Disparos de tiros.
As sirenes das duas viaturas soavam bem alto, alternando com o barulho dos pneus, numa melodia enlouquecedora.
A adrenalina tomava conta do meu corpo. Era uma mistura de raiva, medo e sei mais lá o quê.
- Eles estão atirando, Arbogast! - Gritou o soldado Lima pelo rádio transmissor.
Olhei para o soldado Oliveira que estava ao meu lado. Não havia outro jeito, teríamos que revidar os disparos dos bandidos, mesmo sendo arriscado, pois estávamos na via Estrutural, por volta das 22h e no meio do percurso passavam vários carros. Meu medo era acertar algum cidadão inocente.
- Tenta atingir nos pneus! - Me ordenou o sargento Lima.
Era a primeira vez que eu estava em um confronto armado com criminosos. Tudo parecia mais fácil no treinamento. Mas na vida real era diferente. O gosto amargo da morte estava no meu paladar. Eu tinha que me preocupar não só com a minha vida, mas também com as dos meus colegas e das demais pessoas que transitavam em seus veículos pela via.
Os disparos contra nós se intensificaram. O motorista da minha viatura desviava com habilidade. Respirei fundo, coloquei a mão para fora e de uma forma bem rápida mirei nos pneus e efetuei vários disparos.
Errei. Mas não desisti. A perseguição continuou.
- Temos que pegar esses vagabundos! - sargento Lima disse pelo rádio transmissor. Era visível a sua raiva.
Eu continuei a atirar. Confesso que não era fácil acertar o alvo em movimento. Estávamos relativamente próximos ao carro dos marginais, mas muitas vezes eu enxergava apenas um borrão, pois eles dirigiam em zig zag, costurando entre os outros automóveis, o que era um perigo.
Meu coração batia a mil por hora. O suor descia. Mas minhas mãos continuavam firmes.
O retrovisor da nossa viatura foi atingido.
- Droga! Atira sem dor! - Esbravejou Sargento Lima.
Eu obedeci. Mas dessa vez a nossa viatura passou por um buraco e o tiro que seria para os pneus acertou o vidro traseiro do carro dos criminosos.
Foi aí que tudo aconteceu.
Os delinquentes dirigiram o carro para a direita em direção ao acostamento. O retorno para a Cidade do Automóvel estava próximo. Eu percebi na hora qual seria o plano deles. A curva era perigosa, mas seria ideal para conseguirem escapar de nós. Isso não podia acontecer.
- Reforços confirmados! - Sargento Lima nos avisou.
Mas uma fatalidade aconteceu.
Uma moça estava no acostamento. O pneu do seu carro havia estourado e ela estava próxima ao seu automóvel, falando ao celular, possivelmente pedindo ajuda.
Os elementos não conseguiram desviar. Ela tentou correr, mas foi atingida.
Eles perderam o controle e capotaram em seguida.
As cenas foram gravadas pelas câmeras de segurança da estrada e seriam reproduzidas em todos os veículos de comunicação e por minha mente para sempre...
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Um Certo Arbogast
RomanceDrika Santos tem 27 anos, negra de cabelos cacheados e volumosos, olhos castanhos, sorridente, é professora do 3ª ano numa escola particular em Brasília, os pais a pressiona a passar em um concurso público, só que seu desejo mesmo é ser escritora. E...