuyu insiste em que precisa de mais rímel, e a senhora Chou lhe diz que, se passar mais, vai ficar parecendo uma prostituta. Eu olho para o meu reflexo enquanto minha cabeleireira me censura em voz alta por meu cabelo estar tão seco. Eu gostaria de dar um soco nela, mas não tenho energia para isso. Tomei um dos antidepressivos de Oppa, para acalmar a sensação de náusea em meu estômago.

Espero que ele não perceba, mas hoje estou disposta a arriscar. Lee deve chegar a qualquer momento, para buscar sua noiva na Mercedes que ele alugou para a ocasião, e Tzuyu está ficando cada vez mais agitada.

- Fique quieta, Tzuyu! - repreende a senhora Chou.

Eu não deveria estar aqui.

Engulo todo meu choro.

Tzuyu bufa, à beira de um ataque de raiva. Faz duas horas que elas estão discutindo. As outras mulheres no salão tentam conversar educadamente, as vozes se sobrepondo ao barulho dos secadores, mas a tensão é visível. Duas das amigas de escola de Tzuyu estão aqui. Eu já as vi em festas de aniversário ou em passeios ao shopping, mas acho que Tzuyu as enxerga como amigas "reserva", daquele tipo que serve só para passar o tempo. A cunhada da senhora Chou e uma prima também estão presentes, junto com as outras duas de maquiagem carregada. As duas sempre olham para mim como se eu fosse uma pobre órfã desamparada. Eu as odeio.

- Se você colocar mais sombra, então eu vou mesmo ficar parecida com uma prostituta - Tzuyu rosna. - É isso que você quer? Ele já está gastando dinheiro suficiente comigo. Acho que as pessoas vão entender a mensagem sem todo esse dourado nas minhas pálpebras.

Eu sei que isso é difícil para ela. A senhora Chou belisca a cintura da filha, e Tzuyu se levanta um pouco da cadeira. Acho que a senhora Chou a teria estapeado, se isso não fosse arruinar a maquiagem de Tzuyu.

- Acho melhor colocar o vestido - murmuro para que a minha cabeleireira pare de falar sobre o condicionador que eu deveria estar usando.

- É uma ótima ideia, Sana! - Tzuyu diz enquanto salta da cadeira. - Vou com você.

A senhora Chou está soltando fogo pelas ventas.

- Por que você não espera Sana se trocar primeiro?

Tzuyu lança um olhar para a mãe que poderia congelar o deserto.

- Eu preciso de ajuda com o meu vestido - ela sibila e me arrasta até o cômodo dos fundos, onde todos os vestidos estão pendurados.

Ela tranca a porta atrás de nós e esfrega as têmporas, gemendo.

- Pelo menos depois de hoje, ela não vai mais poder mandar em mim.

- Sim, seu casamento tem muitos lados bons...

Eu toco o rosto dela suavemente e Tzuyu se inclina para pegar minha mão.

- Eu não estou borrando sua maquiagem, estou? - pergunto, preocupada de verdade com a possibilidade de a senhora Chou ter um ataque de raiva.

- Eu não ligo - ela sussurra, e beija a palma da minha mão. - Vamos acabar com isso hoje.

Eu imagino que ela vai falar o mesmo para Lee esta noite, quando ele quiser mais intimidade. Que casamento mais promissor. Ela começa a se despir e eu absorvo cada curva, cada parte dela que Tzuyu enxerga como defeito e eu vejo como uma revelação.

- Pare de encarar, Sana. Isso pode nos fazer ficar mais tempo aqui... - ela ri, mas eu não sinto vontade de rir.

Ela entra no vestido que tirou cuidadosamente da arara, o puxa para cima e me pede para fechar o zíper. Eu me aproximo bem dela, deixo um beijo em suas costas e abaixo a mão para puxar o zíper. Minhas mãos acariciam seus ombros expostos. Eu posso sentir sua pele arrepiada sob a ponta de meus dedos.

MINE: Se você pudesse ser minha. - SaTzuOnde histórias criam vida. Descubra agora